Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Elis Cristina, um exemplo de superação

Edição n° 1259 - 27 Maio 2011

A sacramentana, atleta de vôlei, Elis Cristina Bento, 23, foi notícia no Jornal Nacional, pela superação de sua altura (1,68m) e pela impulsão que possui como ponteira da equipe do Vôlei Futuro, de Araçatuba, que terminou a superliga em honroso 3º lugar. Curtindo as férias em Sacramento, visitou a redação do ET, oportunidade em que recordou os primeiros anos como jogadora na cidade, os primeiros campeonatos e toda a sua trajetória nas quadras brasileiras.  

 

ET – Seis anos depois, vamos começar falando das 'meninas de ouro da URS'. Muitas lembranças?

Elis – E quantas!! E as lembranças serão para sempre. Foi um tempo maravilhoso, um  trabalho maravilhoso o da Bethânia, o apoio do prefeito Biro, as amizades que a gente fez, conviver com as meninas todas. Com certeza vou guardar isso para o resto da vida, afinal foi aqui que comecei no vôlei. A parte técnica toda aprendi aqui e fui aperfeiçoando. Acredito que tudo isso que tenho hoje,  toda a habilidade de me virar sendo baixinha, devo à Bethania, na categoria de base, que é extremamente importante para a evolução de um atleta. Sou muito grata ao Biro, à Bethania que nos proporcionaram isso que somos hoje”. 

 

ET – Vamos deixar a menina sapeca do Areião e ir para o ano de 2005... Que lembranças você tem desse ano?

Elis – Esse ano me marcou a vida profundamente. A minha e de muitas outras atletas. Éramos, como vocês mesmo nos chamavam, 'as meninas de ouro da URS'. E aquele ano o grupo se desfez com a derrota do prefeito Biro e a saída da Bethânia como técnica da equipe. A partir de então, eu sei disso, porque sempre vim acompanhando, o brilho do vôlei da URS nunca foi o mesmo. Só agora, parece querer deslanchar, mas ainda está muito longe, sem modéstia, do que foi aquele time da Bethânia, quando conquistamos vários campeonatos regionais e estaduais. Então, esse ano fica na lembrança. Sentimos muito ter que sair de Sacramento, todas nós sentimos muito aquela saída, mas não podíamos parar. 

 

ET – Menina debutante ainda, como foi aquela saídas para outra cidade?

Elis - Quando terminou  tudo aqui em Sacramento a gente ficou na maior  expectativa, não sabia como ia ser. Aí surgiu a oportunidade de ir para o Sesi, em Uberlândia. Os técnicos foram em casa,conversaram com meus pais, porque eu tinha apenas 15 anos e depois de muita recomendação, deixaram eu ir. Foi uma experiência muito bacana, disputando campeonato mineiro, jogos estudantis. Foi muito bom. Mas, só fiquei aquele ano de 2005, no Sesi. 

 

ET – Prá onde você foi a partir de 2006?

Elis - Em 2006,  fui para o Suzano, em São Paulo, disputar na categoria juvenil o campeonato paulista. Ficamos em quarto lugar. Em 2007, fui para o Medley  Banespa, onde passei duas temporadas (2007/2008, 2008/2009) e onde disputei a minha primeira superliga. Foi uma época maravilhosa. A temporada 2009/2010 retornei a Minas, para jogar pelo Praia Clube, em Uberlândia. E foi também fantástico, porque lá fiquei entre as melhores atacantes, o sexto melhor saque  na superliga. Foi uma das minhas melhores temporadas. 

 

ET – Foi quando o Vôlei Futuro te descobriu...

Elis – É verdade. Foi durante a temporada no Praia Clube (2009/2010), que os dirigentes do Vôlei Futuro descobriram minha habilidade. Foi engraçado, porque quando eu fiquei sabendo que eles queriam me contratar, eu estava jogando contra  o Osasco, contra a Camila Brait. Naquele dia, o dono do time, perguntou para o treinador: '- Quem é aquela pequenininha que salta bastante? Ela é muito aguerrida. Vou trazê-la pra cá'. E de fato me levou para Araçatuba.  E fomos campeãs dos Jogos Regionais em Ilha Solteira, dos Jogos Abertos de Santos, vice campeãs paulista e terceiro lugar na superliga. Perdemos a semifinal para Osasco”. 

 

ET – O que falta para o Vôlei Futuro conquistar a superliga?

Elis – Eu penso que falta pouco para a equipe Vôlei Futuro conquistar a superliga. Por exemplo, falta trabalhar um pouco mais 'o como chegar' e 'onde podemos chegar'.


