Beirando os 93 anos, completos agora em janeiro, o empresário aposentado e irmão evangélico da Casa de Oração, Olavo Luiz Miguel, realizou a viagem dos sonhos: uma visita a Jerusalém e outras cidades históricas de Israel, onde nasceu e morreu Jesus. Para contar como tudo aconteceu, Olavo recebeu o ET para uma entrevista, que não se limitou apenas à fantástica viagem, mas também um pouco de sua linda história de vida.
Natural de Santana do Paranaíba (SP), o penúltimo irmão dos 12 filhos de Joaquim e Francisca. E lá Olavo viveu por alguns anos, até que a família se mudou para Ituiutaba (MG), onde montou uma marcenaria, que chegou a ter 15 funcionários. Com o advento das grandes lojas de móveis, as marcenarias foram entrando em declínio por falta de demanda e altos impostos.
Empreendedor e dono de uma perseverante fibra para o trabalho compra um caminhão e passa a motorista de cargas. Poucos anos depois, enxergando futuro nas máquinas de beneficiar arroz, em uma das regiões mais prósperas para o cultivo do grão, Olavo entra no ramo, enfrentando uma concorrência de dezenas de máquinas na cidade, e o pior, o negócio dava sinais de que o ciclo do cereal em Ituiutaba estava no fim.
Como conheceu Sacramento
Depois de perambular com os pais por cidades de São Paulo e Mato Grosso fixou-se em Ituiutaba, onde se casou com Maria Luísa Rezende. Nos idos de 1970 Olavo Miguel conhece Sacramento através de um convite do amigo, Leonardo Nye, pastor que trouxe o protestantismo para a cidade, fundando a Casa da Oração e a obra social Vila Alexandre Simpson.
“- Nossa Igreja, em Ituiutaba, ajudava a Igreja de Sacramento e sua obra social, que atendia muitas crianças. Quando estava doente e de partida para a Escócia Seu Leonardo me fez um convite. 'Vem pra Sacramento, eu vou para a minha terra tratar da saúde e você pode nos ajudar na orientação da Igreja e na Obra Social. Além disso, temos a loja de móveis e dá pra você se virar'. E assim aceitei, ajudando na Igreja, orientando a Vila Alexandre Simpson, abrindo também a loja de móveis, Mobilar. E acabei fincando pé de vez na cidade com toda a família, a esposa .... e os filhos, as meninas Miriam (Rogério Jerônimo), Meire (Nilson Silva) e Lívia () ; e os meninos, Wilson e Paulo Roberto. Desde então, nada tenho a reclamar”, resume.
Vocação pelo Protestantismo
Olavo sempre revelou uma grande religiosidade, participativo e atuante na Casa de Oração. Vocação que é herança dos pais Joaquim e Francisca. “Um dia, meu pai abriu mão de tudo em Santana do Paranaíba e veio para Ituiutaba começar uma nova vida. Depressivo, meu irmão Olantino foi fazer um tratamento em Campinas. Ele foi e ficou. Um dia meu pai foi visitá-lo em Campinas e, passando por uma praça, pararam para ver e ouvir um grupo de pessoas cantando e orando. Resultado: meu irmão se converteu, ficou curado e passou a evangelizar a família, as pessoas”, recorda.
Na fazenda que meu pai havia comprado, havia uma casa de oração, construída em 1929, por um escocês, chamado Jhon Murray. A igreja voltou a funcionar e foi convertendo muita gente, tanto é que Ituiutaba tem um Protestantismo muito forte. Quando vim para Sacramento já era um protestante ativo e atuante, vinha muito a Sacramento, trazer ajuda para a Vila Simpson”.
