Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Filho de Cowboy, Cowboyzinho é

Edição nº 1687 - 09 de agosto de 2019

Aproximando-se as festas de agosto, o mês é marcado na cidade com dois dias especiais, o Dia dos Pais, e a Expogal. O primeiro fala do amor entre pai e filhos, o segundo do amor pelos rodeios. Com ambas, duas pessoas se identificam, pai e filho, tanto pelo amor mútuo como pelo amor a uma especialidade em comum, a narração de rodeios... Tanto que o pai é Cow-boy (Luiz Antonio Silva) e o outro Cow-boyzinho (Luiz Filipe Bonetti Silva), nas pegadas do instrutor, mostrando que 'filho de peixe...'. Aos 40 anos, com a voz ainda empostada e firme, o pai sabe dar emoção nas montarias; o filho, aos 16, saindo da puberdade e sujeito ainda a algumas naturais desafinadas... ambos mostram talento ao animar as noites de rodeio, misturando emoção nas montarias com versos de amor, como este de um de seus inspiradores, Marcos Brasil:

 

“Se mulher fosse dinheiro / Eu vivia pedindo esmola / Se chovesse mulher /

Eu arrancava o telhado fora / A loira me deixou e a morena foi embora / 

Só me restou nesta vida / Rodeio, cachaça e moda de viola”.

 

 

Falando em filho de peixe...

Cowboy relata que não é filho de narrador de rodeio, mas tudo começou em 1997, quando acompanhando outras feras da narração, como Sequinho e Pena Branca, adquiriu o gosto. “Eu acompanhava aquela turma ligada a rodeios, o Zezé, Dadinho, que trabalhavam mais na promoção do evento e os narradores, Sequinho e Pena Branca. Na época teve um rodeio no Cocal, organizado por Luma de Oliveira, uma 'pioa' deslumbrante, aqui de Almeida Campos, que ocupou na época várias páginas da Play Boy, e que acompanhava a tropa de Ricardo Oliveira, seu irmão... e me convidaram pra fazer a narração. Fomos Pena Branca e eu. Luiz Pacheco tinha um 'trio elétrico' (caminhão com som) e lá fui eu. Depois não parei mais. A gente sempre fazendo rodeios em Conquista e cidades vizinhas, como Pedregulho, Rifaina, Igarapava zona rural. Participando também das cavalgadas e aí fomos nos destacando.

 

Escola de narrador de rodeio...

não existe. A gente aprende ouvindo outros narradores. Eu, por exemplo, apaixonado pela arte da montaria, pelo prazer de ver grandes peões superando todos aqueles touros bravos e de ouvir grandes narradores dando emoção ao espetáculo, fui gostando cada vez mais. Olha, na verdade, fugia da casa da minha avó, na roça, e vinha pra cidade pra assistir rodeio. Ficava ali na beira da arena escutando, era o meu lugar preferido. Eu ficava ouvindo os locutores e pensava, um dia vou ser locutor. Quando me juntei com o Pena e o Sequinho, eles foram me dando oportunidade e eu deslanchei na profissão e não parei mais. É claro que não dá pra viver só com narração, não. Por outro lado, eu tinha meus trampos paralelos. Trabalhava para garantir o sustento. 

 

Ihhh, trabalhei em muitos lugares...

Olha, que eu me lembre, trabalhei na Renó, na Red Peças,  Honda, Silveira Multimarcas... Isso tudo aqui na cidade. Mas desde garoto estava misturado às lides rurais, nas lavouras, tirador de leite de madrugada, até que me transferi para a cidade, onde peguei outros trampos. Nos últimos anos, quando me firmei como locutor de rodeios, abri uma empresa de publicidade, com carro de som. Além disso, há ainda um resquício do trabalho rural. Pela experiência adquirida e pelos cursos que concluí na ABS Pecplan, trabalho também com inseminação artificial. Rodo as estradas pra essas fazendas todas fazendo inseminações.

 

O Cowboyzinho começou... 

um pouco mais novo que o pai. “Meu pai tinha 22 anos quando narrou seu primeiro rodeio. Eu era ainda meio moleque, só tinha 14 anos quando, numa festa da Expogal, entrei na arena com meu pai e tive ali minha primeira oportunidade. Incentivado por ele, não parei mais, me tornei o Cowboyzinho. E continuo até hoje, sempre que tem rodeio, dou uma palinha”. 

 

E aprendi ouvindo meu pai...

 “Meu pai tem razão quando diz que não tem escola de 'peão' narrador. A gente aprende ouvindo, na beira da arena, copiando as expressões chaves, as mais faladas, decorando tudo, porque na hora a velocidade na locução é muito importante. E a emoção vem à medida que o peão se segura em cima de touro pulador. Aí o locutor tem que extravasar. E fui assim aprendendo nas arenas e também pela TV, onde os profissionais de ponta atuam. Mas eu reconheço que meu grande incentivador foi e continua sendo meu pai, a que agradeço”, diz Cowboyzinho, ressaltando que o que marca o locutor, além da riqueza do vocabulário, é a voz. 


