Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Intercambistas rotarianos falam de suas experiências

Edição nº 1683 - 12 de Julho de 2019

Os jovens intercambistas do Interact Clube de Sacramento, Maria Borges Melo e Pedro Henrique Magnabosco Nascimento, passaram um ano no exterior, em casas de famílias rotarianas. Ela. em Nuevo Casas Grande,  no estado de Chihuahua, no México e, ele, em Liège, capital econômica de Valónia, na Bélgica. Embarcarm em junho de 2018 e retornaram agora em junho. Na reportagem, eles contam um pouco sobre essa experiência.    

 

Família é sempre sinônimo  de amor, em qualquer lugar

Mariana - Durante um ano, eu permaneci com uma única família, pai, mãe, e uma criança de cinco anos, Mas o pai tem duas filhas, de 17 e 19 anos, do primeiro casamento. Eles não me deixaram mudar. Graças a Deus gostaram muito de mim. 

Pedro - Morei com três famílias, mas as duas primeiras eram praticamente uma,  devido ao parentesco. Minha irmã da minha primeira família é filha do  pai da segunda família. Então, toda semana eu mudava de família com ela. Mas, em março é me mudei para outra família, em Lo-Reninge.

 

Escola e estudos bem diferentes do Brasil

Mariana - Apesar de morar no México, eu estudei numa escola americana. Nuevo Casas Grande fica na fronteira com os Estados Unidos. Então, na escola era só inglês e em casa, o espanhol. A maior parte dos alunos da escola são gringos, americanos que atravessavam a fronteira para estudar. E muitos gringos moram lá, os pais trabalham nos Estados Unidos, mas moram no México. A burocracia para atravessar é grande. Todos têm passaporte e o visto que é obrigatório, sem isso não entram, embora a escola seja no México. Para ingressar na escola, os candidatos passam por um curso de um ano e depois fazem uma prova todinha em inglês, se não passar, não entra. 

Os professores são todos gringos, que preparam os alunos para estudar nos Estados Unidos, sobretudo em Harvard,  tanto  que o vestibular  é nos Estados Unidos, não  tem nada do México. Eu cursei o 3º ano do ensino médio, mas é muito diferente do Brasil. Lá estudam Contabilidade, Administração, Matemática 3, Física 5, Biologia, etc,  tudo muito avançado. O que estudam nos cursos de Engenharia aqui, eu estudava lá, o curso é  voltado para as grandes universidades. Lá são 12 aulas todos os dias, com todas as matérias focadas no  vestibular. Eu pegava o ônibus às 6h50, pra chegar à escola às 8h, saía  da aula às 16h30 e chegava em casa 17h30. Trocava de roupa, comia rápido e ia para o curso de Inglês e Espanhol. 

 

Pedro - Eu morei em Verlaine  e Oreye e estudei em  Athénée Royal de Waremme.  A minha rotina diária consistia em ir de ônibus e permanecer na escola das 8h25 às 16h. Eu tinha várias opções de matérias, mas escolhi Matemática e Ciências. Eram seis horas de aulas diárias dessas duas matérias, porque eram o meu foco. Matemática é muito puxado, mas nas demais matérias consegui sair bem, exceto Geografia e História. Lá ao contrário do Brasil, eu estava matriculado no 6º ano, que é o último ano do ensino médio (Colegial), que concluí lá. Na Bélgica, em muitas universidades não têm vestibular para alguns cursos, como engenharia, por exemplo, por isso eles valorizam muito Matemática e Ciências. 

 

Uma convivência que aos poucos foi acontecendo

Mariana - No começo foi muito difícil, porque a minha escola pertence à religião Mórmon, um ramo do protestantismo que tem muitas regras, disciplina. Já os mexicanos são católicos, embora alguns sejam mórmons. Tanto que os mexicanos que estudam lá são do Sul do México e vinham estudar no Norte, por causa da religião. No começo foi difícil a convivência, mas depois foi amenizando. Fui aprendendo as regras e a cultura deles e eles a minha. Na escola, toda semana acontecem eventos festivais, viagens, como forma de animar os alunos, então isso ajuda no relacionamento. Fiz muitas amizades, mais com jovens do Sul do México, que iam para lá estudar.    

