Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dona Polda: Aos 99, ela ainda não abandonou a cozinha

Edição nº 1497 - 25 Dezembro de 2015

O dia 10 de dezembro é um dia de graças para Dona Leopoldina Bonetti da Silva, mais conhecida como Polda. Nesse dia ela completou 99 anos. Uma bênção, pela sua lucidez, saúde e alegria que esbanjou aos repórteres do ET, recebidos com um abraço dos mais cativantes e dando boas risadas ao lembrar fatos ocorridos há 20, 50, 70, 90 anos atrás...  E foi logo explicando o apelido, 'Polda'. “É por causa de um irmão,  que achava legal falar Polda e começou Polda, Polda até que pegou.  E poucos sabem que me chamo Leopoldina, até eu me esqueço...”

 

“Graças a Deus, tenho uma família  grande...
éramos 12 irmãos: José, Daniel, Olídio, Luiz,  Romano, Margarida, Maria Augusta, hoje só restamos Isabel 94 e eu. Três irmãos morreram crianças, Manuel, Henrique e Pedro”. Nascida na região da Gamela, 'de lá do córrego', conforme ela mesma explica, referindo-se ao ribeirão Borá, ali bem pertinho da cidade, pela saída do Santo Antônio. Polda é filha de Daniel Bonetti, que ficou conhecido por Antônio Bonetti, devido ao apelido Toim, que não tem nada a ver com Daniel. “Todo mundo pensava que ele se chamava Antonio e minha mãe se chamava Emília Holanda.

“Naquele tempo não tinha esse negócio de escola...
escola era pra rico. Éramos muito pobres, mudávamos muito. Nunca estudei, não sei ler nem escrever nada, só minha irmã mais nova, a Isabel,  estudou um pouquinho. E, meu irmão mais velho, depois de moço,  estudou um pouquinho à noite. Depois, ele ia dando explicação para os irmãos, mas como ele era muito nervoso pra ensinar, eu não quis aprender. Os números, graças a Deus eu aprendi, por isso  conheço  dinheiro” (risos).

“Lá era a fazenda do meu sogro...
onde cheguei aos 14 anos, depois de morar oito anos na Gamela”. Conta que a família passou por várias fazendas, até chegar à fazenda Rifaininha. “Lá era a fazenda do meu sogro, Jerônimo Cardoso, onde cheguei com 14 anos. Ali vivi a vida inteira, porque  me casei com o José Alves da Silva (Zecão Cardoso), de saudosa memória, e nunca mais saí dali”. Questionada como era namorar o José morando na mesma fazenda, num tempo em que a educação era bastante severa, Polda recorda contando como foi. “Ele não ficava lá, trabalhava na Mata do Carrapicho. Saía na segunda e voltava no sábado, quando vinha. Mas mesmo assim meus pais ficavam de olho...”, conta, dando uma boa risada, recordando com carinho da madrinha Leontina,

“Não teve retrato nem festa...

no meu casamento. Eu ia me casar, não tinha nada, nem uma pecinha. Minha madrinha foi quem me deu umas coisinhas. Meu casamento foi no dia 25 de março de 1935. A gente veio pra cidade, aprontamos  na casa do compadre Américo Cardoso, nos casamos  e voltamos pra fazenda. Não teve presente, não teve retrato nem festa... e vivemos casados por 65 anos. No dia 4 de outubro completaram 15 anos que perdi o Zé. Senti e sinto  muito a falta dele”.

“Graças a Deus tenho uma família grande...
com cinco filhos, mas na verdade, foram oito partos, pois perdi três, infelizmente, como natimortos”, conta. Da feliz união de Polda e Zecão sobreviveram os filhos, Balduino (falecido há dois anos), Valdomiro (Maria Aparecida), Maria das Dores (falecida há 16 anos), Natalina (Eulógio, de saudosa memória) e José. Os filhos lhes deram 21 netos, 43 bisnetos e nove tataranetos e revela que já está contando um outro tataraneto que chega neste final de ano. Graças a Deus, tenho uma família  grande”.

