Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A luta de uma grande mulher

Edição n° 1217 - 06 Agosto 2010

A GGL PRESENTES está completando 15 anos. No seu 'debut', a proprietária Sandra Manzan Carvalho fala, em entrevista ao ET, de sua luta para transformar o pequeno estabelecimento, que nasceu em um dos quartos de sua casa, no grande prédio que hoje abriga a principal loja do bairro do Rosário. Sandra mostra a garra de uma pessoa determinada, que foi em busca de seus sonhos, mesmo diante de muitos sacrifícios. Conta também de seus dissabores por conta de maldades e calúnias. E agradece pela recompensa que recebeu por tudo que passou, não apenas pela grande loja, mas principalmente que chegou pela família lindamente construída, o marido Evaldo e três filhos maravilhosos, Geraldo, Getúlio e Liena. 

 

ET - Sandra me lembro de você com a loja na garagem bem pequena...

Sandra - Ah... Aquele tempo a loja já estava grande. Comecei mesmo dentro da sala de visita e um pouco no quarto dos meninos. O Geraldo era pequeno, ria e dizia que, no meu quarto, de dia é loja e de noite é quarto. Depois, passamos para a garagem de nossa casa e, mais tarde, comprei este prédio que estamos hoje, na época caindo aos pedaços. Em dois anos, nós o  reformamos todo, e aqui estamos já há quatro anos.

ET – Os filhos, então, eram todos pequenos...

Sandra – Sim. O Geraldo tinha 8 anos, a Liena 4 e o Getúlio 1 ano. O Evaldo, meu marido, se encontrava com problemas de saúde, tinha se submetido a uma cirurgia do coração muito séria e não poderia mais trabalhar como antes.

ET – Foi quando se sentiu na obrigação de ajudar em casa?

Sandra - E como! Fui á luta não medi esforços, prometi para mim mesma que para meus filhos nada iria faltar. Se Deus quiser e me ajudar, como até hoje nada faltou e tanto me ajudou, quero continuar trabalhando. No começo, os meninos mesmo pequenos me ajudaram muito, ficavam na loja, faziam cobranças... Deus me deu muita força.

ET – Como se arranjava para viajar e fazer compras? O caçula tinha um aninho...

Sandra – Foi realmente muito difícil! Eu viajava chorando, chorei muito! Dormia duas noites no ônibus por semana, cada semana eu viajava para uma cidade, no outro mês começava tudo de novo. Isso foi durante treze anos.

ET - Alguma hora você ficou desanimada, pensando em desistir?

Sandra - Não, eu tinha e tenho uma graça, uma força de Deus muito grande. Quando eu sentia muito grande o peso das sacolas, eu me lembrava daqueles três rostinhos lindos que eu tinha deixado em casa, minha força voltava, nunca desanimei. Eu chegava em casa à noite,mesmo cansada,montava vasos, cestas, sempre no maior pique, porque no domingo não fazia nada para a loja, tirava para dar atenção aos meus filhos. Ia onde eles queriam, eu perguntava: “De quem é o domingo?”, eles diziam: “É nosso!” Sempre trabalhei muito, mas também sempre soube conciliar a minha família e a loja. 

 

ET – Foi difícil conciliar a função de logista com dona de casa?

Sandra - Não é fácil... Chego em casa tem os problemas dos filhos,tenho que dar conselho,orientar,ensinar-lhes o que é melhor... Porque ainda não saí de todas as fases, ainda tenho o Getulio que esta na adolescência, que ainda precisa de muita atenção. Quando chego à loja, também falo com minhas funcionárias como se fossem minhas filhas, dou conselhos, orientações... Mas gosto do que eu faço, tenho uma equipe maravilhosa na loja que me ajuda, não tenho problemas, são muito responsáveis, cada uma faz seu trabalho, sem implicâncias. Sempre falo pra elas e para os meus filhos que com fé e honestidade conseguimos tudo!

ET – E de fato conseguiram, vocês têm uma família maravilhosa... Mas foi uma luta?

Sandra – Obrigada! É verdade, foi uma luta. Mesmo trabalhando, eu e o Evaldo soubemos dar uma boa educação aos nossos filhos. Nós os criamos com princípios de honestidade, dignidade e sempre com muita fé em Deus. Somos suspeitos ao falar, mas, graças a Deus, dos nossos filhos só recebemos elogios!

ET - Quantas funcionárias você emprega na loja?

Sandra - Tenho seis na loja e uma em minha casa. A Dulce faz oito anos que está conosco, a Raquel sete anos, a Gabriela três anos e a Viviane,a Fernanda e a Cintia têm mais ou menos uns seis meses. Tenho muito carinho por elas, não gosto que ninguém as maltrate, eu até brigo por elas, se for necessário.

ET – Ainda continua naquela rotina de viagens semanais?

Sandra - Hoje em dia não. Tenho muitos problemas de saúde, a coluna também não é de ferro, sinto muitas dores nas pernas, nas costas. Hoje, quem viaja para mim é a Raquel. Ela veio para nossa casa com apenas 14 anos, sempre me ajudou em tudo, parece muito comigo, mais até que minha filha, até nas atitudes, ágil, sem muita paciência, igualzinha a mim! O Evaldo diz que ela é nossa filha postiça. Para ela eu sou a 'Mami' e o Evaldo é o 'Papi'. É nossa filha do coração. Ela sempre teve muito interesse em aprender desde os 14 anos tem uma garra imensa, nem a família dela acreditava que ela teria tanto empenho, lembro que quando ela entrou, o irmão dela brincava falando que aquela vontade toda de trabalhar, seria só fogo de palha. Mas a mãe dela, o pai e o irmão me deram sempre muito apoio para ela ser hoje essa menina boa, honesta, que tanto me ajuda. 

