Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

José do Carmo se emociona ao ver a capela de São Geraldo

Edição nº 1699 - 01 de Novembro de 2019

A capela de São Geraldo Majella foi inaugurada no dia 20 de outubro, no encerramento da festa do padroeiro do bairro, presidida pelo pároco da Paróquia de Na. Sra. da Abadia, Pe. Antônio Carlos Santos, que, junto com a comunidade muito se empenhou para a conclusão do templo. Construída na rua São Sebastião, a nova capela dá acesso também pelos fundos, através de um largo portão, com o bairro Júlia Terra, facilitando a participação dos moradores nas cerimônias ali celebradas. Uma alegria para os paroquianos do bairro, mas dentre todos, um estava o mais feliz de todos, José do Carmo Martins que, beirando os 90 anos, chorou ao ver a capela pronta, conforme narrou a ministra da Eucaristia, Maria das Dores Fontoura da Silva. Questionado pelo ET, ele admitiu que ficou muito feliz. “Graças a Deus, eu pude ver a nossa igrejinha pronta, fiquei satisfeito demais. Foi muita felicidade”. 

José do Carmo tem motivos de sobra para comemorar, porque, além de trabalhar muito ali, as terras onde se encontram a casa da Conferência Vicentina e a capela pertenciam a Claudemira Vicência de Araújo (Colode) e José Francisco (José Carreiro), pais de Maria Benedita, esposa de José do Carmo. Embora irregulares, as terras eram de domínio do casal.  

“Os moradores e um grupo de vicentinos queriam um terreno para fazer um salão, aí meus pais doaram, eles fizeram a casinha dos vicentinos e o barracãozinho que serviu de capela durante muitos anos”, explica Maria Benedita, revelando também sua felicidade. “Fiquei muito feliz, porque uma vez as vicentinas perguntaram o que queríamos aqui, talvez um barracão de festa, mas pedimos uma igreja, porque minha mãe gostava muito de rezar”. 

Maria das Dores Fontoura da Silva, moradora no bairro há 42 anos, recorda bem dos primeiros trabalhos para a construção da Igrejinha. “As vicentinas dona Bladina, dona Messias, dona Júlia e sua filha, Soninha, vinham trabalhar aqui no bairro e a gente rezava debaixo de uma árvore, em frente à casa da tia Antônia (Divino Inácio). E foi graças a uma iniciativa delas que tudo começou, primeiro com a capelinha, que até bem pouco tempo, foi usada para as celebrações”. 

Frisa Das Dores que o início de tudo tem a mão de muita gente.  “Outra mudança foi o nome do bairro. Historicamente, o bairro era conhecido por Baixada, depois da subida do morro, do centro da cidade até aqui, vinha esse plano, daí 'baixada', que era um corredor de gado, que só passou a ser São Geraldo depois que construíram a Capela. Os moradores foram à Câmara e aí mudaram o nome do bairro, criando ainda a avenida São Sebastião, recorda Das Dores, casada com José Eurípedes da Silva, buscando a confirmação de José do Carmo. “O Sô Carmo sempre trabalhou muito aqui, até bem pouco tempo ficava limpando o terreno”.  

José do Carmo recorda que, na época, ele, Divino Inácio e alguns moradores do bairro trabalhavam na fabricação de adobe (tijolo de barro e fibras naturais como a palha, capim) para construir a capelinha, quando mais uma vez as vicentinas deram a sua contribuição. 

“A gente tirava água da cisterna lá de casa, carregava até aqui pra fazer o adobe, pra levantar a capelinha. Era uma dificuldade. Foi quando as vicentinas começaram uma campanha para conseguir o material, tijolos, areia, cascalho. E assim nasceu o Salão Comunitário, que depois virou Capela. Divino Inácio era meu braço direito no trabalho aqui”, recorda Do Carmo, explicando que, para pôr o nome no bairro de São Geraldo Majella, ele, Divino Inácio, as vicentinas e alguns moradores foram até a Câmara Municipal fazer o pedido.  

 Hoje, José do Carmo, na sua singeleza e sabedoria em pessoa, daqueles católicos que têm Deus em primeiro lugar; daqueles raros homens que há anos se posta ao pé do rádio, para acompanhar através da Rádio Sacramento duas celebrações: a Consagração a Nossa Senhora Aparecida, às 15h, e a Reza do Terço, às 18h, com o coração tranquilo e sereno, pode dizer: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador', porque eu vi nossa Igreja pronta”. 


