Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Há 100 anos nascia Corina Novelino

Edição n° 1322 - 10 Agosto 2012

Corina Novelino, sacramentana por mérito e direito, completaria neste domingo, 12 de agosto, 100 anos de nascimento. Corina viveu apenas 68 anos. Morreu em 10 de fevereiro de 1980, mas seu trabalho foi maior que sua vida e deixou marcas, que a fez  perpetuar-se como a Mãe Corina de suas filhas do Lar de Eurípedes, a Mãe da Luz, 

a Mãe da Caridade, a Mãe do Saber.

Mãe Corina tornou-se sacramentana por título de Cidadania, em concorrida sessão solene, realizada no dia 1º de Maio de 1977. As homenagens foram muitas e merecidas, de autoridades e convidados. Corina é, como bem definiu a professora Eleuza Pontes, por ocasião das comemorações dos 25 anos do Lar de Eurípedes, em 3 de maio de 1978,  e que muito bem pode exemplificar, hoje, o trabalho magnânimo dessa criatura que permanece como o exemplo mais puro de doação e amor na cidade:

“- Uma página sempre viva e sempre presente. Você, Corina querida, alma pura e cristalina como a fonte, que para o trabalho espiritual nunca mediu sacrifícios nem renúncia. Sua vida foi um apostolado. Você abriu esses pequenos e fortes braços e disse como  o mestre, 'venham a mim vocês que são crianças  e eu as guiarei pelo caminho da vida'. E como desempenhou essa tarefa! (...)”. 

 

O legado de Corina Novelino

 

O lar de Eurípedes foi de fato uma de suas maiores obras em Sacramento. Um lar para abrigar menores abandonadas e ou carentes, que começou a partir de uma rifa de um carro zero km, uma máquina de costura e um rádio, que deu recursos suficientes para adquirir uma casa e ali criar uma instituição, batizada de Lar de Eurípedes, com a presença da primeira filha, Cleuza Rosa Ramos, que ali recebeu amor, carinho, formação moral e cultural.

E assim foi com todas as demais filhas que chegavam, conforme relação feita por Celma Silva e outras filhas de Corina: Nazareth, Leuza, Leuzana, Djanira, Celma Silva, Aparecida Tiago, Maria Helena, Vanda de Oliveira, Vanda Pereira, Graciete, Norma, Lúcia Helena, Denísia, Ilda, Aldair, Maria das Graças, Tereza, Clarice, Mirian, Agostinha, Sandra, Zilda, Eva Maria, Eva Ester, Eva Izilda, Marlene, Maria José, Cristina, Maria Aparecida (Cidinha), Mariléia, Marilene (Lena), Elizabeth (Betinha), Leonira, Joana D'arc, Salésia, Edna, Ednamar, Zilamar, Lucinei, Maria Elvira, Maria das Dores, Cirene, Valéria, Geny, Mara, Magali, Ivone.

Também de saudosas memórias, as filhas: Olguinha, Maria do Rosário, Mariana, Degeny, Ana Nery e Rosalmira e, finalmente, aquelas que passaram pouco tempo no Lar, mas que foram as  meninas pioneiras no período integral ou creche, visão evoluída que Mãe Corina já tinha naquela época, e que hoje em dia está em evidência: Paula, Emília, Ivonete, Noêmia, Inês, D'arc, Carminha, Magela, Ivana,  Elenice (Branca), Maria Helena (Leninha), Lucinha, Alba, Cleurimar, Sônia, Regina, Solange, Sandra, Cirlene, Prosópia, Pompéia, Ana Maria e Tânia. 

A casa ficara menor, assim como o seu ordenado de professora todo destinado à manutenção do Lar. Mas Corina não esmoreceu. Uma nova e ampla casa era preciso. Vários movimentos foram realizados, muitos sacrifícios, muito trabalho e,com a ajuda de colaboradores de Sacramento e outras plagas, Corina concretiza a criação. E naquela obra, quase 100 crianças passaram pelo Lar, recebendo todo o carinho e abnegação de Mãe Corina, que cumprira um pedido de Eurípedes Barsanulfo. 

Relata a história que Corina, aos 20 anos, chegou a pensar em deixar Sacramento, mas recebeu das mãos de Chico Xavier,  uma mensagem psicografada de Eurípedes que dizia: “Corina, você é minha última esperança em Sacramento”. E decide-se ficar.

Outra obra de destaque de Corina Novelino foi sua excelência na educação como professora de Português e Literatura, que a fez criar no Lar de Eurípedes a mais completa biblioteca literária da cidade até então. 

Aposentada como professora, não parou o seu trabalho, ensinava aqueles que necessitavam de reforços para concursos, e mais,  tratou de idealizar outras obras, como o Educandário Eurípedes Barsanulfo, no imponente prédio do bairro João XXIII e a Escola Vó Meca. E ali mesmo, nas salas do térreo do imponente Colégio Allan Kardec, Corina cria o primeiro Curso Ginásio Noturno de Sacramento, equivalente hoje ao ensino do 5º ao 8º ano do ensino fundamental, especialmente para atender aqueles jovens que trabalhavam o dia todo e que gostariam de prosseguir nos estudos. 

Mulher de amor sem limites, Corina, deu exemplos de caridade em todos os sentidos. Deu vida no seu significado mais completo, deixou lições inesquecíveis no coração da cidade, que a adotou como filha dileta, depois de usufruir de seu profícuo trabalho e ensinamentos, durante  47 anos, desde que optou em permanecer na cidade aos 20 anos  de idade. 

Corina viveu entre nós por apenas 68 anos, pouco tempo, para um trabalho tão profícuo.  Mas alguém precisa dela do outro lado e sua morte resume-se na mensagem de que o que importa não é a quantidade de anos vividos, importa sim, a grandeza do trabalho realizado.