ET – A GGL presentes é, na verdade, uma família...

Sandra – É essa a palavra. Somos aqui uma família. Uma extensão de minha família. Sempre digo aos meus filho que, quando somos bons, fazemos as coisas sempre com honestidade, ajudamos as pessoas, nunca falta ninguém para nos ajudar. No meu caso, são minhas funcionárias: a Raquel faz as compras, as outras funcionarias têm cada uma a sua tarefa, de ir aos bancos, fazer cobranças, vender e assim vai. Somos muito felizes aqui na loja. Falo que aqui acabamos com a depressão de qualquer um. Rimos muito, brincamos... Aqui chegam tantas amigas, amigos ficamos batendo papo, é muito gostoso. Nossa clientela é muito boa e temos mais do que clientes, temos verdadeiras amigas e amigos.

ET – Falando em seus funcionários, você viveu momentos tristes também com a morte do Gustavo, no acidente do rio Grande.

Sandra – Muito, muito tristes... Gustavo era também como um filho, sempre tão atencioso. Ajudou-me muito e me ajuda até hoje, às vezes sinto sua presença. Mas hoje não o lembro mais com tristeza, pelo contrário, acho bom lembrar dele. E só tenho boas lembranças, amigo dos meus filhos, das colegas de serviço, foi colega da Raquel e da Dulce. Sofri muito com sua morte, até que um dia depois de muitas lágrimas, eu sonhei com ele... Ele sorria para mim, eu falei para ele: “Gustavo, volta para a loja”. Ele respondeu: “Não, agora eu trabalho aqui”. Era um lugar muito bonito. Eu disse a ele: “Eu te pago mais, vamos!” Ele riu para mim e respondeu: “Aqui eu não ganho nada, mas não me falta nada!” Daquele dia em diante tive ele como um anjo, não chorei mais. Mas sinto muita saudade... 

 

ET - Esta foi a maior dor que você teve em seu trabalho não é mesmo Sandra? 

Sandra - Foi, mas ele está com Deus, isso me conforta muito. Mas recentemente sofri muito com a maldade do povo. Eu nunca pensava que poderia existir gente tão cruel a ponto de inventar uma maldade tão grande. Sempre pensei que as pessoas só aumentavam, não inventavam. Hoje, vejo que elas inventam e ainda aumentam... Agora vejo como São Geraldo sofreu quando o caluniaram e que calúnia! Uma pessoa muito cruel e maldosa espalhou por toda cidade e até para outras cidades, uma coisa horrorosa sobre eu e a minha filha do coração. Digo a toda cidade de Sacramento, juro pelo que mais amo na minha vida que são os meus filhos, pela nossa inocência. Não posso deixar de agradecer às minhas amigas que tanto me apoiaram e foram solidárias comigo. Tive amigas que brigaram por mim, até juraram pelos seus netos pela nossa inocência. Obrigada, amigas, Deus lhes dê a recompensa, amo muito todas vocês, são tantas que não posso dizer o nome, pois corro o risco de esquecer alguma. Deus vai sempre ajudar vocês.

ET - E a Raquel, como ficou?

Sandra - Ela chorava e ainda chora muito, mas, mais apegadas ficamos. Vamos vencer isso juntas, tudo aconteceu depois de um término de um namoro dela, mas digo aos nossos inimigos, se a intenção era de separar ela de nossa família se enganaram. Estamos juntas,de pé, se Deus quiser, para ver o que vai acontecer a quem nos caluniou. Pois a justiça divina tarda, mas não falta.

ET - Você hoje perdoa essa pessoa que inventou e os que levaram essa conversa para frente?

Sandra - Não, não! Não dou conta ainda, estou longe de ser um 'São Geraldo', que perdoou seu inimigo. Só se vierem de joelho até nós, pedirem desculpas e explicarem o por quê de tanta maldade. Doe muito saber que soltaram nosso nome como se fosse um papel picado, sem nem mesmo saber o porquê de tanta maldade, se foi vingança ou inveja, isso me serviu de lição, não acredito mais em conversas sem provas. Não só tenho mágoa de quem inventou como de quem ajudou a espalhar. Mas entregamos nas mãos de Deus, que ele tome suas providências.

ET – Sandra, você tem muitos amigos, é uma pessoa  forte na fé. Você é uma mulher vencedora, tem hoje sua própria loja depois de tantos sacrifícios. É uma mulher da sociedade, muito querida. Deus te deu lindos filhos, uma vida realizada, agora é só alegria, não acha? A Raquel é outra joia da família. Não se deixem abater. As bocas maledicentes sempre existiram e vão continuar existindo, por conta da inveja e da maldade. Deus saberá como recompensá-las. 

Sandra - Sei que Deus é justo e sabe o que faz, mas não poderia deixar de desabafar isso a minha cidade que tanto amo e que todos me conhecem... Como diz meu filho Geraldo, aqui nasci aqui vou viver e morrer, sempre com muita honestidade e dignidade.                           Um grande abraço a todos. Muito obrigada!