Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Secretário Amir usa tribuna livre para comprovar história da cavalgada

Edição n° 1309 - 11 Maio 2012

O secretário de Cultura e Turismo do município, Amir Salomão Jacob, usou a  Tribuna Livre da Câmara Municipal, na reunião da segunda-feira, 7, para justificar solicitação feita àquela casa para denominar a Cavalgada de 1º de Maio, de Padre Júlio Negrizzolo,  pároco que instituiu, oficialmente, a cavalgada no dia de S. José Operário, em 1977.

Justificou o secretário, no enviado à Câmara, dia 26 de  março, o nome do ex-pároco, falecido o ano passado, “como justa homenagem ao seu criador e para que possamos realmente valorizar aqueles que passando por Sacramento, deixaram um memorial de benfeitorias que ainda dignificam o nosso povo”.

No ofício, Salomão faz um histórico, explicando que “em março de 1977, o então vigário de Sacramento, Pe. Júlio Negrizzolo e eu fomos a à cidade de Romaria. Passando por Nova Ponte, vimos ali um cartaz ou propaganda de uma festa tradicional daquela cidade, qual seja a Cavalhada. A festa “Cavalhada” de Nova Ponte suscitou de imediato na mente de padre Júlio implantá-la em Sacramento, como forma de congregar o meio rural ao urbana, numa festa única. Assim, ele promoveu naquele ano a primeira cavalhada de Sacramento, em 1º de maio, como fato de integração de toda a paróquia”.

De acordo com os fatos históricos, citados pelo secretário, a Cavalgada de 1º de Maio surgiu e se firmou como um “movimento religioso, repetido no mesmo ano, por ocasião do centenário da Festa de Na. Sra. d'Abadia, em 15 de agosto. “Fui o coordenador geral dos festejos. Essa segunda cavalgada foi proposta por mim, conforme documentação anexa. Nomes ligados a criadores de gado vacum e equinos muito auxiliaram o pároco nessa empreitada, cito de memória os senhores Orlando Mariano, Argeu de Melo, Anésio Benedito, Osvaldo Oliveira, (Alemão), Volmir Manzan e outros que no momento não tenho como precisar”, historiou. 

 

Marcelino Marra

 

No dia 16 de abril, 21 dias após a Câmara receber o oficio do secretário Amir Salomão, o vereador Marcelino Marra Batista apresentou, projeto de lei denominando de Orlando José de Oliveira (Orlando Mariano) a cavalgada de 1º de Maio”. Na sua justificativa, o vereador disse que Orlando Mariano “promoveu vários rodeios em Sacramento e na região e foi o idealizador da Cavalgada de 1º de Maio – Dia do Trabalhador e de São José Operário do qual era devoto por tradição paterna. Desejando que todos os operários fossem abençoados no dia do trabalhador, ele pediu ao então padre Júlio Negrizzolo que fosse até sua casa, no bairro do Rosário no dia 30 de abril, à tarde, na chegada dos trabalhadores para rezar um terço, dar a bênção aos mesmos, seguido de um lanche especial, no que foi prontamente atendido. 

Como os operários ficaram felizes, ele idealizou  para o ano seguinte fazer uma festa que abençoasse os operários e os trabalhadores rurais, surgindo assim a ideia de fazer uma cavalgada, novamente apoiado por Pe. Júlio Negrizzolo. A divulgação foi feita entre familiares, amigos e conhecidos e, contou com a bênção do Padre Júlio na porta da Matriz, participando também como cavaleiro”, justificou Marcelino, ressaltando que o fato não foi registrado.

“- Infelizmente, o fato não foi registrado. Naquele tempo, há trinta e poucos anos atrás, não contávamos com os recursos tecnológicos das máquinas digitais de hoje e esse evento simples que seria o começo da grande festa de 1º de Maio não foi registrado”. 


O que dizem as notícias da época...

 

A revista Destaque In, na edição de nº ....., de 19..... traz  matéria intitulada “Tradicional Cavalgada do dia 1º de Maio”, nela o editor historia a origem da data, que faz parte do calendário de lutas e sob o num título “Um Santo Operário: o começo”, diz “As primeiras cavalgadas foram organziadas pelos irmãos Alemão e Orlando Mariano, entusiastas da montaria esportiva nos rodeios de animais na chácara do Miguel de Oliveira na década de 60. 

