Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Crime chocou a cidade: Padrasto mata a facada menor de 10 anos e fere amásia

Edição nº 1398 - 24 Janeiro 2014

O menor Guilherme Ribeiro de Paula (foto), 10, morreu na noite da sexta-feira, 17,  por volta das 22h40, vítima de uma facada  no peito desferida pelo padrasto Adilson Jair, 40, vulgo Vampeta. A mãe de Guilherme, Maria Aparecida Ribeiro, 38, foi atingida com golpes de faca no pescoço, no braço direito e na mãe esquerda ao tentar defender o filho, que diante das ameaças se escondera no banheiro. O crime chocou a cidade. Logo que aconteceu o fato, as redes sociais davam notícia da tragédia, o que para alguns configura-se como um crime hediondo com vários agravantes. Houve testemunhas e logo a PM agiu através de uma caçada a Vampeta, mobilizando um grande contingente e fazendo cerco em vários pontos da cidade, com a ajuda também de parentes e amigos que se sentiram agredidos com tão comovente assassinato. Guilherme morreu no banheiro da casa, local que foi preservado até a chegada do perito Marcelo Tomanink e o auxiliar de necropsia Hudson. O corpo foi encaminhado para o IML de Araxá acompanhado pelo pai Nilton Ângelo de Paula.  Mas o laudo só sai daqui 30 dias. Guilherme foi velado por familiares e amigos. A mãe que se encontrava internada na Santa Casa local foi levada ao velório por alguns minutos e retornou para o hospital. O corpo foi  sepultado às 16h, sob forte comoção popular.

 

Menor é a principal testemunha, outra pessoa que estava na casa fugiu

A testemunha, o menor MRM, 12, que veio de Goiânia passar férias com os primos, na rua José Gomes Mateus, na Cohab, presenciou o fato. Além dele, estavam na casa a  tia Maria Aparecida Ribeiro, o padrasto Adilson Jair, mais conhecido por Vampeta, o menino Guiherme e uma quinta pessoa que não sabe o nome, e que fugiu do local ao ouvir o barulho da sirene. 

O menor testemunha, acompanhado do irmão RRM, 22,  relatou,  que terminado o jantar, foi jogar vídeo game com Guilherme, enquanto Vampeta, Maria Aparecida e a outra pessoa estavam bebendo. O padrasto falou para Guilherme que havia pescado muito peixe e que quando Guilherme disse que não havia  pescado nada, se irritou e começou a discutir com Guilherme dizendo:

“- Você é criança, não fica enfiando o nariz onde não é chamado”. Em seguida,  disse para a mulher que uma hora mataria Guilherme. Segue a testemunha, dizendo que Maria Aparecida o aconselhou  a não fazer aquilo, pois Guilherme era seu filho e ele seu marido e Vampeta  ficou mais irritado.

Dono de uma coragem incomum para uma criança de dez anos, o pequeno Guilherme então disse uma frase fatal: “- Vira homem e vem me matar então”. Momento em que Vampeta se apoderou de uma faca e correu para cima de Guilherme que se trancou no banheiro. A mãe, Maria Aparecida, tentou impedir a agressão.  Com uma faca de serra nas mãos, Vampeta foi foi até o banheiro, mas Maria entrou na frente  dizendo que ele teria de matá-la primeiro pra depois matar seu filho. No banheiro, a criança gritava e pedia desculpas, mas  Vampeta disse que se Maria  ficasse na  frente, mataria ela e seu filho e desferiu-lhe golpes de faca.

A testemunha MR relata que ele e Maria Aparecida correram para a rua pedindo socorro e pouco tempo depois, Vampeta saiu da casa com um sorriso e disse: “- Matei”. E saiu caminhando normalmente como se nada tivesse ocorrido.  O menino diz que Maria Aparecida ficou sentada na calçada e ele entrou na casa. “Quando eu vi 'ele', estava fazendo assim hum, hum, hum, gemendo. Eu só vi sangue no chão, parecia que já estava duro o sangue no chão. Aí tentei salvar ele, foi aí que chegou a ambulância com a polícia e eu fui para fora... A outra pessoa que estava na casa com Adilson não fez nada para ajudar, quando escutou o barulho da sirene saiu em fuga”. 

