Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

15 esclarecimentos sobre o Oriente Médio para você nunca mais esquecer

Edição nº 1710 - 17 de Janeiro de 2020

"Meu Deus, quanto ódio e quanta desinformação". Com essa frase, a escritora Lúcia Helena Lissa expôs o seu espanto diante da ignorância de milhões (ou será bilhões) de pessoas em relação ao que vem acontecendo no Oriente Médio. Ela, que já viveu e conhece a região em recente matéria divulgada na internet, se disse  espantada com a quantidade de mentiras espalhadas após a tensão entre Irã e EUA. O quase conflito levou as Tvs e demais mídias do mundo inteiro a dispensar grandes espaços para noticiar o que pode acontecer.  Para entender um pouco da história e se situar melhor diante da situação, o ET transcreve esse pequeno manual elaborado pela jornalista  Helena para explicar alguns conceitos básicos aos brasileiros sobre o Oriente Médio.

Como jornalista e escritora que esteve seis vezes no Oriente Médio (quatro delas na Palestina, em Ramallah, Belém, Jerusalém, etc., a Palestina real, a parte o mundo todo considera Palestina e não Israel, e outras na Síria, Egito, Marrocos e Líbano), e que está para lançar um livro sobre o assunto, sinto-me no dever de explicar alguns conceitos básicos aos brasileiros sobre o Oriente Médio:
1) Os iranianos não são árabes mas têm um imenso respeito e afeto pela cultura árabe e pelos árabes em geral, mesmo sendo persas, ou seja, herdeiros de uma das mais antigas, culturalmente ricas e mundialmente respeitadas civilizações do mundo: a antiga civilização persa.
2) O Irã, ao contrário dos EUA, jamais invadiu países ou jogou bombas atômicas em lugar algum do mundo. Os EUA foram o único país do mundo a fazer isso. Suas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki mataram milhares de pessoas, muitas delas bebês.
3) De 1919 a 2019, os EUA já invadiram ilegalmente mais de 40 países do mundo, bombardearam e mataram milhões de civis, destruíram economias, estupraram, torturaram civis, cometeram crimes de guerra e manipularam a opinião pública mundial para que não fossem jamais punidos por isso.
4) Judaísmo e sionismo são conceitos muito diferentes. Entrevistei centenas de judeus que não apoiam o sionismo de EUA e Israel, um projeto de dominação do Oriente Médio que prevê o genocídio completo do povo palestino.
5) A palavra “judeu” não se refere a uma etnia, mas a uma religião. E é exatamente por isso que a ONU e o mundo todo condenaram Israel quando recentemente o país se declarou um “Estado Judeu”, mesmo tendo milhões de cristãos árabes e muçulmanos árabes vivendo em Israel, pois isso se configura um Apartheid religioso, sim. Pessoas que vivem em Israel são israelenses e não necessariamente judeus; e há milhões de não-judeus em Israel que hoje são impedidos até de frequentar uma rodovia ou uma escola, construídas apenas para judeus. Vi em Israel ruas em que não-judeus, inclusive eu como cristã, são proibidos de entrar. E isso, em qualquer país do mundo, se chama segregação. Além disso, judaísmo (religião) e sionismo (movimento político) são coisas completamente diferentes.
6) A palavra “muçulmano” também jamais se referiu a uma etnia e sim a uma religião. Existem brasileiros muçulmanos, indianos muçulmanos, árabes cristãos e muçulmanos chineses. Existem milhões de árabes cristãos no mundo, como eram meus avós, que imigraram para o Brasil. Os muitos cristãos que entrevistei na Palestina defendem os direitos dos palestinos muçulmanos e estão mais próximos dos palestinos em geral do que do governo de Israel! Quem acha simplesmente que o conflito em Israel é um” conflito entre judeus e árabes” nunca esteve na Palestina, não lê nenhum autor sério e não sabe nada sobre a região ou sobre o conflito.
7) Ninguém jamais deixou de ir a Palestina porque o Hezbollah impediu, até porque o Hezbollah é um partido político e um exército não oficial do Líbano, e não da Palestina!
8) O Hamas é um partido político com um braço armado, e um partido que hoje domina a Faixa de Gaza e não a Palestina como um todo, que é governada pela Autoridade Palestina, que já criticou inúmeras vezes o Hamas.
9) Uma significativa parte do Líbano é cristã, da Síria também, no Irã também existem cristãos e judeus vivendo bem e sendo respeitados em sua fé. Muitos cristãos só começaram a morrer na Síria recentemente depois que membros do ISIS (Islamic State of Iraq and Syria – forma adotada pela imprensa: 'estado islâmico' ou EI) foram armados pelos EUA para derrubar Assad (em vão), alimentando uma guerra que já dura oito anos e já matou mais de 500 mil pessoas na Síria, onde estive recentemente.
10) Todos os países de maioria islâmica condenaram os atentados de 11 de Setembro (menos o Afeganistão). Todos os muçulmanos que conheci pregam a paz e condenam os atentados dos extremistas. Assim como os cristãos condenam extremistas cristãos que pregam o ódio aos gays, a outras religiões, etc.
11) Os EUA têm milhares de muçulmanos vivendo em paz em seu território e integrados em suas comunidades, cientistas e médicos premiados, professores universitários muçulmanos que nunca aparecem na sua TV.
12) A prefeita da sede da Autoridade Palestina é mulher e cristã, assim como a prefeita de Belém, a quem já entrevistei e cuja foto comigo já publiquei aqui. A mulher de Arafat, líder muçulmano histórico dos palestinos, era cristã e muito amada pelos muçulmanos!
13) Os cristãos iraquianos, que eram protegidos por Saddam Hussein no Iraque, começaram a morrer ou a deixar o Iraque, aterrorizados, depois da invasão dos EUA.
14) Os primeiros atentados terroristas na região do Oriente Médio atual foram cometidos por terroristas judeus de um grupo chamado Irgun, e não por muçulmanos palestinos. Historiadores israelenses sérios já falaram sobre isso.
15) Ytzhack Rabin, político amado por vários povos e líder dos judeus israelenses, foi assassinado em novembro de 1995, durante um atentado cometido por um judeu de extrema de direita e não por um muçulmano.