Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Tempo de reencontro

Edição nº 1351 - 01 Março 2013

É sempre uma alegria maior rever entes queridos depois de alguns anos ausente, especialmente se esses forem pai e filha. Razão da felicidade de ambos ao se encontrarem na tarde do último dia 22. Ele, José Alfredo Dias, 69, ansioso parra rever a filha primogênita que não via há oito anos, Susy Costa Dias, que se refugiou no trabalho como editora da TV Verdes Mares, afiliada da Globo em Fortaleza, sem dar conta que o tempo foi passando. 

Foi quando bateu a saudade e os telefonemas já não a satisfaziam, principalmente agora pelo estado de saúde de José Alfredo, recém saído de uma cirurgia. Conseguiu uma licença e, no mesmo dia aterrissou no aeroporto de Uberaba, já pertinho do pai. “Ficamos sabendo na quarta-feira, que ela chegaria na sexta, os meninos queriam fazer uma surpresa para o Zé Alfredo, mas eu não deixei.  Achei melhor contar, na quinta-feira, para poupá-lo de uma emoção forte. Não adiantou, ele não dormiu à noite. Toda hora perguntava se ela havia chegado, se tinham ido buscá-la. Ele ficou  muito ansioso”, conta a esposa, Nilva Nunes Dias.

Em Uberaba, não sabendo que seria recepcionada por um amigo de José Alfredo para trazê-la a Sacramento, Susy foi recebida por uma prima que a levou para uma volta à cidade, onde um dia se formou. “Foi um desencontro, diz Susy. Fui recebida por uma prima que me convidou para um passeio, enquanto o Airton Cury, amigo de papai, ficou no aeroporto, perguntando a cada mulher que via: 'Você é a Susy?'” – conta entre risos, revelando a emoção que sentiu ao rever o pai.

“- Fiquei muito feliz por ver papai bem, conversando, lúcido, andando. Ele está forte, apesar de ter saído do hospital na terça-feira, depois de uma semana de internação”.   

E José Alfredo era só felicidade. “Há oito anos não via a Susy, minha filha mais velha. A gente se comunica por telefone, mas ver mesmo são oito anos. Quando ela ligou dizendo que viria, eu lhe disse que talvez ela chegasse atrasada”, diz, demonstrando resignação e fé. “Saí de uma cirurgia delicada, mas aqui estou para revê-la e mostrar meu carinho. Eu sempre digo, a minha sorte é a família que tenho, senão eu não aguentaria até aqui”, diz mais. 

 

O reencontro

 

Susy Costa é filha de José Alfredo com sua primeira esposa, Benedita Costa (in memorian), que conheceu nos anos 1960. Aos 24 anos, a exemplo de muitos outros, José Alfredo mudou-se para o promissor estado do Mato Grosso, onde residiu cerca de sete anos.  “Fui fazer a vida no Mato Grosso e lá conheci a Benedita, de uma família muito promissora de Campinas (SP), onde me casei depois de uns tempos e retornei para Cáceres (MT), onde nasceu minha primeira filha, a Susy, lembra, informando que ao se separar da esposa, a filha Susy, que permaneceu com a mãe, tinha apenas sete anos. 

Abrindo-se nas lembranças, José Alfredo afirma que teve um grande prejuízo no Mato Grosso o que o levou a se mudar para o Acre, onde permaneceu durante seis anos. Naquele estado conheceu sua atual esposa, Nilva, e com ela teve uma segunda filha, a Cyntia. “Agora em março completamos 44 anos de vida a dois. Nossa vida foi muito boa. Foram tempos de muita tolerância, muito diálogo, respeito. Valeu a pena tudo e vale até hoje. E agora, a felicidade é maior porque tenho todos os filhos reunidos”,  conta José Alfredo, sem se esquecer de Susy, que o abraça, durante a entrevista.

“- Eu tinha outra família, mas nunca esqueci a Susy, com quem sempre mantive contato. Susy veio estudar em Uberaba e passava férias em casa. Inclusive, ela operou de apêndice aqui, com Dr. Milton Skaff, numa cirurgia muito tranquila e feliz, mas eu me lembro que deu o maior pampeiro'”, recorda, contando o que aconteceu.

“- Nilva e Benedita não se falavam, e quando a Nilva  ligou pra contar da cirurgia,  foi aquele Deus nos acuda. Benedita dizia que a menina iria morrer aqui, como é que foi acontecer aquilo... Mas olha que, depois da tempestade, as duas se entenderam e tudo serviu para a sua aproximação definitiva”, recorda dando risadas. 

Susy foi criada pela mãe em Cáceres e em São Paulo, mas veio para o Triângulo Mineiro, Uberaba, onde cursou Jornalismo, na antiga FIUBE/Uniube  e graduou-se em 1991. Este foi um tempo em que firmou laços com o pai, a madrasta Nilva  e os outros filhos de José Alfredo e Nilva. 

“- Todo final de semana eu estava em Sacramento. Antes de vir para Uberaba, eu só tinha contato com papai. Depois, é que  passei a ter contato com a Nilva e os meninos e  sempre tive uma boa relação com ela, muito respeito; uma boa relação com os irmãos. Sempre me trataram bem e vice-versa”, reconhece Susy, lembrando aqueles belos tempos de universidade.  