 

Maria Aparecida foi socorrida por vizinhos que a encaminharam à Santa Casa, onde passou por cirurgia. O menor finaliza seu depoimento dizendo que Adilson agiu covardemente  e muito emocionado disse: “Eu não pude fazer nada, eu sou criança e fiquei com medo de ele me matar também”. 

 

“Que risco, que perigo, uma criança de dez anos oferece”

Nilton Ângelo de Paula, ao lado do filho Mateus (foto), logo após o sepultamento, conversou com o ET, mais como um desabafo. “É um baque muito forte. Espero que a justiça aja. Era uma criança, um menino, completamente indefeso. Que risco, que perigo, uma criança de dez anos oferece, ainda mais para um homem forte como é  o Vampeta. Onde já se viu um homem puxar faca para uma criança?”, questiona e diz mais: “Acompanhei meu filho ao IML e ele tem vários hematomas, marcas roxas  nas pernas e queimaduras nos braços, que os legistas suspeitam tenham sido feitas há uns quatro dias”.  O laudo sai em 30 dias. 

 

De acordo com Nilton, ele e a esposa, Maria Aparecida, estão separados há um ano e meio e o casal de  filhos foram morar com a mãe. Segundo Nilton, o relacionamento do padrasto com os filhos não era saudável. “O Vampeta e a Cida bebem demais,  ele não aceitava os meninos, viviam em atrito. Guilherme já havia reclamado isso. Eu procurei o Conselho Tutelar em outubro de 2012, aguardei uma providência que nunca veio. Quando houve a audiência da pensão alimentícia, eu falei do comportamento dela, falei que a menina estava sem estudar e não foi dada atenção”, afirma, lamentando e dizendo que após a tragédia, o Conselho lhe procurou para saber se precisava de alguma coisa. “Agora, não. Quando precisei, vocês não ajudaram”, lamentou.

 

Vampeta preso na MG-190

No local, assim que tomou conhecimento do fato, a PM se mobilizou reunindo vários  policiais e quatro viaturas, conforme consta do BO e saiu no encalço de Adilson Vampeta (foto) que teria tomado rumo ignorado. 

Vampeta  foi localizado e preso na MG-190, a aproximadamente  sete km da cidade e resistiu à prisão,  empurrando policiais, chegando a lesionar um deles e tentou evadir-se, sendo necessário o uso de técnicas de imobilização conforme o Auto de Resistência lavrado ás 3:07. Vampeta acabou preso e encaminhado para a Delegacia de plantão em Araxá, onde prestou depoimento. Consta ainda do BO, que Adilson,  no trajeto à DP, relatou que havia esfaqueado sua amásia  e seu enteado e  não se arrependia de nada e que faria tudo novamente.  

Em entrevista a TV Alterosa, o delegado plantonista, Vinícius Ramalho, da Delegacia Regional de Araxá, declarou. “Tenho pouco  tempo de profissão, mas nunca tinha ouvido nem  presenciado  tamanha frieza, isso vai ficar marcado”. 

 

Adilson Vampeta que estava preso em Araxá veio transferido para Sacramento, na segunda-feira, conforme informações do delegado Rafael Jorge, que reassumiu o posto esta semana depois de suas férias. Maria Aparecida Ribeiro prestou depoimento para o delegado Rafael Jorge na terça-feira (21) e, WRS, 59, testemunha que teria fugido por medo de Vampeta, depôs na quarta-feira (22).

