Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Irmã Maria de Lourdes Cardoso: Tudo começou aqui há mais de 40 anos...

Edição nº 1344 - 11 Janeiro 2013

Irmã Maria de Lourdes Cardoso, 56 – a Irmã Lurdinha (foto) da Congregação de São José de Cluny, esteve em Sacramento neste início de ano, depois de doze anos. Mas esta foi uma visita que teve um sabor diferente, o da alegria de reencontrar alguns parentes e de conhecer outros, a família Cardoso. “E esses são Cardoso de verdade e é uma graça e uma alegria, porque família  é a base para todo ser humano. Foi uma grande alegria”, reconhece em entrevista ao ET. Tudo começou com a chegada de Pe. Otair Cardoso à paróquia de São Sebastião, em Pedrinópolis, cidade natal de Ir. Lurdinha, cujo pai, Clodomiro José Cardoso, era sacramentano, e tio de Dário, pai de Pe. Otair. 

 

“Fiquei sabendo pelas minhas irmãs, que tinha um primo padre trabalhando na cidade. Tenho outros parentes em Sacramento, a família da Maria, do Tiola, a mãe dele, a Anásia, era irmã de meu pai Clodomiro José Cardoso, que nasceu e cresceu aqui.

E foi engraçado nosso encontro, porque cheguei a Pedrinópolis e perguntei se a autoridade eclesiástica da cidade, poderia me receber (risos). Ele é o único padre lá e  quando o encontrei, vi logo que não era falso, vi que era Cardoso de verdade e dei-lhe um abraço à brasileira, daqueles de quebrar costela,  e ele disse: “O que é isso, senhora?”, conta, com uma boa gargalhada. “E aí me apresentei e foi uma alegria. E hoje estamos aqui pra eu conhecer a “cardosada”. Tenho oito irmãos e agora mais estes parentes, é um verdadeiro batalhão de Cardosos”, diz com uma alegria ímpar, para o deleite de todos, pelo sotaque franco-lusitano, fruto da longa vivência na França ou em países africanos de língua portuguesa e, nos últimos anos, na Guiana Francesa.   

E para Pe. Otair  foi um encontro memorável. “Papai nasceu em Santa Juliana e veio prá Sacramento, deixando por lá muitos parentes. Quando fui transferido como pároco de Pedrinópolis, tive um contato imediato com Felipe Cardoso, meu primo e  por meio dele descobri vários parentes, todos descendentes de tio Clodomiro, pai de Ir. Lurdinha. Logo tive a oportunidade de falar com ela por telefone e fiquei aguardando ansioso a sua chegada. Esse encontro  para nós tem um sentido muito grande, é uma alegria imensa e  agora é estreitar os laços da família”. 

 

“Descobri minha vocação com as irmãs aqui em Sacramento”

 

Boa parte da  relação de irmã Maria de Lourdes com Sacramento, não foi pela família, mas com a  Congregação São José de Cluny. “Descobri minha vocação com as irmãs aqui em Sacramento. Desde criança eu queria ser 'padre' (risos). Só que ninguém nunca me disse que mulher não podia ser padre. Um dia, os padres redentoristas foram pregar missões em Pedrinópolis e eu fui conversar com eles. E conversei justamente com  padre Gil Barreto. Falei da minha vontade de ser 'padre' e aí,  ele me deu um endereço das irmãs aqui”, recorda. 

Perseverante, Ir. Lurdinha manteve correspondência com as irmãs de Cluny por quase cinco anos. Aliás, comemorei meus 15 anos aqui na clausura delas, com as irmãs Maria Tereza Vaz, irmã Juliana, irmã Mafalda, irmã Maria do Coração de Jesus. Naquela época, irmã Benigna Martins era a superiora regional. Aos 18 anos, fui para Lucélia, onde morei quatro anos, fui para São Paulo para mais quatro anos e depois deixei o Brasil”. 

São 32 anos de vida religiosa e neste tempo todo, irmã Maria de Lourdes vive além  fronteira, vindo ao Brasil a cada quatro anos. Na bagagem, as experiências e diversidades culturais são imensas. Saindo do Brasil, irmã seguiu para a Casa Mãe,  em Paris, onde ficou cinco anos.  Seguiu para a África lusófona, por mais oito anos; retorna à França por dois anos; novamente para a África, vivendo  seis  anos no  Zaire e, depois vem para a América espanhola, fica oito anos em Guadalupe, nas Antilhas e há três anos  mora e trabalha  em  Cayenne, capital da  Guiana Francesa.   E não sabe se volta ao Brasil. “Não tenho a menor ideia, vivemos pela obediência e para o servir”.  Falando de suas experiências, irmã Maria de Lourdes conta que, “em cada lugar é uma cultura,  aprendizado novo”. 

 

Nova realidade de mundo

 

De acordo com Ir. Lurdinha, a Congregação de São José de Cluny conta no mundo hoje com pouco mais de 3 mil religiosas, para atender 65 países e cerca de 500 comunidades.  “É muito pouco para o tamanho do nosso mundo. E em muitas comunidades as irmãs já estão idosas, doentes, o que tem dificultado o trabalho em hospitais, creches, escolas e muitas obras estão fechando. Para se ter uma ideia, na minha comunidade na Guiana  éramos 26 irmãs, hoje, somos dez e muitas já com alguma especialidade”, informa.

A exigência de profissionais formados para atender casas de assistência é hoje uma realidade em quase todos os países, sobretudo na Europa. “É uma exigência mundial, por isso, todas nós, hoje, temos que ter uma especialidade”, ressalta Ir. Lurdinha, informando que a Congregação conta com religiosas que são médicas, dentistas, advogadas, professoras, enfermeiras. “Para atender às necessidades dos povos para onde somos enviadas, temos médicas em Angola e na Índia, mas há muitas outras na área de direito, educação, serviço social, enfermagem, economia”, conta. 

Irmã Maria de Lourdes aproveita para fazer um apelo às jovens. “O conceito de Congregação mudou muito, está muito mais aberta para as necessidades do mundo. Os jovens têm que saber que a vocação não tira a pessoa da família e nem do mundo, muito pelo contrário, somos cidadãs do mundo, inseridas na sociedade, temos família, temos amigos, temos estudos, nos formamos”, destaca.

Para Ir. Lurdinha, a vida religiosa e sacerdotal são apaixonantes. “As  religiosas não temos filhos, mas a vida nos dá mil vezes mais no trabalho que fazemos. Por onde passamos sempre encontramos pessoas  apaixonantes que ajudamos a viver, a construir vidas, além de dizer e viver Deus. Muitos e muitos jovens poderiam e podem responder a este apelo do mundo”, convida.

 “- O jovem ou a jovem que ingressa na vida religiosa hoje pode dedicar-se também na sua vocação profissional. Aliás, eu acredito que o fato de demorar muito para se abrir nesse sentido é o que prejudicou  um pouco as congregações, inclusive a nossa’’.

Disse mais que, hoje, um religioso, uma religiosa pode perfeitamente  seguir a sua missão religiosa. ‘‘As religiosas podem ser uma profissional de qualquer área. No mundo de hoje há muito lugar para irmãs como 'Ana Maria Javouhey', 'Tereza de Calcutá'’’, ressaltou Ir. Lurdinha.