Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Vândalos quebram imagens da Matriz do Ssmo. Sacramento

Edição nº 1423 - 18 Julho 2014

Autor é preso em flagrante na Igreja

Um misto de desolação, tristeza e revolta são adjetivos que definem o sentimento do sacramentano, sobretudo da comunidade católica, na tarde da quarta-feira, 16, depois que dois  homens entraram Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria, por volta das 16h30,  e quebraram todas as imagens sacras do templo, inclusive a da Padroeira da Cidade, Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento. 

Some-se à  comoção religiosa que a ação causou, o prejuízo artístico-cultural, porque algumas imagens são centenárias e  tombadas como patrimônio histórico. A imagem da padroeira da cidade é de 1857. Ao todo, foram destruídas dez imagens sacras:  Santa Terezinha, datada de  1930;   São Vicente de Paulo, de 1902; Profeta Simeão, do final do século XIX; São João Evangelista, São José e Sagrado Coração de Jesus dispostas no  fundo da igreja. No presbitério foram quebradas outras quatro imagens, a da Padroeira, uma imagem talhada em madeira, do final do século IXX; o Arcanjo Miguel e outros dois anjos colocados ao lado do Sacrário, além de móveis e castiçais danificados. A exceção da imagem da Padroeira, as demais são de gesso. 

 

O pároco, Pe. Sérgio Márcio de Oliveira, não estava na cidade, cabendo ao vigário coadjutor, Pe. Gil Eduardo Araújo tomar  as primeiras providências, ligando para o arcebispo Dom Paulo Mendes Peixoto, que determinou que a igreja fosse lacrada para aguardar os procedimentos legais. Embora perplexo com a ação,  Pe. Gil não quis fazer acusações, mas acredita na intolerância ou até mesmo ato de pessoas sob o efeito de drogas. “Não quero fazer acusações, cabe à polícia fazer o seu trabalho, uma vez que houve a depredação de um patrimônio, o momento agora é de perdão, união e fé”, disse, destacando a preservação do tabernáculo. “Graças a Deus o sacrário não foi profanado”. 

 

Matriz reabre com ato de desagravo, procissão e missa, neste domingo

O pároco Pe. Sérgio Márcio de Oliveira (foto), em viagem, quando recebeu a notícia pela secretária do escritório paroquial ficou transtornado. “Quando Daniela me ligou não sei se não entendi direito ou se não queria acreditar. Quando falei com Pe. Gil, que me passou detalhes, fiquei pasmo, disse apenas: Meu Deus!”, afirma,  emocionado, destacando a preservação do  sacrário e a possibilidade de restauração da imagem da padroeira. “Ela é de madeira e por ter quebrado em partes maiores, é possível a restauração”.  Para as demais imagens, irmãs especialistas nesse trabalho, já estão na cidade vendo a possibilidade de sua restauração. 

Recentemente, a imagem da Padroeira passou por uma completa restauração a cargo do artista plástico, Cláudio Pastro, tendo retornado à Matriz em maio último, para a Festa da Padroeira, quando foi coroada por Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro. Imagem única no mundo com esse título, a Paróquia aguarda data para sua coroação pontifícia, que pode acontecer em Roma.

Surpreendente, nos danos causados pelos vândalos, foi que o ostensório da Virgem ficou intacto, preso à mão da imagem.  

Padre Sérgio, embora emocionado às lágrimas, prega o exercício da misericórdia que deve emanar de todo o povo. “Vi a foto do autor e tudo leva a crer que ele tenha alguma perturbação mental. A Igreja não condena pessoa, condena o ato e o ato dele é condenável, porém o grande sentimento não é de discórdia, creio que  as palavras que mais cabem agora para nós são as  de Cristo na cruz, diante daqueles que o pregaram: “Pai, perdoai-lhes! Eles não sabem o que fazem”, porque ele ou eles  não têm noção da dimensão  do ato,

