Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

De Sacramento a Aparecida a pé para cumprir promessa

Edição nº 1455 - 06 Março 2015

“A fé move o homem de Deus”. Isso é fato e uma explicação para isso foi a peregrinação de dois longevos devotos que caminharam 650 km em 14 dias para chegar aos pés da imagem milagrosa de Nossa Senhora Aparecida e cumprir uma promessa. Enfrentando sol, chuva e os riscos de sempre caminharem no acostamento das rodovias, salvo algumas bolhas nos pés, chegarem sãos e salvos ao Santuário Nacional. 

Falamos de Antonio Venâncio de Oliveira, 77, e Douglas Rosalin, o Toró, 65, que saíram de Sacramento na tarde do dia 31 de janeiro e chegam a Aparecida no dia 15 de fevereiro às 10h da manhã. Na verdade, eram três os romeiros, Mozair também iniciou a romaria, mas foi obrigado a retornar devido a um acidente, ao cair e quebrar o braço quando passavam por Pedregulho (SP). Dando suporte para os romeiros, o motorista, Joel Faria (Queijinho). 

Sem revelar a promessa, Venâncio diz que viveu uma das maiores emoções de sua vida ao avistar a Basílica quando chegou em Guaratinguetá. “Quando a gente avista o santuário a gente arrepia, dá vontade de rir, chorar, porque houve momentos que a gente pensou que não ia chegar. A gente rezava uma oração de Nossa Senhora todos os dias antes de sair, pedindo proteção. A intenção era rezá-la também nas paradas, mas chegávamos tão cansados, que não conseguíamos, mas sei que Ela nos entendia. E graças a Deus chegamos bem... Aí a gente não segura o choro,  ainda mais eu que sou 'meio manteiga'”, conta, agora sorrindo e mostrando no celular o trajeto que fizeram.

“- Caminhávamos uma média de 45 a 48 km por dia. Fomos pelo sul de Minas, passando antes por Franca e Itirapoã; depois entramos em Minas de novo, São Tomás de Aquino, São Sebastião do Paraíso, Monte Santo, Guaxupé, Santa Rita de Caldas, Cabo Verde, Bandeira do Sul, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, Itajubá e Barreiras, já na divisa com o estado de São Paulo; chegamos a Piquete, depois Lorena, Guaratinguetá e logo avistamos a Basílica”, recordando mais uma vez a emoção.

“- Aí a emoção invade a gente, de Guaratinguetá a Aparecida é um pulo e quando cheguei aos pés da santa as lágrimas desceram. Além disso a surpresa de encontrar lá a minha esposa Iracy, minha  filha Rosiney,  meu genro e minha netinha. Eu não sabia que eles iriam me encontrar lá, foi muita emoção”, relata. 

Aposentado, vivendo a ociosidade de sua idade, Venâncio viu que precisava de um bom prepara para enfrentar essa maratona. Partiu, então, para as caminhadas diárias. Às vésperas de sair, quase 15% de seu peso, estava caminhando uma média de 25 quilômetros por dia. 

“- Intensifiquei os treinos, cheguei a fazer 6 Km/h e andar 25 quilômetros por dia. Com isso perdi 15 quilos dos 95 quando iniciei. Assim foi também na caminhada. Iniciamos nessa marcha de 6 km/h, mas depois foi diminuindo, principalmente nos dias de sol muito quente ou chuvosos. E assim chegamos...”, conta, explicando a jornada do dia-a-dia.

“- Saíamos sempre por volta da uma hora da manhã e andávamos até por volta das 11 horas, meio dia. Almoçávamos mais cedo numa parada mais ligeira e continuávamos até um local onde o carro de apoio com o Joel já estava nos esperando para um descanso e um banho, se a parada coincidisse com algum posto de combustível. Depois do jantar dormíamos e à uma da madrugada reiniciávamos a caminhada...", conta mais, agradecendo por tudo ter transcorrido bem.

“- Graças a Deus não tivemos nada, a não ser as bolhas nos pés. Elas estouram e judiam. Tomamos chuvas, os calçados molham e aí piora. Andei uns dias de tênis, depois passei para uma sandália, que ajudou muito.  Em Guaxupé tive de ir a uma farmácia fazer curativo e lá comprei um paliativo, um 'modes' que coloquei sob as bolhas, isso ajudou bem a amenizar as feridas dos pés”. 

 

“Até hoje, me arrepio de lembrar...

Para Douglas Rosalin, o Toró, a peregrinação ficará para sempre na sua memória. “O Antonio Venâncio me chamou pra ir dirigindo, mas recusei, disse que iria a pé e foi a melhor coisa que fiz. Só de lembrar da chegada fico arrepiado. Lembro como se fosse hoje, chegamos em Guaratinguetá, a três km de Aparecida e avistamos o relógio da Basílica... rapaz, foi uma emoção tão grande que arrepio só de lembrar. Dá vontade  de correr, de chorar, mas segurei até chegar nos pés da santa e aí, sim, as lágrimas desceram”, relata emocionado, contando que só teve mesmo bolhas dos pés.

 “- Não tive dor nenhuma, só as bolhas nos pés, mas valeu a pena e digo uma coisa, eu não pretendo ir mais, mas  se fosse pra eu voltar eu iria em  menos tempo, porque já sei os pontos”, afirma, explicando que uma caminhada dessas deve ter no máximo três pessoas, que vão numa toada só. Seríamos três, mas o Mozair machucou, um apena, porque ele estava muito animado. E vou dizer uma coisa, fiquei admirado com o seu Antonio, 77 anos, hora nenhuma desanimou, isso é muita fé”, revela e acrescenta que emagreceu quatro quilos “e não quero recuperá-los, quero é emagrecer mais um pouco”.

De acordo com Toró, o carinho e atenção dos padres, dos romeiros foi imenso. “Falaram os nossos nomes, idades...”. E como aconteceu com Venâncio, Douglas foi recebido pela família, a esposa Vera, a filha Diana e o genro os apresentaram  para o povo. 

 

Há 12 anos, Antonio Venâncio e Toró participam da missa do Domingo de Ramos na Matriz de Nossa Senhora do Desterro no Desemboque e a saída já está programada para o sábado, dia  28 de março, às 18h,  para missa de Ramos no domingo (19).