“Não existe narrador de rodeio...

sem voz rompante. O que marca   um locutor é uma boa voz, também a descontração, ser comunicativo, da timidez natural que todos carregamos um pouco, temos que nos transformar dentro da arena. E Filipe me surpreendeu desde quando começou, pois eu via nele muita timidez. Pensava comigo que ele não iria superar aquela inibição, mas ele me surpreendeu quando ele mesmo me pediu pra narrar um rodeio lá no Cocal. Entrou na arena e deu o recado. Fui o pai mais feliz do mundo”.

 

Cowboyzinho vai a Barretos... 

agora em agosto, na grande Festa do Peão, para narrar o rodeio mirim, informa, orgulhoso o pai, Cowboy. Barretos. “Ele está sempre participando de rodeios na região e tem sempre convites para rodeios nas cidades  de Jeriquara, Pedregulho, e o rodeio mirim em Barretos neste mês de agosto”. Filipe vibra com o anúncio do pai, expressando sua alegria. “Estou muito feliz, uma alegria incontida. Sinto-me muito lisonjeado, feliz e até emocionado, porque é uma emoção muito grande estar dentro de uma arena de rodeio. Agora é dar conta do recado”, diz, afirmando que a emoção vem na hora.

 

Os rodeios são marcados por...

muita música sertaneja e muita expectativa. Mas na hora que abre a porteira, o que vale são os jargões e a criatividade do locutor, mas de acordo com Cowboy pai, eles só vem na hora. “Quando a gente sai da arena, se perguntar a gente não sabe.   As palavras saem na hora da emoção, a gente não decora, não tem ensaio, porque cada rodeio é um momento, cada peão é único, então não tem como decorar. Na hora a lembrança vem. Você me perguntando, agora não lembro, mas na hora da emoção, vendo a cena, o peão em cima do boi, a multidão aplaudindo, gritando, a emoção explode”, diz Cowboy, com Cowboyzinho emendando: 'Lá em casa minha mãe teve três fio, cada um faz o que qué, / um nasceu pro rodeio, outro pro café. / Eu nasci pra locutor e beijar a boca das muié'.

 

As maiores emoções...

vão de cenas tristes aos momentos de oração. A assertiva é confirmada por ambos. “Sim, rodeios oferecem riscos para quem está na arena, pois é um esporte violento, embora hoje tenha toda segurança, com capacete e outros recursos, dependendo do tombo, o peão muitas vezes sai machucado”, diz Cowboy.  Já o filho dá graças a Deus por não ter presenciado nada de mais grave na arena nesses três primeiros anos de narração. “Nós, locutores, ficamos com o coração na mão diante de qualquer montaria, pois quedas há demais, a maioria sai ileso e graças a Deus nunca presenciei nenhuma tragédia na arena, mas fora, sim, e é muito triste. Meu pai, com seus 20 anos de rodeio já viu coisas bem tristes”. Cowboy confirma, explicando que existe toda uma técnica para o peão saltar do boi, mas o tombo sempre acontece. “São os oito segundos mais longos da vida desses peões”, afirma, citando que já presenciou situações dramáticas. “Já vi fatalidades durante minha narração, já vi morte, peão pisoteado e é muito triste. Isso marca muito qualquer locutor”, reconhece. 

 

“Mas há momentos gratificantes...

- completa Cowboyzinho, falando dos muitos peões que permanecem em cima do boi em tempos recordes. “O público vibra, aplaude e o peão sai da arena orgulhoso, com troféu, prêmios... Mas, para mim, o momento mais emocionante de qualquer Festa de Peão é quando todos os peões entram na arena, no início do espetáculo, levando a imagenzinha de Nossa Senhora Aparecida, padroeira dos peões. Momento de fé muito grande, momento muito especial, em que os peões colocam a sua vida nas mãos de Deus. Rodeio tem a hora de alegria, descontração, tem momentos de tristeza, e tem também esse momento de fé, de rezar mesmo, cada peão faz a sua oração e sua invocação a Nossa Senhora”, recorda, com o pai finalizando: 


“Nossa Senhora Aparecida...

Mãezinha querida do céu, em suas mãos coloco minha vida. Me ajuda a segurar sua mãozinha na hora da queda, me ajuda a permanecer no lombo do boi, no lombo do burro. Com fé e amor na profissão, não quero fazer desse momento nenhum maltrato com o animal. Só quero aqui ganhar a vida cuidando da minha família, num esporte radical que exige muito de mim, coragem e valentia. Me dá sua mão, Nossa Senhora Aparecida, me segura nas mãos de Deus e no lombo desse boi, porque tudo que faço é por amor a Deus e à profissão. A mim, minha Mãezinha, me ilumine na narração, saúde na voz e amor no coração. Amém!!”

Cowboy é o primogênito do casal José Devanir Silva   e Edna Maria Silva, pais de mais três filhos, Vãnia, Edilamar e José Cleomar. Casado com Aline Bonetti, o casal tem dois filhos, Luiz Filipe 16 e Maria Clara 10.