Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Descanse em paz Sr. Orlando

Edição nº 1190 - 29 Janeiro 2010

Sacramento e, de modo especial o Comércio, perderam uma de suas maiores referências , o Sr. Orlando Augusto da Silva, com quem tive a oportunidade de trabalhar em sua loja por quatro anos, de 1957 a 1960. Aprendi muito com ele, para quem não teve estudos formais e aprendeu na escola da vida, era um sábio. Ele tinha sempre disposição para ensinar tudo dos negócios para a gente. Lembro-me dele orientando-nos no atendimento ao cliente, desde o cumprimento seguido do, “Em que posso servi-lo?”, pedia para que mostrássemos os tecidos conversando com o cliente, dizendo quem o fabricou, o que era, se algodão, seda, linho, se era lançamento. Pedia para que exaltássemos as qualidades do tecido e do fabricante, mas que nunca usássemos de mentiras ou engodos.

Aconteceu um fato que já contei a algumas pessoas. Certa vez atendíamos clientes diferentes bastante próximos um do outro, ele ao desenrolar a peça de  tecido para mostrar ao seu cliente, uma parte do tecido ficou no chão. Eu, desavisado e entretido com o meu cliente, pisei na parte do tecido que ficou no chão, e saiu um diálogo mais ou menos assim:

- Ílio você pisou no tecido!

- Ah desculpe, não havia notado!

- Como? Você pisa no tecido e não nota?

- Pois é, a gente está de sapato e meia como é que posso notar?

- Ílio, a gente precisa aguçar a nossa percepção a ponto de pisar numa linha (essa de carretel) e saber ou sentir que estamos pisando nela.

Daí eu pude entender que, de uma maneira meio brincalhona, ele estava me dizendo que preci-samos ter percepção do chão que pisamos, do quê e de quem está a nossa volta e em que circunstâncias isso está ocorrendo.

Quando estava disponível gostava de ficar ouvindo ele atender aos viajante vendedores, os ar-gumentos usados etc., como também gostava de ouvir suas histórias entusiasmadas, quando chegava de suas compras na 25 de Março, em São Paulo, dos filmes que tinha assistido como, “O Homem que sabia demais”, “ Janela indiscreta”, sucessos de então.

Quando fui para São Paulo trabalhar, levei com cuidado uma carta de referências dele, bem co-mo, uma também do Sr. George Tormim Castanheira, gerente então do Banco de Crédito Real aqui, instrumentos deveras importantes, na época.

Eu lá residindo e trabalhando, sempre que ele viajava para lá fazia-me uma visita no banco ou me telefonava. Então ,eu ia até o hotel jantávamos, conversávamos, às vezes íamos ao cinema, um filme que vimos juntos foi, “Laurence da Arábia”. Na verdade, eu sentia que, na sua generosidade ou amizade, que ele torcia muito por meu êxito. E sempre que eu vinha a Sacramento Seu Orlando era uma das primeiras pessoas que visitava. Ele me falava de suas conquistas no campo material  levou-me para conhecer em construção a casa que hoje mora seu filho, Dr. Ayrton, ou ainda a sede própria da loja na Capitão Borges. Ficou dele para mim a lembrança de um homem voltado para o trabalho e para a família, hábil comerciante, que conhecia tudo de sua profissão e gostava de ensinar aos outros o que sabia.

Sr. Orlando, obrigado pelos ensinamentos e pela amizade, descanse em Paz.

 

Ílio Borge de Araújo