Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Carolina é destaque na série 'O que nos une', na semana da Consciência Negra

Edição nº 1754 - 27 de Novembro de 2020

Comemorou-se na última sexta-feira, 20 de Novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra e, para marcar a semana, a  TV Globo exibiu a série especial, 'O que nos une', trazendo depoimentos  de pessoas  que são exemplos. É o caso de Izabel Monteiro, de 33 anos, que trabalha na Biblioteca Carolina Maria de Jesus, do Museu Afro Brasil, em SP, que participou do programa na terça-feira, 17. Ela vê similaridades entre sua vida e a da escritora Carolina Maria de Jesus, autora de 'Quarto de Despejo'. “Sempre fui em busca dos meus sonhos, como ela”, disse a bibliotecária. 

 

De acordo com Izabel, antes de ela entrar na faculdade para cursar Biblioteconomia, fez um preparatório no Cursinho Popular Carolina de Jesus, no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo. Saiu de lá, como diversos outros estudantes, sem saber sequer que era uma importante escritora negra que dava nome ao local. Também mal sabia que essa coincidência faria tanto sentido poucos anos depois, quando conseguiu um estágio na Biblioteca Carolina Maria de Jesus, que faz parte do Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera.

"Até então, eu não sabia a importância dessa mulher negra na literatura brasileira. E aí eu vim trabalhar no museu, onde tive o contato com as obras da Carolina. Inclusive, eu li todos os livros da Carolina, sou fã da escrita dela. Preservar essa memória é uma responsabilidade muito grande, um desafio que eu faço com o maior orgulho", afirma Izabel.

Depois de estudar sobre a vida da escritora, Izabel viu familiaridades entre a história delas duas. Carolina Maria de Jesus saiu de Sacramento para tentar a vida em São Paulo, onde se instalou na favela do Canindé, na Zona Central. Os pais de Izabel também deixaram o Nordeste em busca de oportunidades na cidade grande do Sudeste.

"Eu moro no Capão Redondo, em uma das maiores favelas aqui do estado de São Paulo, e eu também fui em busca do meu sonho. Mesmo sofrendo preconceitos por ser mulher, por ser negra. Eu sempre procurei o melhor pra minha vida. Como a Carolina. Então, acho que essa é a maior ligação entre nós, além da paixão pela literatura", reflete e resume que, o título da grande obra da escritora, "Quarto de Despejo", faz referência à favela, ao lugar onde a sociedade joga o que não presta. "É aquele quarto de entulho, onde você joga o que não utiliza mais. Ela dá esse grito para que as pessoas olhem para as favelas, para os favelados", alerta Izabel, citando o best-seller de Carolina, traduzido em 14 países e que este ano completa 60 anos de seu lançamento em São Paulo, em 1960.

Sobre a própria vida, Izabel exalta o momento em que começou a trabalhar no Museu Afro Brasil como o ponto de virada para que ela começasse a entender questões sobre a própria negritude.

"Nesse espaço eu consegui me colocar e me entender como mulher negra, como cidadã brasileira, entender os meus direitos. Entender que vivemos em uma sociedade racista, mas não podemos desistir. E não só pela cor, mas também pela questão da religião, que eu não conhecia muito o candomblé, a umbanda. Eu passei a entender essa questão do respeito, entender que faz parte da cultura brasileira", Izabel reflete.

Apontado como o segundo maior museu temático de arte africana do mundo, o Museu Afro Brasil conta com cerca de 8 mil peças em seu acervo. A Biblioteca Carolina Maria de Jesus abriga cerca de 15 mil livros, em sua grande maioria de autores negros ou que abordam assuntos ligados à cultura negra.

 

https://g1.globo.com/consciencia-negra/noticia/2020/11/17)