Para o pároco, não houve apenas uma perda material. “É muito mais que uma perda material, ele atingiu a fé, o sentimento religioso, a religiosidade popular, a cultura, a história do município. E denomino este momento com três palavras: é momento de misericórdia para com aquele ou aqueles que fizeram isto;  momento de união dos fieis, no sentido de estarem solidário, chorar juntos (emociona-se ao falar), oferecer o ombro amigo  e, também, um momento de fé, porque é pela fé que vamos superar isso. Estamos feridos, machucados, abalados, mas a nossa fé não foi abalada. Mataram o corpo, mataram os nossos símbolos, destruíram aquilo que simboliza nosso sentimento religioso,  mas não mataram a nossa fé”, frisou.

Até domingo, dia 20, a Matriz segue fechada e nenhuma celebração será feita na paróquia. Uma única celebração será feita no domingo, às 18h, em frente à Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento, ainda fechada, o chamado ato de desagravo ou ato de reparação às ofensas contra a Igreja, seguida de procissão e missa às 19h00.  

“- Haverá a procissão silenciosa em torno da igreja com o Santíssimo Sacramento - visto ser a matriz do Santíssimo Sacramento. Logo a seguir, a Igreja será reaberta para a adoração ao Santíssimo e, em seguida, a missa, presidida pelo arcebispo Dom Paulo Mendes Peixoto e concelebrada pelos padres presentes”.  

No fim da tarde da quinta-feira, pela rádio Sacramento, padre Sérgio, não menos emocionado, agradeceu a imprensa nacional que esteve na cidade: os jornais Estado de Minas, O Tempo, Folha de São Paulo, UOl, Bandeirantes, Globo News, dentre outras. Agradeceu a solidariedade de todo o povo, inclusive de várias outras religiões e terminou com o convite para  a única celebração  do domingo, destacando  que será um momento de pedido de perdão, de penitência, mas sobretudo de fé. 

 

As pastorais da paróquia e grupo de oração convidam a população para estar presente com roupas brancas.


Mizael Felix, residente em Uberlândia, comete o crime por intolerância religiosa

Um dos autores que causou dano nas imagens, Mizael Rodrigues Felix, 20, natural de São João do Miriti (RJ), com endereço de Uberlândia, polidor de veículos, foi preso em flagrante pela PM, ainda no interior da Igreja. De acordo com o B.O., o autor relatou que “estava quebrando as imagens, devido ele ser protestante e que não gostava de santo de barro”. Afirma ainda o boletim que o “autor apresenta ter algum distúrbio mental”. Depois de ouvido pela autoridade e assinado o termo de comparecimento, foi liberado.

Diante do fato em si, sua repercussão e do assombro causado em toda a população, o delegado regional da Polícia Civil na instância de Araxá, Cezar Felipe Colombari, veio a Sacramento e ordenou novamente a prisão de Mizael, que acabou detido mais uma vez, no mesmo dia. O segundo autor continua foragido da justiça.

Respondendo emeio do ET, o delegado regional, Cezar Felipe Colombari, que trabalhou na cidade vários anos, lamentou o episódio, falando de sua tristeza. “Queridos sacramentanos, não sabem a tristeza que estou sentindo, pelo que fizeram à nossa Igreja. Assim que soube do fato, acionado pelo Sr. Prefeito, determinei a ida de um Perito Criminal ao local, bem como me desloquei de Araxá para Sacramento”, disse.

Segundo o delegado, ao descer da viatura no fórum local, foi avisado pelo escrivão, Reginaldo Manzan, que o autor estaria fugindo da cidade, já próximo ao Parque de Exposição. “Sai desesperado, mas guiado por Nossa Senhora que, incrivelmente, me levou até o autor do delito, na Rodovia, no escuro, onde, sozinho, o abordei e consegui prendê-lo. Logo em seguida, chegaram os respeitáveis representantes da Polícia Militar e me auxiliaram na prisão, algemando o autor, que estava rendido, nas margens da Rodovia. Levei o autor para a Delegacia e, meia hora após, já estava ratificada e lavrada sua prisão em flagrante delito. Ele encontra-se preso. As investigações, agora, prosseguem no intento de apurar se realmente havia uma segunda pessoa praticando o crime e quem seria ela”. 

