Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Parabéns, Tutin

Edição nº 1374 - 09 Agosto 2013

Matuzalém Ferreira, mais conhecido por Tutim, completa neste sábado, 10, 81 anos, mas a festa é para marcar os 80 anos que foram passados no hospital, depois de tudo preparado, em agosto passado. Mas este ano, firme e forte, brinda sua longevidade com a família e amigos.  Ao receber o ET para uma rápida entrevista, lembrado que Matusalém é conhecido por ser a personagem mais longeva do Antigo Testamento, tendo vivido por 969 anos, a esposa  Valdezina (Fiúca)  brincou, recordando a data do casamento, em 1954. “Quando fomos fazer os papéis para o casamento, Pe. Saul me disse: '- Você nunca vai ficar viúva”, conta entre risos.


Um dos guardiães do XIII

Matuzalém é um dos guardiães da história do 13 de Maio e do Congado na cidade. Este último, herança do pai José Ferreira, o Santana, casado com Eurídice, pais  de seis filhos: Iraci, Iracema, Hominton (Bigico), Eurico e Marlene todos nascidos e criados na histórica rua do Zagaia (hoje rua Eurípedes Barsanulfo, no bairro Chafariz). “Toda  vida vivi aqui na rua do Zagaia. Meu pai contava que a rua ganhou esse nome depois que um freguês da venda  matou o outro com uma zagaia, que era um tipo de lança. Depois mudaram o nome da rua. A gente brincava num rego d´água que havia na rua de cima (Treze de Maio), corria fora a fora. Na praça do Chafariz (Praça José Natálio), havia um chafariz, uma bica  que as pessoas pegavam água e ali na descida do Cerea, havia outro. Não havia água encanada, todos buscavam água no chafariz”, lembrando de sua infância, quando estudou no Grupão. “Estudei pouco, no Grupão Afonso Pena. 'Me' lembro das professoras até o quarto ano: Mariinha do Sr. Oliveira, Lourdes e Nazinha (irmã de Corália Venites). Depois do quarto ano meu pai me tirou da escola pra ir trabalhar”.

 

Peão de boiadeiro 

“Aos 15 anos fui ser peão de boiadeiro com o Zé Dias. Éramos uma comitiva grande com mais ou menos 15 peões, numa longa cavalgada de 20 dias de viagem, guiando 1.200 bois para Barretos, debaixo de sol, frio, chuva quando, de lá, não tínhamos que levar pra Catanduva, Presidente Prudente. Íamos pra onde precisasse levar o gado. Pegávamos gado em Monte Carmelo, São  Gotardo, Dores do Indaiá  e levávamos até Barretos. Dormi demais ali na Água Emendada. Quando pegávamos em São Gotardo, passávamos por Agua Suja (Romaria), Nova Ponte, Almeida Campos e seguíamos rumo a Uberaba,  Conceição das Alagoas, Limeira e Barretos. E quando vínhamos do lado do Monte Carmelo aí fazíamos parada aqui, lá na fazenda do João Zico, cortávamos  a cidade  ali pelo Santo Antonio, passando pelo Alto da Estação, descíamos na rua das máquinas e, passando pela rua da antiga Cadeia, hoje Afonso Pena, rumávamos para o Areão, pernoitando no Santo Bizinoto, às margens do córrego  do Jacá. 

 

Vida difícil a do peão

“Era uma vida difícil, muito perigosa. Uma vez a boiada estourou em Conceição das Alagoas. Lá só havia uma rua, que atravessava a cidade. Eu era o ponteiro, o pessoal gritou e eu saí da frente, senão passava por cima.  O gado só parou  numa subida depois da ponte do rio...”, conta mostrando com orgulho uma foto tirada na praça em Barretos com alguns companheiros: José Américo, Lindolfo  (pai do Cavado), Oroza, José Flauzino, Sebastião Limeira e Tutim aos 16 anos. 

 

Acidente em Medeiros

Nessa vida, Tutim teve uma experiência desastrosa. “Foi lá em Medeiros, teve um rodeio e resolvi montar um burro bravo, que me derrubou e me atingiu o lado direito com a pata. Tive de ser operado às pressas. O Dr. Valadares me internou e o  Dr. Serra, de Ituiutaba, me operou aqui na Santa Casa. Naquela semana, foram feitas cinco cirurgias e só  o Arnaldo e eu 'vingamos', os outros não aguentaram”, conta. Por conta dessa tragédia, Tutim resolveu parar com a vida de boiadeiro e resolveu de vez mudar de profissão, indo trabalhar como servente de pedreiro, profissão a que se dedicou por muitos anos. “Comecei a trabalhar com Jácomo Pavanelli, com quem fiz muitas construções. Além de casas de morada, o Sacramento Clube; ampliação da Igreja Matriz e a antiga Telefônica de Sacramento, onde é hoje a Caixa Econômica”.