O redentorista Pe. Júlio Negrizzolo, vigário da Paróquia entre março de 1975 a dezembro de 1978 foi o mentor da homenagem a São José Operário com cavalgada religiosa e missa solene na porta da Igreja. A edição nº 135 do semanário “O Estado do Triângulo”, de 8.5.1977 destaca na sua primeira página; “Paróquia promove grande espetáculo”, descrevendo a primeira cavalgada do dia 1º de maio: “Um convite a todas as comunidades católicas do município, o Pe. Júlio Negrizzolo, conseguiu reunir em Sacramento, no dia da festa de São José 300 cavaleiros vindos dos mais distantes pontos do município. (...)” ...”, escreve. 

A matéria da revista  segue com o depoimento de Volmir Manzan, de saudosa memória.  “As comunidades rurais eram identificadas com faixas levadas ao desfile “Eu e o Zé do Lico organizávamos os cavaleiros da Tapera. Do Chapadão, lembro-me do Paulo Tapira e irmãos, de Almeida Campos, os “Ferreiras” sempre animados, da Cachoeira, o Baianinho e tantos outros vindo de longe”. 

A revista traz  ainda a informação de que a partir de 1980, no vicariato de Pe. José Marques, a festa deixou de acontecer, sendo retomada  em 1990 com a chegada do missionário redentorista, Pe. Brás Romeiro Portes. E fala também da fundação dos Clube do Laço: “Em 1991, surge a Companhia  de Rodeios Clube do Laço imprimindo nova dimensão às festividades realizadas no Parque de Exposições  Hugo Rodrigues da Cunha e dinamizando as cavalgadas do dia 1º de Maio. (...) Em maio de 1993, realiza-se o primeiro concurso de beleza para escolher a rainha da Festa do Peão. Um desfile formado por 200 cavaleiros e aberto com o carro alegórico das quatro candidatas a rainha marcou as festividades do dia 1º de Maio, promovidas pelo Clube do Laço. A estudante Rosileia da Costa Borges foi eleita rainha da Festa do Peão.”

 

Secretário defende: informação histórica tem que ter comprovação 

 

Contrastando com a justificativa apresentada pelo vereador, segundo ele sem comprovação registrada, Salomão exibiu fotos e documentos que vão desde a década de 20, retratando as primeiras cavalhadas no município, até o ano de 2004, com imagens e textos.  “A gente que lida com história, è muito conflitante quando encontramos uma informação simplista. Ela é prejudicial para quem estuda a história. A informação simplista é aquela sem compromisso. Que a pessoa dá num boteco, numa praça... Agora, quando uma informação sai de uma Casa de Leis, quando é histórica e sai num jornal,  numa igreja..., ela tem que ter um mínimo de responsabilidade para se firmar e ser repassada à posteridade. Porque, futuramente pesquisadores terão dificuldade em compreendê-la, e, isso é complicado. E, a informação quando sai de órgão oficial tem que ter responsabilidade”, disse.

 O secretário lembrou aos edis  que no dia 26 de março remeteu diversos documentos à Câmara falando da Cavalgada de 1º de Maio. “Juntei uma documentação pesada, histórica, da criação dessa Cavalgada de 1º de Maio, criada pelo então pároco, Pe. Júlio Negrizzolo”. Amir questionou ainda   a informação da participação de Pe. Júlio na cavalgada de 1972. “O sacerdote veio para Sacramento no ano de 1975. Como ele participou da cavalgada de 1972?”. 

Depois de questionar a falta de informação histórica no projeto de Lei do vereador Marcelino Marra, para denominação da Cavalgada de 1º de Maio, o secretário ressalvou: “Não vim aqui contestar o nome que a CMS quer colocar na cavalgada. A Câmara é soberana para denominar com o nome que quiser. Vim apenas comprovar que não se despreza uma informação na Casa de Leis. A pessoa que está aqui deve se pautar pela lei, pela responsabilidade da informação. A informação é muito pesada quando sai de uma Casa de leis”,afirmou.