A morte do Pastor Mr. Nye
A ajuda de Olavo para a obra de Leonardo Nye foi, sobremaneira, preciosa. Além de orientar a Vila Simpson e na Marcenaria Simpson viajava a negócios para Seu Leonardo. Lembra que, antes de ir a São Paulo, a pedido do pastor, em uma dessas viagens, orientou dona Cristina a levá-lo para a Santa Casa. “Pedi para a Cris levá-lo para fazer uma transfusão de sangue, antes de ir para a Inglaterra”, conta.
Rapidamente, acertou os negócios na capital paulista e retornou a Sacramento, preocupado com Seu Leonardo. Ao descer a rua na direção da Casa da Oração, percebeu a movimentação dos irmãos e perguntou aos meninos o que era aquilo e ouviu a triste resposta: “ 'O daddy (papai) morreu'. O chão sumiu dos meus pés. Nunca me esqueci da data, ele morreu em outubro de 1977, eu estava com a mudança pronta para vir definitivamente para Sacramento com a família. Um ano e meio depois Mr. William Gills também morreu. Os dois baluartes da obra”, reconhece.
“O que importa é o que trazemos no coração...
Olavo Luiz Miguel radicado em Sacramento, há 40 anos, desde 1976, ainda não é filho da terra, isto é, nunca recebeu o título de Cidadania Sacramentana. “Tenho um grande amor por Sacramento, cidade que me acolheu muito bem. Vim para ajudar num trabalho social e religioso, tive a minha loja Mobilar, as filhas são tidas como sacramentanas, casaram-se com sacramentanos, os netos são sacramentanos e isso é o que importa. Meu lugar é aqui. Sou grato por viver aqui. Título, isso não é nada, o que importa é o que a gente sente, o que trazemos no coração”, afirma convicto.
“Israel é o umbigo do mundo...
A afirmação é de Olavo, mostrando um profundo conhecimento da história bíblica. “Por que Israel é uma pedra do tropeço no mundo hoje?” – pergunta, respondendo: “É porque temos um 'livrinho', chamado Bíblia, que eu conheço o passado, o presente e o futuro. A Bíblia nos ensina tudo isso. Israel perdeu a posse da terra há mais de dois mil anos, mas não perdeu o direito e isso foi profetizado. No ano 30 da nossa História, com a invasão dos Romanos, os que escaparam se espalharam pelo mundo inteiro. Destruíram o centro da religião por causa da desobediência. E, foi profetizado que nos fins dos tempos eles iriam voltar para sua terra. E Deus dá e Deus cobra”, cita, afirmando que Deus não abandonou aquele povo.
“- Em 1º de setembro de 1933, Hitler invadiu a Europa, levando ao extermínio milhões de judeus. Por que os Judeus são tão odiados no mundo? É porque é um povo que Deus não abandonou ainda (Romanos 11). O senhor vai voltar. Não importa onde nem quando. Ele vai voltar. A vida de Jesus não foi tirada, ela lhe foi dada. E Ele sabia disso. Tinha que ser assim para a salvação do mundo...”, explica Olavo, completando: “O sonho de cada cristão é conhecer Israel”.
“Eu não acreditei...
E surgiu a oportunidade. “Eu assinava a revista Chamada da Meia Noite e eles fizeram uma excursão, só que eu não tinha condições na época. Muitos irmãos de fé já estiveram lá, sobrinhos, primos, mas eu nunca tinha condições e cheguei até a parar de pensar nisso, esqueci. Até que agora, no final do ano, meu cunhado, me deu a passagem. Eu não acreditei”, explica, ainda emocionado.
Olavo viajou como turista e assustou o pessoal da agência ao declarar a sua idade: 92 anos. “Todo mundo ficou assustado, diziam que não pareço ter essa idade, mas é essa idade mesmo. E tinha gente de 70 anos também... Foi uma viagem fantástica, de 29 de outubro a 5 de novembro”.
“Pisar as terras de Jesus foi uma graça...
