Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Renor: Uma trajetória de persistência e de exemplo

Edição nº 1352 - 08 Março 2013

Tempo de Carnaval, mais que a festa, vale o encontro com a família e o reencontro com amigos e, foi isto que fez Renor Juriti Sampaio, sacramentano radicado há 28 anos em Goiânia, onde fez a vida como diretor superintendente da Superintendência de Compras, Material e Patrimônio do Estado de Goiás, um cargo no primeiro escalão, responsável por todo o processo licitatório do estado de Goiás. Nascido no Desemboque, Renor,  filho mais velho de Marinho Juriti Sampaio e Mariana Cândida de Oliveira, cresceu em Sacramento com o irmão Arley, o radiotécnico. “papai tinha uma pensão perto de onde é a Caixa Econômica, a Pensão Juriti”, recorda, casa que, antes de ser pensão, um dia amanheceu pichada. Mas essa é outra história...


A trajetória de vida


Parte dos estudos de Renor foram em Sacramento, mas ao atingir a maturidade,  deixou a cidade; foi construir seu próprio caminho. “Fiz os primeiros estudos no Colégio Allan Kardec até o curso de Admissão. (Uma espécie de vestibular que o concluinte do antigo 4º ano primário fazia para ingressar na 1ª série do curso Ginasial. Hoje seria a 5ª série ou 6º ano. Poderia ser feito nos dois meses de férias, após o ano letivo; ou em um ano, caso não fosse aprovado– grifo nosso) com o professor Antenor Germano. Aí fui para a Escola Normal. Os estudos superiores foram concluídos bem mais tarde, em Santo André (SP), para onde me mudei depois de uma temporada em Goiânia. 

 

Mudança de vida 

 

Renor concluiu o Ginásio em Sacramento e resolveu, como diz ele, mudar de vida ou pelo menos de ares. E foi para Goiânia, por um motivo muito especial: achava o nome da cidade bonito. “Lá, encontrei alguns amigos daqui, o Luiz Caramori e o Jonas, e fiquei com eles um mês. Só que comecei errado. Todo dia era boteco e vi que não daria certo. Uma noite encontrei um outro amigo de Sacramento, o Anderson e com ele peguei uma carona para São Paulo, onde acertei minha vida. Conclui os estudos secundários,  cursei Ciências Contábeis, depois Administração de Empresas  e lá iniciei minha vida profissional. 


Funcionário do Metrô


Renor morou em São Paulo durante 15 anos, dos quais 12, como funcionário do Metrô. “Aliás, trabalhei em apenas três empresas, a Atlantis do Brasil, fabricante da antiga cera Parquetina;  depois a Nordon Metalúrgica, para onde um colega de faculdade me levou. Na Nordon, conheci o engenheiro José Geraldo Dias Martini, marido da Jandira Martini,  atriz de rede Globo, que me levou para o metrô, onde trabalhei 12 anos como Analista de Suprimentos. Uma empresa que me ensinou demais.   Sou grato a muitas pessoas, porque só procurei o primeiro emprego, depois fui chamado por amigos ou por indicação deles. Muitas pessoas me ajudaram. Temos que ser grato a quem nos ajuda e honrá-los”, agradece.

 

A mudança para Goiânia 

 

A mudança de Renor para Goiânia não foi por acaso. Várias circunstâncias da vida o levaram a se mudar, uma deles porque queria ficar mais próximo da família de sua esposa. “Meu cunhado já estava morando em Goiânia, onde meu sogro não estava bem de saúde, além do cansaço e o estresse de São Paulo. Morando em Santo André, trabalhando todo dia em São Paulo, tudo foi contribuindo e, depois, ficaríamos os mesmos 500 Km de Sacramento, onde temos outros parentes. Depois de analisar bem, combinamos que mudaríamos para Goiânia. Isso aconteceu em 1985. Goiânia foi muito bom para mim. Tive umas oportunidades muito boas”, reconhece.

 

As oportunidades na política

 

Quando Renor fala de oportunidades, ele fala de sua amizade com uma das principais forças políticas do estado, o governador Iris Rezende Machado Carneiro, até hoje um dos grandes caciques do PMDB, de quem guarda o mais profundo respeito. “Iris Rezende, para mim, é um dos homens públicos mais íntegros que conheci. Nunca vi alguém igual tanto administrativamente, quanto na seriedade,  no trato com a coisa pública. Iris terminou seu governo e eu continuei com Maguito Vilela também do PMDB. Em 2003 me aposentei e fui tocar a vida por conta própria. Montei uma empresa e fui tocando...

 

O retorno ao trabalho público

 

Não demorou muito. Iris sai do governo de Goiás e, dois anos depois, torna-se prefeito de Goiânia e leva à tira-colo, seu homem de confiança, o sacramentano Renor Juriti Sampaio, para tomar conta das compras e vendas promovidas pela Prefeitura. “Nos seis anos na prefeitura de Goiânia, passei a conviver mais com a cidade, os vereadores, enfim, me entrosei mais na política. Saindo da prefeitura de Goiânia, fui para a de Aparecida de Goiânia com o prefeito eleito Maguito Vilela, com quem eu já havia trabalhado, quando governador de Goiás. Aparecida de Goiânia tem hoje 640 mil habitantes, é a cidade mais populosa do Centro-Oeste, excetuando as capitais. É o segundo maior colégio eleitoral do Estado.  E há um trabalho grande pra mudar o nome da cidade para Aparecida. A cidade de Aparecida surgiu a partir de Goiânia, foi emancipada em 1963  e ficou com o nome de Aparecida de Goiânia, mas deve mudar para Aparecida.