 

O casamento e a família 

No dia 5 de junho, 1954, aos 21 anos, Tutim  e Fiúca se casaram e lembram bem do dia 'nosso casamento estava tudo arrumado pra tarde, mas o padre Saul nos chamou e falou que teríamos que adiar ou casar ás 11h, porque Nossa Senhora Aparecida ia chegar e era a primeira vez que ela vinha aqui. Aí decidimos nos casar assim mesmo e foi festa o resto do dia, uma animação. Da união dos dois que no ano que vêm completam 60 anos de casados, nas-ceram os filhos Sônia (Reginaldo), Sângela (Nati, falecida), Sandra (Armando), Ivanir (So-lange) e Ma-tuzalém Jr (Ângela), que lhes renderam dez netos e cinco bisnetos. 

 

O congado e o Treze de Maio

Filho de José Ferreira, o Santana do Congado, Tutin teve a oportunidade de desfrutar dos ensinamentos do pai, até os 15 anos.  “Papai era general do Congado, comandava o Congo na cidade, quando eu era criança participava, mas depois que ele faleceu, o Congado deu uma parada. E quando reiniciaram, eu já não me interessei mais, porque estava ligado ao futebol”, conta mais.  Tutim  foi um dos fundadores do XIII de Maio Futebol Clube, com José Francisco Pereira (Curtume), Azor Guimarães, Desidério,  Cabeleira (Antonio Pereira), Benedito... “A gente resolveu criar o XIII de Maio, porque treinávamos  no campo dos Marianos, mas proibiram os treinos. Aí fomos para a Máquina do Adé, que hoje é dos Loyolas, lá no João XXIII. Eles cercaram o lugar e proibiram os treinos. Ficamos sem   um lugar pra treinar e aí fundamos o XIII de Maio. Primeiro, ganhamos  um terreno  onde é hoje o CRES,  a  Creche Alexandre Simpson. Como precisavam do terreno, fizemos uma troca e o prefeito da época, Dr. Clemente, nos deu o lugar onde é hoje a Igreja de Nossa Senhora D´Abadia, que também pegaram de volta. O próximo prefeito, José Sebastião, arrumou  pra nós comprarmos o terreno onde é o campo atual. Nada ali foi doado. O que nos foi dado nós perdemos e compramos, então, as terras, que eram do Zé Bertulino, vendidas para o  Wellington, um pedreiro que havia na cidade. O pagamento atrasou e o dono resolveu nos tomar o terreno, foi quando dividimos a dívida e cada diretor ficou responsável por uma duplicata e era muito dinheiro pra nós. Até o Dr. Juca ficou com uma parte. Lembro que vendi rádio, tirei dinheiro do bolso pra pagar minha parte”, recorda.

 

O XIII era um grande time

O XIII de Maio nessa época foi um grande time de futebol. Eu me lembro bem, como treinador da equipe, dos grandes jogos que fizemos, inclusive participando de campeonatos regionais. Tínhamos um  time  muito bom: Adão, Badiquinho, Zé Aleixo, Turunga , Zé Pretinho, Cabeleireira, Azor, Arnaldo Rocha, Antonio Camilo, Arcendino  da Quinica, Toin do Adolfo... Eles eram bichões  no campo.  Depois  o Zé Aleixo, Turunga e Zé Pretinho foram para o Atlético, aí desfalcou a equipe. Mas o nosso problema mesmo, eram os jogos em Conquista, por conta da rivalidade entre as duas cidades. Era briga na certa. Mas era um tempo bom. Todo mundo trabalhava e chegava correndo pra treinar e era só uma hora de treino, porque logo escurecia, mas o pessoal jogava com gosto”. 

 

XIII de Maio surgiu com o futebol

Tutim lembra que a instituição, como clube social, pessoa jurídica, ao contrário do que mui8ta gente pensa, só surgir, quando fundaram o XIII de Maio E.Ce não com a Escola de Samba do XIII de Maio. “Quem começou o carnaval foi a minha madrinha, Conceição, nem existia o XIII de Maio, nem nome tinha. Era o “Cordão da Conceição”, que saia do Terreirão, no alto da Estação e descia para o centro da cidade. O pai dela e do Azor, o Aleixo, morava ali, a madrinha Conceição  reunia  as pessoas e de lá saiam para o carnaval na rua. Depois que ela foi pra São Paulo, acabou. Como havia ligação de família e o pessoal era todo ali de cima, de perto do Campo do XIII de Maio, eles  reiniciaram o carnaval com o nome de XIII de Maio”, conta, ressaltando que nunca desfilou no Carnaval, mas já tocou muito nos antigos carnavais da cidade na banda do  Carabina. 

 

Fazer 81 anos...

Para Tutim é a certeza do dever cumprido. “Dou graças a Deus, porque tive um problema de saúde no ano passado, mas arribei. Criei os filhos, tive uma boa esposa. A gente tem as dificuldades das perdas, mas supera. Vivo uma vida simples humilde, mas muito honesta e feliz, graças a Deus”, declara agradecendo ao ET pela oportunidade de poder contar um pouquinho da sua vida.