Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dig Dutra do Zorra Total fala ao ET

Edição nº 1438 - 31 Outubro 2014

Para quem o nome Dig Dutra é estranho, lembrem-se da Abadia, aquela menina do Zorra Total que roda as tranças. Pois é ela mesma, a artista global que se apresentou no Galpão Cultural da Escola Eurípedes Barnsanulfo no último sábado, como parte de mais um espetáculo do Mês Cultural, promovido pelo Laticínio Scala. Muito simpática, após o café da tarde no LaMiró, Dig recebeu o ET para uma entrevista, revelando os segredos da personalidade feminina. Um universo que ela chama de enigmático, complicado, intenso e impulsivo.  Veja a entrevista:

 

ET- Como é que os homens devem agir para conviver com esse ser enigmático, complicado, intenso e explosivo? 

Dig - Mas é tão fácil, gente!!.. Eu não sei como as pessoas não conseguem entender (risos).  Brincadeira. É complicadíssimo, nem a gente se entende!. Mulher é assim, tem coisas que são só delas mesmo. Então, eu acho que as mulheres são tão divertidas e os homens são tão sem graça... Diante de algumas dessas situações que apresento na peça, você não sabe qual vai ser a reação dela, você não sabe o que aquilo vai gerar, então é sempre uma aventura conviver com uma mulher. 

 

ET – Aos homens só lhes restam uma palavrinha mágica, paciência.

Dig - Ah, isso com certeza!

 

ET - De todos os extremos qual é o pior? 

Dig - É a TPM, com certeza. Ela justifica tudo o que a mulher faz (risos), como se a gente tivesse permissão pra todos os excessos... 

 

ET - Dig, como autora do texto, você viveu essas situações... tipo, é supersticiosa, já quis se matar um dia, é viciada em doenças?...

Dig - Não, nunca quis me matar, também não sou hipocondríaca, nunca fui de tomar remédio... Então, eu tomava era um melhoral infantil na infância  e uma aspirina e olha lá. Eu não sabia nem o nome das doenças. Sou só um pouquinho supersticiosa (risos). Então eu precisei fazer uma pesquisa bem aprofundada para eu poder estar nesse universo delas e eu descobri coisas incríveis, conversei com médicos, com pessoas que têm hipocondríacos na família. E daí descobri histórias engraçadíssimas. Tipo de alguém que está arrumando a sua bolsa e acha uma cartela de comprimido, e diz: 'Nossa não sei nem pra que serve isso'. A amiga que está junto, claro, hipocondríaca, diz: 'Ah, então me dá que eu tomo (risos). Então, com essa pesquisa, com esses depoimentos e mais a licença poética da criação foi nascendo o texto, daí eu criei até coisas absurdas. Mas eu precisei fazer bastante pesquisa mesmo. 

 

ET - Como foi a criação da suicida em potencial?

Dig - Então, essa é a personagem Valentina. Por ser uma suicida, ela tenta se matar 14 vezes e não consegue, ela fracassa todas as vezes. Então, eu tive que pesquisar formas de se matar, como a pessoa é capaz de tirar a sua própria vida. Daí eu fiz uma relação de todas essas maneiras, mas bem cômicas, sem dramas, só pelos repentes das complicações do universo feminino, e fui desenvolvendo um texto em cima de cada uma.  Eu gosto muito dessas brincadeiras. 

 

ET - Mas um pouquinho supersticiosa, a Dig é...

Dig - Sim, um pouquinho. Eu sou mulher né (risos). Eu adoro quando me contam uma coisa nova, uma simpatia. Por exemplo, tem que ter espelho na sala, ai vai todo mundo comprar o espelhinho para colocar na sala. Eu adoro essas coisas, igual dicas de beleza. Nossa, tem que passar abacate no cabelo. Daí eu passo um mês passando abacate no cabelo... 

 

 

ET – Você tem algum tipo de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)?

Dig - Também tenho um pouquinho (risos). Mas estou me libertando. Por exemplo, quando eu ia dependurar as roupas no varal eu tinha que combinar as cores dos grampos com a das roupas. Mas eu estou me libertado. Isso me causava um problema, porque eu não tinha grampo de todas as cores... E eu não conseguia parar de fazer isso. Eu tenho muitas manias, eu sou uma pessoa muito organizada eu tenho tudo anotado, caderno para tudo, lista de tudo, adoro lista. E tem uma personagem minha que faz dieta, que também é um grande drama de uma mulher, um motivo muito grande para uma mulher se estressar, porque vivemos de dieta. Me identifico muito com essa personagem também. Então se você falar algo que emagreça eu já vou começar a fazer. Não só uso no espetáculo como na vida. Enfim, acabo me vendo um pouco em todas as personagens.

 

ET- O espetáculo tem pontos de intensidade dramática, trabalhando assim a reflexão?

Dig - Não, esse espetáculo é comédia mesmo, ele é literalmente cômico é um show de humor. É mais para se divertir, dar risada, é brincar com esses exageros, não chega a ser reflexivo. E a mensagem é para a gente se olhar e se ver como humor mesmo, porque só esse exagero que a mulher já traz na vida é engraçado. Se parar para ver, o nosso dia a dia já é engraçado, é só olhar com bons olhos. 

 

ET - Pode falar um pouco da menina doidinha do Zorra Total, que gira as tranças?

Dig – Bom, a Abadia do Zorra Total veio da personagem Suelen, da minha peça, que é uma criança psicopata. Depois que um dos diretores do Zorra me viu rodando as tranças no espetáculo me convidou para entrar no Zorra, como Abadia. Mas no Zorra ela não podia ser tão psicopata, assim, então ela ficou um pouco politicamente correta. Ela se tornou a heroína do Patrik, ela usa a trança pra salvar o noivinho. Ela ficou mais ingênua, mais pura do que a Suelen, a original do espetáculo. Mas eu acho que as duas tem uma inocência, só que uma a gente tem dúvida se ela é ingênua mesmo ou uma danada e a outra tem uma pureza. 

 

ET - Que importância você vê numa empresa que proporciona esse tipo de cultura à cidade? 

Dig -  Eu acho maravilhoso e eu fico muito feliz em levar o meu espetáculo a lugares que estão mais distantes do eixo cultural. E pra mim é um prazer esta com essa plateia, esse público e trazer novidades pra eles. E tiro o chapéu para os produtores que investem em cultura e que trazem cultura para as pessoas. E acho que isso muda o país. Oxalá todas as empresas patrocinassem espetáculos culturais como esse.


ET – Pra terminar, um pouquinho de Dig Dutra por ela mesma...

Dig -  A Dig Dultra, que sou eu, é a verdade que essa arte tem em mim. Eu amo fazer teatro. Eu, independente da minha carreira televisiva, o teatro é onde eu me encontro, onde eu vou buscar coisas, onde me reconheço, onde eu aprendo e aprenderei, aqui também, hoje, porque a plateia me subsidia para eu poder crescer, para o meu amadurecimento profissional. Então, eu vejo a minha essência toda aqui no palco. Eu, com muito orgulho, sou um bicho do Paraná, curitibana. Estou há 12 anos no Rio de Janeiro.