Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Cirene Nilza Miguel

Edição nº 1710 - 17 de Janeiro de 2020

A trabalhadora do lar, Cirene Nilza Miguel (foto),  morreu à 1h30 dessa madrugada de segunda-feira 13, um dia antes de completar 76 anos, e foi sepultada no Cemitério São Francisco de Assis, às 17h30, depois de receber homenagens do terno de Congada São Benedito e do Clube 13 de Maio, que cobriram o seu corpo no velório com as respectivas bandeiras. Nas homenagens, Delcides Thiago destacou os relevantes trabalhos prestados às duas entidades. As exéquias foram proferidas na parte da manhã por Pe. Otair  Cardoso da Cruz, que conheceu  muito bem Cirene e de quem sempre foi vizinho.

 De acordo com a filha, Íris Natiel Mião da Silva, Cirene fraturou a bacia e o fêmur, quando foi vítima de um acidente ocorrido dentro de um ônibus coletivo, no dia 28 de outubro do ano passado. “Depois de fraturar dois ossos, a bacia e o fêmur, Cirene foi hospitalizada na Santa Casa permanecendo internada até o dia 2 de novembro, quando foi encaminhada para o Hospital Regional de Uberaba, onde passou por cirurgia no Hospital Regional, no dia 7 de novembro, e recebeu alta”, conta. 

Prossegue Iris afirmando que, “após receber alta do hospital, retornou à casa, sem condições de andar. Permaneceu deitada até que surgiu uma úlcera no pé causada pelo diabetes, que a obrigou a retornar à Santa Casa, no dia 2 de janeiro. No dia 7, devido ao agravamento da ferida ela foi mais uma vez transferida para Uberaba, mas infelizmente não resistiu, vindo a óbito nessa segunda-feira 13”. 

Viúva de Claudionor Miguel há 43 anos, Cirene deixa os filhos: Cláudia, Claudiney, Claudeir, o Baiano (Patrícia) e Íris, filha do segundo casamento com Lucas Antônio da Silva, falecido há 15 anos.

Para os filhos, Cirene foi uma grande mulher. “Mamãe foi muito guerreira, trabalhou muito, porque quando ficou viúva, o filho mais novo tinha apenas um mês”, diz mais a filha Iris, informando que a mãe trabalhava como doméstica. 

“Trabalhando como doméstica, ela foi cozinheira na casa de dona Dirce Scalon, trabalhou até os 72 anos. Foi trabalhando que ela nos criou.  Sempre nos mostrou que temos que ser muito positivos. Ela nos deu um grande exemplo ao cuidar da nossa avó, Iracema, que morreu aos 104 anos, uma dedicação total. Ela era muito família, sempre preocupada e procurando saber dos irmãos, sempre  muito participativa na vida em família”, revela Íris e Cláudia completa: “Mamãe foi tudo. Era uma leoa defendendo suas crias. Sempre atenta a tudo e ajudando a todos”. 

 A filha Cláudia exalta o trabalho de Cirene como um grande líder da comunidade negra, sempre à frente dos movimentos. “Mamãe fez parte do grupo que fundou o Clube 13 de Maio, que criou o Movimento Identidade Negra e sua participação nos ternos de Congada, onde se distinguiu na Festa de Na. Sra. do Rosário. Também no Carnaval, sambando como porta-bandeira, entre as baianas e na velha guarda, foi sempre brilhante. Mamãe amava o Carnaval, sempre esteve na ativa! Depois que parou de desfilar continuou ajudando o clube, como voluntária ou como membro da diretoria e era muito participativa nos eventos”, recorda a filha Cláudia.

  A respeito do acidente no ônibus coletivo, Cláudia explica que corre uma ação na justiça porque, para a família, sua morte foi consequência do acidente sofrido. “Soubemos o que aconteceu através de pessoas que estavam no ônibus. Ela tomou o ônibus na av. Capitão Borges, no ponto da Medicinal. Idosa, carregando algumas sacolas e com uma sobrinha pequena, quando o ônibus fez a curva para entrar na av. Vigário Paixão, ela desequilibrou e caiu”, relata Cláudia.  

 

 

Perdemos um dos esteios do nosso patrimônio...

Delcides Thiago (Cid) foi que proferiu a mensagem em nome da comunidade negra no velório, dizendo que sempre se espelhou em Cirene. “Conheci Cirene já no trabalho cultural pela comunidade com Dalva, Izinha, Bigico, Macalé, Curtume, Desidério, Azor, João Caiana e outros, quando montaram uma escola de samba e de lá pra cá passamos a trabalhar juntos”, lembra, afirmando que Cirene foi uma educadora.

“Eu aprendi muito com ela, uma mulher muito dinâmica e que deixa um legado muito importante para o Movimento Negro. Era muito atuante, por isso sou a favor de que todo segmento tenha sempre uma pessoa mais experiente, pessoas da 'velha guarda', porque eles nos ensinam muito”, afirma mais, reconhecendo que foi uma grande perda para a cidade. 

 

“- É uma grande perda, uma tristeza imensa. Diria que perdemos um dos esteios do nosso patrimônio, porque ela foi um baluarte. E perdemos também um pedaço da nossa história, embora continuemos a dar continuidade a tudo o que eles começaram. Vamos continuar regando a semente que eles plantaram, que trabalharam para que nossa cultura chegasse ao patamar em que está”.