“Minha vida é ali...

 na fazenda, onde vivi mais de 70 anos de minha vida. Uma vida de muito trabalho, graças a Deus.  De carregar madeira, cortar e carregar lenha, carrear a cuidar da casa e costurar pra família e os vizinhos numa máquina manual. Da lida rural fiz de tudo. Agora é que não estou fazendo nada... Mas gosto da fazenda. Eu não queria vir pra cidade, queria arrumar uma pessoa pra ficar comigo, mas não deixaram. Só que tem uma coisa, todos os dias vou pra lá. Minha nora, Terezinha (viúva de Balduino)  e eu,  vamos todos os dias. Saímos ali pelas  seis da manhã e voltamos à tarde pra dormir. Minha vida é ali, moro lá desde os 14 anos. Vinha na cidade muito pouco.

“O Zé não gostava de fazer compras...
então, eu vinha sozinha pra cidade. No tempo da jardineira e da estrada velha que passava pelo campo de aviação, a gente descia lá no alto e acabava de chegar a pé. Depois que mudaram a estrada, a gente vinha a pé mesmo pra cidade. É pertinho, uma légua. No fim de ano, a gente vinha pra missa do galo, que era a meia noite. Vínhamos a pé, ficávamos  por aqui um pouco e  voltávamos de madrugada, carregando criança no colo. No mais, a gente vinha pra batizar os filhos, pra algum casamento e fazer as comprinhas. Como o Zé não gostava de fazer compras, eu vinha comprar pano para roupa pro marido e pros filhos e passava no armazém pra comprar o que a gente não produzia na roça. No dia das compras, o Zé vinha a cavalo pra poder levar a mala e eu vinha a pé.

“Tive meus filhos na roça mesmo...
e graças a Deus sobreviveu todo mundo. Os filhos nasciam lá na roça, com parteira, isso quando dava tempo de chegar, aí minha sogra me ajudava. Em 1999 foi a primeira vez que fiquei internada, por conta de uma erisipela na perna. Fiquei oito dias internada. Eu tomo dois remédios, um pra pressão e um pro coração. E vou levando a vida que, no princípio não foi fácil, não. Mas me considero muito feliz. Graças a Deus! E o bom é que parece que todo mundo gosta de mim. Minha vida foi muito boa. Zecão era nervoso, bravo, mas nunca tivemos problemas, vivemos bem, graças a Deus. A gente proseava, íamos para as festas, íamos a pé, a cavalo, de carro de boi. Filho não atrapalhava,  não. Chegávamos, botávamos os meninos pra dormir e íamos  dançar a noite inteira e dançávamos  com quem quiséssemos. Não tinha esse negócio de só dançar só com o marido, não... Minha  vida valeu a pena”.

“O segredo de tão longa vida...
é  a força de Deus. Para mim, é por Deus, porque já trabalhei muito. Nunca machuquei nem quebrei nada, nunca fui picada por bicho. Mas não faço extravagância, minha comida é arroz, feijão, macarrão, batatinha, carne, porque não sou muito chegada a verduras, não. E tem  uma coisa: não gosto de óleo. Cozinho com manteiga de porco, até hoje. Dizem que é veneno, mas não gosto de comida com óleo, é uma comida seca. E eu mesma gosto de fazer a  comida”.

“Completar 99 anos...
é poder olhar para trás e ver a família que construí e agradecer a Deus”. Quando os repórteres a incentivaram para fazer uma grande festa no próximo ano, ao completar 100 anos, Da. Polda deu uma boa gargalhada e disse: “Vai ser festa de parar o Sacramento”. E adianta que, no dia 16 de janeiro, fará uma festa em louvor aos Santos Reis. “Não é voto nem promessa, mas vamos fazer a festa lá em casa, se Deus quiser, com a ajuda dos filhos e netos. Vocês estão convidados... Ih, esse homem não para de tirar retrato!!!”, reclama, referindo-se ao fotógrafo que colhe as imagens da entrevista.
 
Eu faria tudo novamente...

se pudesse começar de novo”, respondeu de pronto ao ser questionada pelos repórteres. “Sou agradecida a Deus, mas até que podia começar tudo de novo, só que acho que seria bem mais fácil hoje. Mas eu não gosto dessas modernidades, não. Não gosto de televisão, não quis máquina de lavar nem tanquinho...”
Pois é, Dona Polda, que a felicidade e as bênçãos divinas a acompanhem sempre e, que elas sejam ainda maiores do que já são, pois é maravilhoso o bem que você plantou ao longo do seu caminho. Tenha a certeza de que  na vida, no tempo e na eternidade,  Deus a descreve sorrindo. Parabéns!