Jornalista, redatora chefe da TV Verdes Mares, que tem a missão diária de copidescar textos e contar histórias de tudo o que acontece naquela região do nordeste, Susy diz que rodou um filme durante sua viagem. “Tanto tempo longe, o tempo passa muito rápido. Estou há 10 anos em Fortaleza e a gente não se dá conta. O trabalho, a distância,  e  acabamos nos  distanciando e quando vemos já se passou muito tempo e a gente se assusta ao contabilizar o tempo que passou”, reconhece, pensando o que dizer ao pai. 

“- Durante a viagem fiquei pensando, que depois de tanto tempo longe,  o que falar. Mas quando chega,  a gente vê que não precisa falar nada, os gestos, os olhares, os braços falam por si e aí vemos o quanto  isso é importante”, diz, emocionada.   

 

A opção pelo nordeste

 

A vida faz as coisas direitinho. Mato Grosso não tinha curso de Jornalismo, Susy vem para Uberaba e tem a oportunidade de ficar mais próxima do pai e ter contato com os irmãos... Mas o seu foco, depois de formada, era o eixo Rio-São Paulo, o que não passou de um sonho. “Eu  não pensava em ficar por aqui, nem pensava em voltar para o Mato Grosso. Meu foco era Rio e São Paulo, mas acabei indo para Cuiabá, onde trabalhei dez anos na TV Centro América, afiliada da Globo”. 

Em 2002, Susy Costa teve uma excelente proposta para integrar a equipe de redatores da TV Verdes Mares, em Fortaleza e não pensou duas vezes, especialmente por conta das praias nordestinas. “Meu sonho era morar numa cidade com praias. Eu trabalhava o ano inteiro para passar um mês na praia. A proposta para Fortaleza era tentadora, fui para a TV Verdes Mares, também afiliada da Globo e continuei na minha função: Editora do Núcleo de Rede, isto é, cuidamos das matérias do Ceará que são exibidas em rede nacional, Bom Dia Brasil, Fantástico”, explica, ressaltando que a editoria fica toda orgulhosa quando vê uma matéria editada por ela em rede nacional.  

Susy se identificou tanto com o estado nordestino que chega a dizer que sua paixão pelo Rio de Janeiro acabou.  “A não ser que seja uma proposta irrecusável do tipo Globo Repórter ou Jornal Nacional”, ressalva, lembrando que cobre a equipe carioca nos plantões de fim de ano. “Mas aquela gana, aquela vontade que eu tinha de morar no Rio não existe mais”, afirma.

Para chegar onde chegou, conta Susy que ralou muito. Começou em jornal impresso, depois revista, até chegar à TV, que tem uma linguagem escrita enxutíssima. “Trabalhamos com a essência da notícia, somos obrigados a contar uma história em um minuto e quarenta segundos. Pra ganhar um tempo acima de dois minutos na TV, tem que ser uma matéria bombástica, excepcional”, explica. 

Reconhecida, diz Susy que deve muito ao seu editor chefe, na TV Centro América, Pedro Pinto. “Quando cheguei à TV e fazia um texto e lhe mostrava. Ele dizia: 'Cada ponto que você colocar aqui, você ganha um prêmio'. E assim foi, Pedro foi meu grande professor e fiquei na TV em Cuiabá sete anos, até receber a proposta do Ceará. Mas ambas as TVs têm grande estrutura”.

Apaixonada pelas duas regiões, a jornalista destaca no Centro Oeste a especificidade da notícia, o pantanal, a situação das estradas, a floresta, a madeira, a pesca, o agronegócio... “Já o Nordeste – explica - tem uma abrangência maior, destacando-se pelas suas belezas naturais, a comida, a cultura que estão sempre em voga. É uma cultura muito rica e diferenciada. Antes de morar lá, eu achava que Nordeste era uma coisa só e não é. Até o clima é diferenciado”.

 Outro fator que prende Susy à TV Verdes Mares é a independência da emissora, que nunca esteve atrelada à chancela de nenhum político, a exemplo de várias outras no Norte e Nordeste. “Ela não é do Ciro Gomes, nem do Tasso Jereissati. Ela é independente e pertence ao grupo Edson Queiroz, que possui, além da TV Verdes Mares,  rádio, jornal, TV fechada”, informou. 

Susy Costa retornou a Fortaleza no domingo, 24, muito feliz, sabendo que deixou também o pai cheio de alegria e felicidade, assim como toda a família. 

Finalizando a entrevista, o simpático anfitrião, José Alfredo, aproveita para mostrar fotos e recordar o tempo das cavalgadas em Romaria (Água Suja). “Fui visitar Nossa Senhora D´Abadia, em Romaria, durante 18 anos. No começo, íamos o Neném Ferreira e eu; depois, foram chegando outros. E uma vez fomos a Aparecida, visitar Nossa Senhora Aparecida. Fomos eu; o Camilo do Chapadão da Onça; o Belchior, encarregado  da fazendo do José Alberto; o Negrinho, da Sete Voltas e o Alemar, de Tapira. A última vez foi em 2010, depois não pude mais montar”, recorda, enumerando os peões na foto em um porta retrato na sua sala de estar. 

A seu lado, Nilva completa, enaltecendo sua grande paixão por cavalos, aliás, pra ser exato, por mulas. “Todo equipamento de montaria fica aqui , guardado e bem cuidado, ele limpa e lustra  os equipamentos de montaria e fica aí olhando. Ele não pode montar mais, desde que adoeceu há três anos”, finaliza.