Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A bela vida de Da. Faustina aos 100 anos

Edição nº 1480 - 28 de Agosto 2015

O último final de semana foi de festa para as famílias Fornazier Félix com a comemoração dos 100 anos da matriarca Faustina Fornazier (foto). No sábado, mais de 300 pessoas, genros, noras, netos, bisnetos, tetranetos, sobrinhos e amigos se reuniram para uma confraternização no Recanto Professor José Silveira, seguida de Missa em ação de graças, celebrada no domingo 23, na Basílica do Santíssimo Sacramento, presidida por padre Eugênio Bizinotto que, por várias vezes, enalteceu a aniversariante.  Para a nora, Marlene e o filho Joaquim Félix,   a data não poderia passar em branco. “Uma festa linda, com muita 'moda' de acordeon, com a dupla Vanessa e Vinícius,  que é o  que ela gosta. E ela aproveitou, dançou e dançou, com um, com outro umas duas horas, demonstrando umas saúde que é uma  graça de Deus”, conta a nora, lembrando que, após a morte do esposo, ela deixou de dançar uns tempos. “- Depois que ela  ficou viúva ela parou de dançar. Achava que era desrespeito, mas um sacerdote amigo disse que não havia problema e,  a partir daí, ela tirou o atraso”, conta Marlene com uma boa risada.

100 anos: uma vida de trabalho e muita saúde...

Faustina  é exemplo de uma longevidade saudável, não toma um medicamente sequer. Aliás, toma, quando sente dor de cabeça, pede para a nora Marlene, o remédio, uma pastilhazinha,  TIC TAC. “Ela mastiga a pastilha e sara na hora”, revela Marlene. 

Dona Faustina é de uma lucidez incrível e vai logo dizendo aos repórteres.  “Fiz 100 anos, credo!”, e prossegue contando que nasceu na fazenda Gamela, próximo ao Cruzeiro. “Nasci ali e saí de lá depois que me casei”. Filha de Fausto Fornazier e Tereza Orlando Fornazier, Faustina é um dos 16 filhos do casal, mas muitos irmãos ela não conheceu, nove mulheres e sete homens. Ao afirmarmos que antigamente não havia televisão e as famílias tinham muitos filhos, Faustina rebate: “Mas não era por causa da televisão, não...”, disse arrancando risos. 

Estudos, Faustina não teve, o que aprendeu a ler e escrever foi com um parente que aparecia em casa. “Nunca fui à escola, não tinha escola na fazenda. Perdi meu pai eu tinha 12 anos e aí fui trabalhar para ajudar minha mãe a criar os irmãos; tirava leite, capinava lavoura, colhia café, plantávamos de tudo. Minha mãe não tinha preguiça, não. Havia uma lavoura de café muito grande, tínhamos o moinho que rodava com a água do Córrego dos Pintos e a gente fazia fubá. Não existia esse negócio de comprar, era tudo tirado dali.

Outro exemplo de Faustina é a religiosidade, a família não perdia uma missa aos domingos. “Minha mãe saía com a gente e vínhamos à missa aqui na Matriz todo domingo, de madrugadinha, às 6h30 a missa começava. A gente trazia os calçados nas mãos e um pano molhado. Ao entrar no calçamento da cidade, a gente limpava os pés com o pano molhado, calçava e ia pra missa. Chegávamos limpinhos. Naquele tempo, meu avô, pai da minha mãe, ajudava na Igreja, era sacristão”, conta. 

 

Diz Faustina que naquele tempo era tudo muito diferente. “Na Semana Santa tínhamos  que usar roupas escuras...  Mas quando tinha as festas de São Sebastião e Nossa Senhora  d´Abadia, Natal era uma beleza, roupas novas e clarinhas... Eu era da irmandade de São José e tinha minha fita vermelha. Mas quando meu marido José morreu, eu coloquei a fita nele. Ele não era muito de Igreja, não. Mas logo que nos casamos, começou a rezar o terço com a gente, todos os dias. E ele foi apanhando gosto e , aí ele perguntou pra minha mãe se podia vir à missa com a gente e virou católico também”. 

 

O casamento e a chegada dos filhos

Ao contrário das moças da época, Faustina não casou novinha, contava já com 24 anos quando se casou com José Félix. “Eles mudaram lá pra perto de casa pra tocar lavoura de café e aí começamos a namorar. Mas não pense que é que nem agora, a gente namorava de longe. Esse negócio de andar junto, não existia não. E minha mãe  falava: 'Rapaz, aqui em casa é pra casar'. Lá em casa, se não fosse pra casar não podia ir rapaz, não podia namorar  à toa,  não. Mas tinha os bailes e aí gente dançava.  A gente trabalhava a semana inteira e no fim de semana íamos  aos bailes”, conta, lembrando outros fatos. 

“- Quando o José foi em casa, mamãe logo falou: 'Se gostar dela é pra casar, não vai demorar, não'. Ele ia em casa todo domingo, por pouco tempo  e logo nos casamos”.  E um dado curioso, foi falar a data do casamento, Marlene falou, 10 de setembro, mas Faustina logo corrigiu, perguntando: “Não  foi 21 de  setembro, não? Acho que foi”. E de fato Faustina e José Félix casaram-se no dia 21/09/1939. O celebrante foi  Cônego Julião Nunes, vigário entre 1914 a 1947. 

 Depois de casada, foram viver do outro lado do córrego dos Pintos. “Era perto, mas tínhamos que atravessar o córrego, era um brejão. Tempo das águas era uma tristeza, com criança pequena, passar pra lá, pra cá, era uma dificuldade”. Mas o casamento não a tirou do serviço, passou a ajudar o marido nas lidas rurais. “A gente trabalhava, mas ia nas festas, nos bailes. José não dançava, mas não ligava de eu dançar. Depois que ele morreu não quis dançar nem sair mais, mas o padre falou que não é falta de respeito, não.  Depois de um tempo, mamãe vendeu as terras e  fomos morar no João Manzan, na Tapera; depois  ficamos 13 anos no Toniquinho do Memeco, depois mudamos para o Cocal, de onde viemos para a cidade”, conta. 

 

A viuvez depois de 65 anos de casados

Foram 65 anos de casados. Depois do falecimento do marido, há 11 anos, Joaquim e Marlene trouxeram Faustina para a cidade, tendo respeitado o seu espaço, a sua casinha com os seus pertences. “Não faço comida porque eles não deixam, trazem tudo pronto”. 

Da união com José Félix  nasceram sete  filhos Joaquim, João, Donizete e Maria e, três filhos falecidos ainda crianças Tereza, José e Helena (Lena). Os filhos lhe deram 13 netos e  13 bisnetos.

  Questionada sobre o segredo para viver 100 anos, Faustina revela. “Eu não fiz nada, isso é coisa de Deus, trabalhei a vida inteira, só adoeci uma vez...”.  De acordo com Marlene há algum tempo Faustina teve uma “complicaçãozinha”, mas logo se recuperou. “Os médicos ficaram bobos de ver a saúde dela, disseram que é coisa rara”.

Então, Da. Faustina, parabéns pelo seu centenário! Não te desejamos 'muitos anos de vida', mas 'muita vida nos anos que te restam'!.