 

Conselho Tutelar presta assistência a menor testemunha de crime

Thaís do Nascimento e Andréia Fernandes Nassimento, conselheiras membros do Conselho Tutelar, procuraram o ET no sábado, 18, para relatar os procedimentos adotados em relação ao menor MRM, 12, testemunha ocular do assassinato do menor Guilherme Ribeiro de Paulo, 10.

 De acordo com as conselheiras, no cargo há um ano e meio, elas foram acionadas pela polícia militar, às 0h14 mais ou menos, do dia 18, para acompanhar  um o menor que é  testemunha dos fatos.  “Fomos chamadas porque o menor que é testemunha,  se encontrava na delegacia e não havia nenhum maior responsável.  O irmão que é maior foi localizado e o acompanhou até Araxá para depoimentos”. As conselheiras explicam que o menor testemunha presenciou toda a  agressão.

“- Nosso procedimento é acompanhar a criança, procurar a família e todos foram encaminhados a Araxá. Pela manhã, procuramos o menor testemunha, que  junto com o irmão, foi encaminhado a um psicólogo. Demos todo apoio para a família, oferecemos psicólogo para a irmã da vítima, mas foi recusado. Fomos até a mãe que estava hospitalizada, mas não tivemos permissão dos médicos para conversar com ela ainda, enfim todo procedimento legal foi realizado por parte do Conselho”, disseram.

 

 As conselheiras explicam que até então, o Conselho não tinha nenhuma denúncia de que o menino fosse agredido pelo padrasto. ‘Não foi feito nenhum procedimento desse tipo. Atendemos a família uma vez em 2012,  mas por uma denúncia do pai Nilton, de que os filhos ficavam até tarde na rua. Mas de lá pra cá,  não recebemos nenhuma denúncia nem de vizinhos nem de familiares’, afirmaram.


Juizado da Infância e Juventude acompanha o caso

Os comissários  da Infância e Juventude, Antonio Anselmo da Costa Filho e Wanderley Ramalho  foram acionados por uma moradora, SPC, às 23h do dia 17, para que fossem ao bairro Cohab para resolver o caso de uma criança. 

De acordo com Wanderley, a ronda começa às 22h, passando por toda a cidade, locais de eventos, bares. “Estávamos chegando ao Bar Bambu,  quando fomos chamados pela dona SPC. Assim que chegamos ao local, nos deparamos com uma multidão e eles pediram para cuidarmos do  menino que tinha visto tudo.  O menino estava muito assustado, chorando e  não queria sair de lá, dizendo que queria ficar com o primo, mas nós o tiramos, levamos para uma sala no pronto socorro e ficamos com ele, porque os médicos estavam envolvidos na cirurgia da mulher. Conversamos e  tentamos acalmá-lo,  porque  ele ficava se culpando, dizendo que devia ter ficado com o primo pra salvar a vida dele”, explica, e diz mais: “Da sala do pronto socorro, fomos para a Delegacia, onde ele se encontrou com o irmão Rafael e todos  nós, mais uma testemunha que viu o Vampeta saindo da casa,   fomos  todos para a Delegacia de Araxá”. 

Wanderley explica que  tudo o que o menor relatou para eles na sala no pronto socorro, ele contou ao Delegado, em Araxá  e à TV que esteve no local. E apresentou o relatório de atendimento  encaminhado à Juíza da Infância e Juventude, Roberta Rocha Fonseca, e protocolado na segunda-feira (20), às 13h50.  Conforme o relatório, eles retornaram a Sacramento às 6h50 da manhã do sábado, 18. 

Wanderley, que é coordenador do Comissariado da Infância e Juventude, explica que   os comissários estão sempre à disposição da sociedade para qualquer tipo de proteção aos direitos e deveres dos menores. “Nesse caso, ao sermos chamados, não poderíamos ser omissos, mesmo se tratando de um caso grave, temos que enfrentar e buscar superar todas as dificuldades”, afirma, destacando que o menor ficou sob a responsabilidade do irmão e assim que forem liberados retornam a Goiânia.