Dona Blandina conta como tudo começou
Em meados de 2011, dona Blandina Maria Alves (94 anos), registrou as memórias da criação da Comunidade São Geraldo, para publicação num jornalzinho que, começou a circular, mensalmente, na Paróquia de Nossa Senhora da Abadia, mas que não foi em frente. O documento encontra-se guardado em nossos arquivos e agora mostramos seu teor. Nele, dona Blandina conta como tudo começou, as pessoas envolvidas, etc. 
  De acordo com Blandina, o Salão São Geraldo foi construído pela comunidade, um lugar onde o povo pudesse reunir para rezar, ter lazer, discutir, se organizar para encontrar soluções para seus problemas e de suas condições, que, na época, eram sub-humanas. “Não possuíam água, luz, esgoto e nem moradia adequada. Eram desprovidos das provisões básicas para sua sobrevivência”. 
E foi nesse contexto que surgiram as vicentinas da Conferência Santa Madre Cabrine: Blandina Maria Alves, Messias Guilhermina Gomes, Júlia Mateus Terra e sua filha, Sônia Maria Borges, entre outras, que, juntamente com os missionários redentoristas, Pe. Júlio Negrizzolo (1970/1972 e 1975/1978), Pe. Sebastião Reis (1981) e seminaristas partiram em ação junto ao povo necessitado”. 
O documento cita que “as primeiras famílias a aderirirem à empreitada foram o senhor Divino Inácio e dona Antônia, sua filha Terezinha dos Reis e filhos; senhor José do Carmo, dona Aparecida, José Eurípedes, Maria das Dores e outras. As reuniões eram para rezar e discutir o que a comunidade estava precisando e assim traçávamos as prioridades...”.
Conforme o cuidadoso relato de Da. Blandina, a primeira prioridade era melhorar as moradias. “Tudo construído a base de mutirão. As vicentinas e as pessoas da comunidade cuidavam da alimentação para os trabalhadores. Acabava uma casa, passava para outra (...). O material vinha quase todo de doação. O senhor Rodolpho Soares de Rezende doou toda a areia e cascalho. E assim foi”.
Prossegue assim o minucioso relato de Da. Blandina: “Finda a reforma das casas mais necessitadas, partimos para a construção do Salão Comunitário que também era prioridade. “Fomos até o prefeito, então Dr. José Alberto Bernardes Borges, pedir a regularização do terreno que confrontava com os fazendeiros da época, senhor Carmelo Stival, senhor Armando Manzan e, ao lado, o senhor José do Carmo Martins. O terreno estava com as medidas irregulares e foram necessárias algumas mudanças, como mudar a estrada dos confrontantes, porteira, colchetes, construir mata-burro (...) As vicentinas acompanhavam de perto a liberação do terreno, o que não foi fácil. Até que José Mateus Gomes (Zé da Água) mediu o terreno, foi feita a revisão da área e assim o terreno ficou legalizado. O Centro Comunitário já podia ser construído. (...)”.
 E de fato foi, também construído em sistema de mutirão. “O salão pronto, faltava o nome, que foi sugerido pelo Pe. Sebastião dos Reis, 'São Geraldo Majella', 
(Um santo redentorista, padroeiro das mães grávidas e conhecido na Itália como “o santo dos partos felizes'.  São Geraldo foi beatificado em 1893 pelo Papa Leão XIII e canonizado como Santo em 1904 pelo Papa Pio X – grifo nosso) 
e aceito com grande alegria por todos. (...) 
A inauguração foi uma verdadeira festa. Foi celebrada a primeira missa com a apresentação   da Congada, organizada pela família do Sr. Divino. O salão passou a ser o ponto de encontro da comunidade para a realização das missas, terços, reuniões, cursos, orientações à saúde, política, lazer, etc.”

Câmara aprova por unanimidade o nome de São Geraldo 
De acordo com relato da vicentina Blandina, a comunidade havia aprovado a mudança do nome do bairro, mas oficialmente, continuava como Baixada. “Em reunião foi discutido que precisaria oficialmente mudar o nome, pois a 'Baixada' agora fazia parte do passado. E, para isso, todos se organizaram e foram até à Câmara fazer o pedido ao presidente, na época, o vereador Azis Antônio dos Santos. No dia da reunião para a aprovação pela Câmara, o bairro em peso participou, ficando portanto, superlotado o salão da Câmara. Para a alegria da Comunidade, o projeto foi aprovado por unanimidade.”
Blandina finalizou o texto afirmando: “Já se passaram 35 anos e muitos dos desbravadores do bairro já partiram para o mundo espiritual, deixando aqui seus exemplos de fé, de coragem, de luta e, principalmente, o de ver nos irmãos mais necessitados o próprio Jesus Cristo. Cabe a nós segui-los e, sempre em oração, colocá-los nos braços de Deus”.