ET – Você não acha que, se não fosse aquele acidente, a gravidade da lesão da líbero Stacy, este ano não seria possível?

Elis – Com certeza, os jogos finais seriam diferentes. Estávamos todas muito abaladas ainda. O ônibus capotou na véspera do jogo e só adiaram as finais uma semana. Perdemos a Stacy, várias outras com pequenas escoriações e o mais perturbador foi o psicológico. A gente não parava de pensar na colega que sofreu um traumatismo craniano e estava na UTI. É claro que não podemos colocar desculpa em nada, porque treinamos uma semana pra disputar a semifinal, mas é lógico também que afetou o psicológico e perdemos duas vezes para o Osasco, numa melhor de três. Aí disputamos o terceiro lugar com Pinheiros. 

 

ET – Se ainda não te perturbar, você pode contar detalhes sobre o acidente?

Elis – Sim, eu me lembro que chovia muito naquele dia. Faltavam uns 400 metros pra chegar no ginásio, quando a roda do ônibus entrou na guia de entrada do viaduto e tombou. Estávamos todas bem descontraídas, indo para o jogo no maior astral. E, como sempre, sem a devida segurança, todo mundo sem cinto, algumas de pé, brincando. Éramos 14 jogadoras, mais a comissão técnica. Eu estava sentada na frente, do lado esquerdo, atrás do motorista uns quatro lugares, o ônibus tombou pra direita e eu voei. Felizmente, não houve nada grave, só bati o dedo de mau jeito e senti dor no ombro por uma semana. Já a Stacy foi mais grave, teve traumatismo craniano, ficou internada três semanas. Mas graças a Deus ela está bem. Mas isso nos abalou bastante, inclusive pelo fato de ver nossa líbero naquele estado. Mas fomos cumprir o regulamento. 

 

ET – Fale um pouco sobre a estrutura do Vôlei Futuro.

Elis - O Vôlei do Futuro é um projeto que nasceu em Araçatuba, há nove anos É um projeto voltado para o social e as categorias de base. Criado em 2002, tem como objetivo utilizar o esporte como ferramenta de desenvolvimento social. O projeto inclui 17 núcleos de ensino que atendem cerca de mil crianças e adolescentes na cidade, divididos em equipes mirim, infantil e infanto-juvenil. As atividades são realizadas em escolas municipais e estaduais e em ginásios de Araçatuba. Com bons técnicos,  em oito anos de existência o projeto se tornou referência no voleibol brasileiro, e hoje,  eles investem em atletas de alto nível e têm tido grandes resultados. Por exemplo, a equipe adulta masculina venceu o Campeonato Paulista e o time feminino foi vice-campeão. Essas conquistas são fruto de reforços contratados a partir de 2010. 

 

ET – Quem são as feras?

Elis - Entre os destaques estão o levantador Ricardinho, que conquistou diversos títulos pela Seleção Brasileira, como a Copa do Mundo, o Campeonato Mundial e a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Outro jogador importante é o atacante oposto, Leandro Vissotto, que foi campeão da Liga Mundial de Vôlei Masculino 2010 com a seleção brasileira. O time feminino também apresenta atletas de altíssimo nível, como a atacante de ponta, Paula Pequeno, que foi considerada a melhor jogadora de vôlei do mundo nas temporadas de 2005 e 2008. Também estão lá,  a Joycinha,  a Fabiana (capitã da Seleção Brasileira) Temos também a norte americana  Stacy Sykora, que foi eleita a melhor líbero do Campeonato Mundial 2010. 

 

ET – No final do ano passado você foi notícia no Jornal Nacional que a citou como exemplo de uma atleta que supera com garra e vontade sua deficiência na altura. Como é que uma atleta de 1,68 m, 56 Kg,  pode ser ponteira junto com a Paula Pequeno?

Elis – (Rindo) Pois é, como?!! Acho que aprendi tudo isso quando pulava de galho em galho nas mangueiras dos quintais do Areião, quando eu era moleca (risos). Mas tudo foi muito trabalhado, desde o tempo em que estava em Sacramento com Bethânia. Hoje tenho uma impulsão de 1,05 m, alcançando uma envergadura de mais de três metros na rede. Tem um pouco de força física, força de vontade, fibra muscular e o resto acho que é o dom. Aliás,  não sei bem de onde vem.  Acho que é a essência da minha geração que  me faz superar.  

 

ET – Você não se surpreende, com essa estatura, jogando como ponteira junto com a Paula Pequeno, não?