Aterrissaram em Tel Aviv, a capital administrativa do país; no 3º dia passaram por Jaffa, do profeta Jonas; Cesareia marítima, Monte Carmelo; Galileia, onde Jesus passou sua infância, e Tiberíades. 4º dia, Seu Olavo se encantou com outras passagens, o rio Jordão, onde Jesus foi batizado por João Batista; o Monte das Bem aventuranças, Tiberíades e travessia do mar da Galileia de barco. Outras passagens inesquecíveis foram vividas no 5º dia, quando visitou o Mar Morte, Belém, onde nasceu Jesus e Jerusalém, onde morreu, a cidade histórica, a Via Dolorosa, o Muro das Lamentações. Nos dois últimos dias, a excursão passou pelo Monte das Oliveiras, Getsêmani, Jardim do Gólgota e Jerusalém, com retorno no 7º dia.
Para Olavo, pisar nas terras onde Jesus esteve foi uma graça. “A emoção, a alegria é grande. E foi tudo bem. Não senti nada, subia e descia as ladeiras, até em cisterna entrei pra chegar num túnel. Houve momentos que fiquei assustado e temeroso em entrar, mas não houve nada de anormal. Não tive nenhum problema de saúde, nada, nada. Um dos lugares que me impressionou foi a prisão onde Paulo ficou por dois anos, em Cesareia. Visitamos todas as ruínas. As construções são todas de pedra.
“Nunca fui tão fotografado...
O Muro das Lamentações me chamou a atenção também pelo tamanho das pedras e a sua altura, que deve ter no mínimo 12 metros. Não orei lá, mas milhares de pessoas ficam ali orando, inúmeros judeus e as aberturas são recheadas de bilhetinhos. As mesquitas também me impressionaram. Em muitos lugares temos que usar o quipá. Passei pela via crucis. Enfim, são tantos lugares que a gente nem acredita. Visitantes são milhares e o bom de tudo, é que nunca fui tão fotografado em minha vida, inclusive por turistas americanos. Acho que sou um dos mais idosos a fazer essa viagem...”, diz, sorrindo.
Olavo, gostou de tudo, ou quase. A comida, em certos lugares, não agradou. “Chegamos em Tel Aviv, cujo aeroporto é lindo. Hoteis muito bons e comida variada, para todos os gostos. Só não tem feijão e o arroz é uma papa. A água muito boa, toda tratada. A gente bebe água da torneira. Eles estão muito adiantados nesse aspecto. Têm quatro usinas de dessalinização, tecnologia deles, inclusive a de gotejamento. 30% da água de lá é do mar da Galiléia”, explica.
“Não vi policiais nas ruas...
O povo? “Difícil”, na avaliação de Olavo. “Os comerciantes são receptivos, eles gostam demais de dólares. Mas achei que a convivência entre palestinos e israelenses é harmoniosa. Para mim os conflitos que a mídia mostra são mentirosos. Israel não tem polícia como no Brasil, só o Exército. Lá todo mundo, homens e mulheres fazem o serviço militar, as mulheres dois anos e os homens três. Se lá fosse violento como a mídia mostra, não haveria turista e lá é um lugar do turismo. Em todo lugar que a gente chega há vários ônibus. E eu, só vi uma policial com a metralhadora nas costas”, recorda.
Como lembrança, Olavo trouxe três bolsas, uma para cada filha. O mais, comprei bugigangas, coisinhas e, claro, pechinchando. Eles têm a moeda do país, mas o que manda é o dólar. Comprei até tâmaras. Como dizem, 'Ir a Israel e não comprar tâmara, você não foi lá'”.
Para Olavo, a viagem valeu a pena. “Oh, que maravilha, meu Deus! Esse foi um sonho sonhado por anos e anos e que pude realizar... O lugar é fantástico, o Mar Morto, o rio Jordão, que é como nosso rio das Velhas!... É um lugar diferente de tudo o que a gente pode pensar...”, finaliza, mostrando mapas e roteiros ao repórter.
Por este rastro deixado na história Seu |Olavo é Personalidade do Ano.