O estudo é caro. Como eu disse, a escola é particular, da Congregação Mórmon. Eu não paguei nada por conta do convênio que eles mantêm com o Rotary Clube da cidade. Já os demais alunos pagavam um preço diferenciado. Os alunos mórmons pagavam 2 mil pesos, já os alunos que professavam outros credos pagavam de 7 a 8 mil pesos (Cada real vale cinco pesos – grifo nosso). Por aí dá pra ver o peso da religião para a escola. Uma coisa que atrapalhava um pouco era o frio, porque a região onde morei é um deserto. No verão é calor extremo e no inverno, o frio também. Eu não vivi, mas me disseram que a temperatura lá já caiu para -15 graus. Diziam que eu não vi nada de inverno. 

 

Pedro - Como eu já sabia falar francês, tive mais facilidade em fazer amigos. Depois de uma semana eu já estava entrosado com a minha turma de escola, consegui fazer amizades bem forte. O belga é muito parecido com o brasileiro, gosta muito de festa, de sair, passear em barzinhos, cafés, uma cultura popular lá. Então, meus amigos sempre me chamavam pra sair. Apesar de eu estar muito focado no estudo saia com eles.  A partir dos 16 anos, os jovens podem tomar cerveja e vinho. Outra coisa que tem muito na Bélgica, durante o verão, são atividades folclóricas, desfiles. Já no inverno, o pessoal é mais recluso, mais família, eu senti que há uma mudança de comportamento e espírito. 


Nós nos divertimos com o esporte e aulas de bailes

Mariana - Eu não tive tempo de praticar esportes, ficava na escola o dia todo, depois ia para o Inglês e Espanhol. Nos dias de eventos, festivais na escola, permanecia lá até às 21h. A escola não tem aulas de Educação Física, mas tem aulas de bailes folclóricos, que foi o que eu fiz. Tem também futebol americano, soccer (futebol), vôlei e basquete. Mas também não pratiquei. 

 

Pedro - Eu não gosto de futebol, o que decepcionou meus colegas belgas,  mas na minha escola tinha três aulas de Educação Física por semana e deu para praticar muita corrida, tênis de mesa, beisebol, vôlei e até um futebolzinho. 

 

Um distrito que mais recebe intercambista

Mariana - O Rotary de Nuevo Casas Grande não tem Interact, mas participei das reuniões das reuniões normais do Rotary Clube, assim como de todos os eventos deles programados e, também, das viagens rotárias. Enfim, eles foram muito bons para mim, porque me deixavam viajar com outros brasileiros.  Posso dizer que conheço mais o México do que o Brasil, porque foram muitas viagens, por todo o México, que não é um país grande, e também para os Estados Unidos.

 

Pedro - O Distrito onde eu estava é o que mais recebe intercambista do mundo todo. Não havia muita rotatividade de viagens, mas pude conhecer a Bélgica, que é um país minúsculo. Em duas horas você atravessa o país, eles possuem uma rede de trens muito boa, então dá pra conhecer o pais inteiro. Com o Rotary fui a Paris  e a Itália e pude também participar de eventos, atividades, ajudar nas promoções, porém lá não tem Interact. E o Rotaract é muito fraco, mas foi muito bom. 

 

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena

Mariana - Digo que as diferenças entre as pessoas, a cultura e a religião me fizeram amadurecer e ver que não é tudo igual no nosso entorno, temos que ver para amadurecer. Vendo como eles são, me fez pensar que eu também posso mudar. Valeu muito a pena!

 

Pedro - Vi que a vida não é determinada, que qualquer decisão que a gente toma, pode alterar completamente o rumo para aonde a gente vai. Também aprendi que o que pensamos que a vida é, não significa nada, porque existem muitas, muitas opções do que a gente pode ou não pode viver e se tornar. Ou seja, aprendi que a vida depende da gente, não importa onde estejamos, o que vai prevalecer é o seu jeito de ser, o seu eu.