Elis – Claro! Ás vezes, eu me pego pensando, como eu estou jogando até hoje como atacante... Mas clube nenhum me quer como líbero. Eles me querem como atacante, ponteira. Mas estou feliz em poder atuar entre as maiores e melhores atacantes do país. Então, é trabalhar a cada dia e pensar que a todo momento que eu estou ali dentro da quadra  eu tenho dois, três metros e não que eu tenho 1,68, não pensar que sou a “pequena Elis”, como dizem os comentaristas na TV. 

 

ET – Prá manter essa forma, sua jornada diária é puxada?

Elis - Além dos treinos normais, tenho toda uma preparação física diferenciada. Há treinos na areia, tenho que fazer muitos exercícios nas pernas, como saltar, pular corda. Trabalho entre duas horas e meia a três horas por dia, além dos treinos e viajamos todos os finais de semana. 

 

ET – Como é a estrutura física do Vôlei Futuro? 

Elis –  A estrutura é fantástica, desde o salário, alimentação, moradia, tudo é maravilhoso. Enfim, o projeto lá é fantástico. Araçatuba toda se envolve, está sempre presente, lotam o ginásio, por isso, a gente além de estar atenta à nossa profissão, olhamos o lado de fora da quadra, pra poder estar passando alegria para as pessoas. Mas o ginásio em si não é muito grande. O ginásio não suporta o público, tanto que, nos dias de jogos, espalham telões do lado de fora. Há projeto de construção de um novo ginásio. Mas nossa casa é muito boa, tem piscina. São quatro alimentações excelentes, tudo isso graças aos patrocinadores como a Reunidas, Pirelli, Lorenzetti, Phisicus, Alameda Qualy Center e outros.

 

ET – Continua no Vôlei Futuro nesta próxima temporada ou tem convites para outros clubes?

Elis –  Tenho convites para outros clubes e também do Vôlei Futurto. Já fui convidada e vou continuar lá para a temporada 2011/2012 e vou crescer mais no voleibol, aperfeiçoar e fazer melhor, porque estou ao lado de Paula Pequeno. Ela é mais velha, mais experiente, ela faz a diferença e eu vou aperfeiçoar ainda mais.

 

ET – A sua vida no vôlei, desde Sacramento, tem uma trajetória cheia de títulos. Você se lembra dos títulos conquistados? 

Elis –  Dos principais eu me lembro, sim. Bom, como eu disse, comecei aqui na categoria de base da técnica Bethânia, até o fim de 2004. Desde então fui, claro, com toda minha equipe, campeã mineira Mirim; campeã brasileira Infanto – 2004;  vice-campeã brasileira Juvenil – 2005;  campeã brasileira Juvenil – 2006;  campeã dos Jogos Regionais 2006; campeã dos Jogos Abertos - 2006; campeã brasileira Universitária - 2007 (Melhor jogadora); campeã paulista Juvenil 2007; campeã Jub´s, em  2008.

 

ET – Quais foram os jogos inesquecíveis?

Elis – Os primeiros, aliás, todos em Sacramento, no Ginásio do Rosário, com o público sacramentano nos aplaudindo. E, mais recentemente, dois jogos inesquecíveis, Brasil x Itália e Banesp x Osasco, em 2008. 

 

ET – Nesses jogos em grandes ginásios, as principais TVs mostrando para todo o país, te vem à mente a Elis do bairro Perpétuo Socorro, o Ginásio do Rosário, uma espécie de 'flashback'?...

Elis – Estaria mentindo se dissesse que não. Sim, me passa na mente um filme, um grande filme, com cenas que me vêm à tona. Recentemente, na disputa da superliga, senti muito esse 'flashback'. É muita emoção, passa um filme  na minha cabeça e vejo as minhas origens. De onde saiu aquela menina sapeca , subindo nas árvores, brincando de bola na rua do Areião... passa um filme na cabeça da gente. Enfim, a vida é lembrar da essência, trabalhar e sonhar. Tenho sempre como lema uma frase: “Eu junto minha mão à sua e uno meu coração ao seu, para que juntas possamos fazer tudo aquilo que sozinha não posso”! 

 

ET – Prá terminar, voltar a Sacramento é...

Elis - Tudo de bom! Estou de férias, curtindo os amigos, a família, matando saudades da Dona Nirce das Graças e do Seu Geraldo Bento, meus queridos pais... Mas já fui ao ginásio ver as menininhas treinarem, revivendo muito do que vivi, e senti que é preciso mais... Vejo a garotada aqui na cidade e acho que há muitos talentos para crescer. É só incentivar e investir. Enfim, voltar a Sacramento é recarregar as energias para mais uma temporada.