Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Ainda sobre o III Encontro dos Ex-seminaristas

Edição nº 1728 - 22 de Maio de 2020

O Seminário do Santíssimo Redentor está na minha vida não como uma tatuagem explícita no peito que só a cirurgia plástica apaga, mas como uma marca indestrutível. Bem mais profunda, uma chama eterna de Santo Afonso que impregna o coração. 

 

Molecote, nos meus 12 anos, convidada pela catequista Zélia Amaral, irmã do saudoso Mons. Saul Amaral, a sala toda esteve presente no lançamento da pedra fundamental do Seminário, em meados dos belos anos 60. A comunidade se juntava às autoridades constituídas para o grande evento que seria realizado no dia 14 de agosto de 1960, em uma colina do lado norte da cidade, que uma vez denominei de Getsêmani.

Próximo àqueles tempos a vocação sacerdotal bateu às portas de nossa casa, na pessoa de meu irmão, de saudosa e inesquecível memória, Antônio Júlio, quando matriculou-se no Seminário São José, de Uberaba, pela falta de uma casa de formação em Sacramento, o que só aconteceria no Dia de Santos Reis, em 6 de janeiro de 1959, quando o provincial, Pe. Ribola, festivamente, com a comunidade, inaugurava as instalações de uma Casa Redentorista no Triângulo Mineiro.

Era o Pré Seminário Redentorista. Ali na casa da dona Rosa da Matta conheci dois grandes homens de Deus, Pe. Antônio Borges de Souza, Seu nome é quase uma lenda na vida espiritual da cidade, árvore de cerne da qual brotou o futuro Seminário do Santíssimo Redentor; e Pe. Bonotti, o ‘Pe. Artur das Historinhas’. Alguns anos depois, tive o prazer de uma convivência maior por tê-lo como professor de Filosofia no Curso Normal (Magistério), na Escola Estadual Cel. José Afonso de Almeida.

Tempo fértil de vocações. Pe. Antônio e Bonotti arrebanhavam meninos para o Pre Seminário. São dessa leva vários colegas que concluíam o 4º ano primário no Grupão (EE Afonso Pena Jr) e Ginásio da Escola Normal de Sacramento (EE Coronel José Afonso de Almeida) e iniciavam sua caminhada missionária: Hércio Afonso de Almeida, Ivo Januário da Costa, Olavo Caramori Borges, Wanderley Martins Borges e Luiz Carlos de Oliveira, que consagrou-se “missionário da ternura de Deus”, na bela expressão do papa, Francisco Bergoglio.

Por esses caminhos, também eu segui minha humilde e leiga missionariedade redentorista. Já erguido, o belo e majestoso prédio, Pe. Antônio cedeu uma das salas do prédio em construção para ensaio da banda ‘Os Corujas’, da qual fazia parte. Poucos anos depois, no início da década de 70, o reitor Pe. Alberto Pasquoto, honrou-me com o convite para integrar o corpo docente do Educandário do Ssmo. Redentor. 

Por longos e inesquecíveis anos, me enriqueci das virtudes tão preciosas, vividas e sentidas, do testemunho de tantos outros sacerdotes reitores e párocos: Pe. João Gomes, Gil, Éverson, Júlio, Vanin, Carrilho, Brandolize, Marques, Costa, Vicente, Inácio, José Milton... 

Passei esses indeléveis anos pelas cadeiras de Educação Física, Língua Portuguesa /Literatura e Teatro daquele Educandário, descobrindo e formando talentos para Deus e para a vida. Meio sem juízo, pouco dado, mas muito afoito às práticas pedagógicas, nossas aulas de ‘ginástica’ eram ministradas em caminhadas nos arredores, método que Aristóteles há mais de 2 mil anos denominou de ‘Peripatético’. Olha a ousadia do jovem professor! E madrugada afora, lá íamos alunos e um professor ‘foca’ correndo pelas ruas de paralelepípedo, praticando rapel pelas barrancas formadas pela terraplenagem do grande prédio ou atravessando em corda o então caudaloso ribeirão Borá, dependurados pelos braços e pernas... Valeu-nos Santo Afonso de nenhum seminarista ter ido parar na Usina do Cajuru!! 

Nas aulas de Língua Portuguesa, Literatura e Teatro fomos por vários anos o grupo mais ativo e presente das apresentações artísticas da cidade, começando pelo Festival Miniarte, uma seleta disputa de redações, poesias, pintura, storyboards, músicas inéditas e teatro, que sempre lotava o anfiteatro da casa. 

Foram muitos os espetáculos levados, a começar do belo espaço da Capela do Seminário, ainda em construção, onde apresentamos a peça, ‘Alienados’, texto que escrevi para focalizar a influência dos meios de comunicação sobre a juventude, apresentado também no palco do Seminário Santo Afonso, em Aparecida, em 1972.  Hoje, mudaria o título para ‘a influência das fake news de um presidente sobre a incauta classe média brasileira’. E muitos outros temas fizeram parte da dinâmica atividade artística daqueles jovens e talentosos seminaristas: Morte e Vida Severina, Nadim Nadinha Contra o Rei de Fuleiró, Cristificação do Universo, Catão, O Operário em Construção, O Milagre das Águas... 

Do carisma missionário dos padres redentoristas, com quem tive a alegria e a bênção de conviver por mais de 30 anos, fiz-me um cabreiro que bebeu a água da missionariedade, do amor incondicional a Deus, ao próximo e à copiosa redenção. 

Vivendo a amargura dessa pandemia que sufoca a garganta do mundo, neste III Encontro dos Ex-Seminaristas, deixo também meu abraço virtual de um reconhecimento profundo a todos os ex-alunos que frequentaram minha sala de aula naqueles inesquecíveis tempos. 

A essa irmandade afonsiana que um dia passou pelas terras de Pe. Victor deixando sua bênção de bondade e amizade tão raras e tão caras, pela confiança despejada num jovem professor socialista, discípulo de Hélder Câmara e da Teologia da Libertação, em tempo algum censurado pelos reitores por conta de textos e teatros na formação dos meninos... Pelo contrário, consagrando-me com o título de Oblato Redentorista, que humildemente reconheço não ser merecedor, minha eterna gratidão. 

 

Enfim, juntem-se a esses ex-alunos, formadores e missionários todos os funcionários que por ali passaram nas pessoas de Tio Pedro, Sandra Almeida e Dita com quem convivi naquele monte de Getsâmani,   inesquecíveis anos de minha vida, para também saudá-los com as bruzundangas do bricabraque do Brandão... (WJS)  

(*) Walmor js é professor aposentado e jornalista

 

 

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