Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dona Ivanda: 100 anos de uma vida de luta, superação, religiosidade e exemplos

Edição n° 1192 - 12 Fevereiro 2010

 

' Não gosto de tristeza.  A minha vida é muito boa.


Dona Ivanda Helena de Jesus completou 100 anos no dia 5 de fevereiro e comemorou a data ao lado  dos filhos, genros, noras,  netos, bisnetos, demais familiares e amigos,  com uma missa em ação de graças, na Igreja do Rosário e uma bela festa no sábado, 6. 

Natural de Carmo do Paranaíba, MG, ali Ivanda viveu até se casar com  José Martins Pereira. Depois mudou-se para São Francisco de Sales, onde nasceram os seis filhos. “A gente foi morar em São Francisco e os meninos nasceram lá, a Abadia, é que é a mais velha, depois os meninos e um já morreu”, conta. 

Com os cabelos brancos como algodão e com uma lucidez invejável, pode-se atribuir a longevidade de dona Ivanda à religiosidade. “Mamãe levanta cedo todos os dias, faz o cafezinho dela e reza o terço, reza pra todo mundo, todos os dias', conta a filha Abadia, 69. 

Abadia relata alguns  trechos da vida da mãe, a que atribuímos ser mais um fator importante para a sua fortaleza. “Mamãe sofreu muito, antigamente era tudo muito difícil. Eu tinha nove anos, morávamos em Ibiá, num rancho de capim, no meio do mato. Dinheiro não tinha, naquele tempo patrão nem pagava 

salário. A vida estava muito difícil, não tínhamos  roupas, calçados nem pensar. Papai estava desgostoso com aquilo e disse  que ia arrumar serviço noutro lugar. Ele pegou a enxada jogou nas costas e saiu com o meu irmão que tinha uns oito anos. Eu saí pra acompanhá-los, mas a medida que foi distanciando pensei na mamãe com os meninos mais novos, falei pro papai que  não iria e voltei. Papai e meu irmão nunca mais voltaram.  Ficamos lá no meio daquele mato, passando todas as necessidades. Esperamos uma noite, um dia, uma semana, um mês, meses,  anos  e nunca mais...”, conta, emocionada.

Diz Abadia que quem os socorreu, foram umas pessoas de Ibiá. “Elas levaram a gente pra cidade, nos deram comida e uma casinha, aí mamãe e eu fomos trabalhar,  lavar roupas, trabalhar e trabalhar. A vida melhorou um pouco. Quando eu já estava mocinha viemos pra cá, pra região dos Oliveiras, trabalhar nas lavouras de  café. Ficávamos a semana inteira num ranchinho no meio da lavoura.  Trabalhávamos  enquanto  dava pra enxergar”, conta mais.

Foi nos Oliveiras que Abadia conheceu Valtercides com quem se casou. “Mamãe foi morar conosco e ajudamos a criar os irmãos, que graças a Deus estão todos casados e bem”, diz emocionada, ao lado da mãe, que tem os olhos lacrimejantes. “Essa idade da mamãe é fruto do sofrimento para nos criar e da fé em Deus. Ela nunca perdeu as esperanças em Deus. Mora conosco desde que nos casamos,  há mais de 50 anos', justifica a filha e dona Ivanda emenda: 'Não gosto de lembrar dessas coisas,  não. Não gosto de tristeza.   A minha vida é muito boa”.

Muito feliz, dona Ivanda conta de sua festa de aniversário. “Foi uma beleza a festa, muita gente, ganhei muitos presentes. Ganhei até um Anjo da Guarda do padre Elcimar,  de Santa Juliana e amigo da família. Ele mandou pra mim. Foi o presente mais lindo que eu ganhei até hoje, porque rezo todos os dias para o Anjo da Guarda. “Meu Anjo da Guarda / bem aventurado / eu sempre  convosco / me tenho pegado. (...)  Meu Anjo da Guarda, / meu Jesus também, /livra me do inferno/ para sempre, amém”, recita abraçada à imagem do anjo e os olhinhos brilhantes de alegria.

Dona Ivanda é exemplo de vida, de luta,  de superação e de religiosidade,    não só para os filhos, genros e noras,  os 20 netos e 17 bisnetos, mas também para os amigos e conhecidos. 

Parabéns, dona Ivanda!!!