Por fim, o delegado transcreveu uma frase dita pelo autor. “Gostaria de registrar, também, duas falas do autor: a de que "não devemos adorar imagens” e a outra, “o que fiz tornará a Igreja mais forte". 

 

Cezar Felipe finalizou afirmando: “E, neste momento, venerando a imagem de Nossa Senhora, tenho certeza de que minha fé só aumentou e que, sim, minha Igreja ficará mais forte...” 


O sentimento de perda e perplexidade dominam os comentários

Como é costume, havia pessoas na igreja, que testemunharam a  ação  do(s) vândalo(s). O funcionário da Paróquia, Wisney, uma das primeiras pessoas a chegar ao local, ainda a tempo de ver a prisão do autor, pela rádio Sacramento, por volta das 17h30,  relatou que assim que soube do ocorrida, correu para a matriz. “Na hora que entrei, deu um nó  na garganta. As pessoas que estavam na igreja estavam boquiabertas, algumas até choravam, pra gente que é católico foi uma cena triste”. 

No local, falando ao ET, o ex-pároco, Mons.  Levi Fidélis Marques, em visita na cidade, lamentou o ocorrido. “Uma tristeza imensa nos toca, porque passei por aqui e venerei Maria nessa  imagem da padroeira, que é uma relíquia, que tem  um valor histórico e sentimental imenso para a cidade de Sacramento e ao vermos tudo isso não temos como imaginar a pessoa que fez isso, só pode ser alguém que não esteja no seu espírito normal, agora é deixar nas mãos de Deus, Ele que vai determinar...”.

O ex-vereador Danilo Gonçalves  definiu o seu sentimento. “Parece que tiraram um pedaço da gente, um pedaço de Sacramento, a emoção é grande, muito triste que a gente quase nem tem palavras para definir o sentimento”. 

O ex-vereador e historiador Amir Salomão, mal pôde falar de seu sentimento. “Não tem explicação, a vontade que temos é de chorar, por outro lado temos que dar graças a Deus porque não mexeram no Sacrário, o lugar mais sagrado da nossa Igreja. Imagens históricas, uma riqueza cultural e religiosa, a gente restaura. Mas nunca pensei que, nesses quase 200 anos de história fosse acontecer esse registro, ver a padroeira da minha padroeira no chão,  toda quebrada...”. 

O prefeito Bruno Scalon Cordeiro, por meio de sua assessoria, divulgou Nota de Repúdio, confiando que as autoridades apurem o fato, que chamou de “ato criminoso, onde foram destruídos objetos religiosos seculares, imagens sacras, verdadeiras relíquias, inclusive, algumas tombadas pelo patrimônio público, como a imagem da padroeira do município, Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento”. E finaliza, reforçando o compromisso de agir sempre em defesa intransigente da lei e do patrimônio público.

O promotor de Justiça, José do Egito Castro Souza, durante entrevista ao ET, na quinta-feira, sobre a audiência pública, também lamentou a depredação da Igreja. “Como cidadão, vejo como um desrespeito total, um fato lamentável. A pessoa que fez isso,  ultrapassou todos os limites da moral e do desrespeito para com uma instituição, sobretudo,  religiosa, que merece o respeito de todos. Quanto ao aspecto jurídico, Dr. Cezar e Dr. Rafael, dois profissionais competentes, estão trabalhando no caso, que virá ao Ministério Público. Até agora, pelo que sei, extra-oficialmente,  isso caracteriza-se como  crime contra o patrimônio público,  histórico, cultural e de danos morais”. 

 

Nas redes sociais, centenas de comentários de pessoas de todas as religiões todos solidários com Sacramento.