 

Comprar e vender

 

Renor diz que, com seus dois cursos superiores aprendeu muita teoria, mas na prática, nas empresas em que trabalhou, aprendeu a fazer duas coisas: comprar e vender. “No metrô, fui 12 anos analista de suprimentos, fazia compras. Mudei para Goiânia, pra ser gerente de uma empresa, mas aí o Iris Rezende me convidou para assumir a Superintendência de Compras, Material e Patrimônio do Estado de Goiás, um cargo no primeiro escalão, responsável por todo o processo licitatório do estado, englobando todas as secretarias. Iris diz que é muito mais fácil tomar conta e se inteirar de todo o processo com uma única pessoa, do que tomar conta de vinte. Para ele, é muito difícil  fiscalizar as licitações em cada uma das secretarias. Por isso a concentração”. 

 

140 mil cestas por mês


Lermbra Renotr que o governador Maguito Vilela criou no Estado de Goiás, um programa, considerado modelo para o Brasil. A doação de uma cesta básica, que ficou conhecida como 'a cesta do Maguito', a todas as famílias que ganham um salário mínimo e, ainda, um litro de leite e um pão para cada criança de zero a seis anos. “Eram 140 mil cestas mensalmente, além do leite e pães. E tudo isso passava pela Superintendência de Compras sob minha responsabilidade”, afirma, ressaltando que todo o cadastro era feito em nome da mãe. “A mãe, pensa mais nos filhos, ela administra melhor, não troca os alimentos por outras coisas”. Diz mais Renor que o programa desapareceu no governo seguinte, vencido pelo PSDB. “Tudo por razões políticas. Eles começaram a distribuir as cestas, mas para o povão, continuava sendo 'a cesta do Maguito'. Aí acabaram com a cesta do Maguito”.

 

A lisura no trabalho


Todo mundo sabe que as maiores fraudes, contratos superfaturados, licitações direcionadas, corrupção despeja tudo no setor responsável pelas compras e licitações. E questionamos, como Renor administrou a pasta. “É sabido que o cargo do funcionário responsável por licitações é um dos mais visados politicamente, no sentido de exploração e corrupção. Considero um cargo penoso e de muita responsabilidade. Quando assumi o Estado, tinha vergonha de falar que era o responsável pelas compras do Estado. Tinha vergonha, porque as pessoas logo diziam: 'Você folgou agora, heim!?'. Eu estou neste meio há mais de 20 anos... Não tenho xará, Renor Juriti Sampaio só existe um, eu e, desafio, qualquer brasileiro a levantar um senão qualquer sobre meu nome, pra ver se estou envolvido em alguma irregularidade, por menor que seja, em Goiás, que teve Cachoeira, que teve Delta. Ninguém vai encontrar meu nome envolvido em nada”, afirma.

 

Iris sempre foi um homem sério

 

“Trabalhei com Iris  dez anos e todas as  licitações passaram pelas minhas mãos. Sou muito grato. O Iris pagou, mas fui eu que comprei e ele nunca me mandou fazer nada errado para privilegiar alguém.  Eu digo, o Íris é um homem sério. É rico, porque toda vida foi rico, nasceu rico e é apaixonado por política. Eu não sou rico, sou uma pessoa feliz, criei minhas filhas, moro bem, mas tudo com dinheiro que ganhei com meu suor. Não tenho inveja de ninguém, olho as pessoas de frente, olho no olho, sou muito conhecido em Goiânia, onde me conhecem por Renor. Já em São Paulo, no metrô, eu era o Juriti. Todos sabem do meu caráter”.

 

Não montei no cavalo arreado

 

 Renor prossegue lembrando que, embora nunca tivesse pretensões políticas, certa ocasião deixou o cavalo passar arreado passar... “Apesar de meu envolvimento no meio político, nunca pleiteei cargo eletivo, embora tivesse sido convidado várias vezes. Especialmente, uma vez, acho que teria muitas chances, depois de um mandato todo trabalhando com as creches assistenciais da cidade. Seus próprios diretores me convidaram para ser o candidato deles. Seria uma eleição certa, mas como nunca tive pretensão, declinei. Hoje, depois de muitos anos, vi que 'o cavalo passou arreado e não montei'. Mas não me arrependo. Continuo no meio, tenho muitos amigos, mas a minha atuação política foi só essa”. 

 

Os encontros do dia a dia 


Dentre os muitos contatos de Renor na Superintendência, um deles foi com o sacramentano, Luiz Fernando Valadares, então secretário de Cultura do Estado  de Goiás. “Foi engraçado nosso encontro. Ele ligou, marcou, fiquei aguardando, mas na hora não liguei os fatos. Chegou a minha sala com aquela simpatia toda que lhe é peculiar, todo educado, pedindo papel, canetas, enfim coisas para atender as  necessidades da sua secretaria. Eu fiquei olhando pra ele, pra ver se ele notava alguma coisa e nada. Aí ele perguntou: 'É possível arrumar isso pra nós?'. Eu lhe respondi: 'Sinto muito, mas pra sacramentano eu não arrumo”. Ele me olhou espantado e perguntou como eu sabia suas origens. Aí, me apresentei e foi uma festa. E claro, nunca faltou papel na secretaria de Luiz Fernando!! (risos). Fiquei muito feliz e hoje mantemos a política da boa vizinhança”, recorda.