 

Corina recebeu todas as honras

 

Corina, além do título de Cidadã Honorária Sacramentana, outorgado pela Câmara Municipal, recebeu o título de Mãe do Ano; do jornal O Estado do Triângulo, o título de  Personalidade do Ano, além das homenagens dos poderes Executivo, na pessoa do então prefeito José Alberto Bernardes Borges e do poder Legislativo, que se instalara, pela primeira vez fora do Paço Municipal, no salão do Colégio Allan Kardec, no dia 10 de fevereiro de 1980, por ocasião de seu falecimento. 

Na sua  mensagem, o ex-aluno e presidente da Câmara, José Rosa Camilo exortou: “Que o pavilhão de Sacramento cubra o seu ataúde numa demonstração de homenagem maior que o Poder Público presta aos seus grandes filhos. Aqui a gratidão de todo um povo que reconheceu no seu labor humilde e silencioso a 'Mãe Corina' de todos. Com o auxílio de suas mãos não foram poucas as vezes que testemunhamos o seu amor, no próprio esquecimento de si mesma, chamando para si a responsabilidade dessa enorme tarefa de promoção do próximo. Foi a Mãe Corina dos pobres, dos sofredores, dos órfãos, dos loucos, dos necessitados, dos abandonados, dos miseráveis... Mãe Corina de todos nós, nosso eterno e imorredouro muito obrigado”.  

O missionário redentorista, Pe. José Marques Dias, vigário da paróquia na época, em sua mensagem, ressaltou: “À memória de Dª. Corina, 'O que fizerdes ao menor dos meus irmãos é a mim que o fazeis'. Nós, da Comunidade Católica, nos unimos ao sentimento do povo de Sacramento, que vê perder uma das pessoas que mais se doou aos pobres de sua comunidade. Sua doação, generosidade e entrega foram sinal claro de que o amor constrói e cativa. Foram muitos os que ficaram órfãos de seu amor, de sua presença, mas engrandecidos por seu exemplo de dedicação e entrega. Deus lhe pague, Dª Corina”. 

Reconhecido como órgão de utilidade pública, o Lar de Eurípedes passou a receber subvenções do poder público, ajudando nas suas despesas. Após a sua morte, passou de internato para semi-internato, até encerrar suas atividades no prédio da rua Comendador Machado.

A obra de Corina Novelino continua na Creche Corina Novelino, no Educandário Eurípedes Barsanulfo, na Creche Vó Meca e na Chácara Triângulo, sob os cuidados de Heigorina Cunha, onde são  confeccionados enxovais de bebê.  

 

Corina e sua história...

 

Nascida em 12 de agosto de 1912, filha de José Gonçalves Novelino e Josefina de Melo Novelino, Corina passou muito pouco de sua infância na cidade natal, Delfinópolis, naquele tempo denominada, Espírito Santo da Forquilha, pois ainda jovem ficou órfã de pai e mãe, passando a residir com o casal José e Edalides Rezende, irmã de Eurípedes Barsanulfo, que lhe dispensou todo o amor e carinho de que sempre foi merecedora.

Desde cedo um espírito caritativo, de desprendimento e de doação pelos seus semelhantes mais humildes, falava muito alto em seu coração. Quando então, contava com apenas 20 anos foi convidada por dona Maria Modesta para ajudá-la a administrar um Lar de Crianças, na cidade de Uberaba. Indecisa e pensativa, depois de muito meditar, resolveu aconselhar-se com Chico Xavier, que não conhecia pessoalmente e que vivia em Pedro Leopoldo. E foi ter-se com ele. 

Porém, eram tantas as pessoas que lhe queriam falar, que ela pensou que não conseguiria. Mas, para sua surpresa, após o culto, Chico Xavier, pede para chamar Corina e entrega-lhe uma mensagem que havia recebido de Eurípedes Barsanulfo, que dizia, “Corina, voce é minha última esperança em Sacramento”. Tão emocionada ficou que não conseguiu, naquele momento, entender o significado de tão importante mensagem. Mas, decidiu permanecer em Sacramento e dedicar-se à missão, embora nao soubesse ainda claramente qual. 

Assim que chegou, fundou o Clube das Mãezinhas, formado de mães caridosas que se dipunham a costurar para as crianças pobres. Seu ideal era fazer crescer o atedimento aos necessitados, principalmente aos menores. 

Corria o ano de 1950... Mais uma criação surgiu para ela. Criar um lar para menores. Mas como? Onde? Com que meios? Daí surgiu a ideia miraculosa de fazer a maior rifa, até então realizada em Sacramento, com a ajuda da saudosa Tia Ruth. E foram sorteados um carro 0 km, uma máquina de costura e um rádio. Com o dinheiro arrecadado, Corina adquiriu a casa do nosso cantor enamorado do Borá, Homilton Wilson (no pátio do Colégio Allan Kardec). E ali criou o tão esperado Lar de Eurípedes. 

Para a manutenção do Lar, além de seu salário de professora e ajuda de colaboradores, Corina contava com a ajuda das constantes e abnegadas, Maria da Cruz, Amália Ferreira de Melo, Carmem Natal e sua irmã, Jandira Novelino. 

Mas era preciso mais para atender a tantas crianças numa casa tão pequena. E agora? Uma nova criação vem à mente. E, com coragem e fé partiu para um novo empreendimento: a construção de um novo lar. 

Criar é ato de fé. Só quem tem fé tenta uma solução nova. Alimenta um projeto pessoal ou comunitário e o realiza. E assim iniciou-se a construção do novo lar, muitos movimentos foram feitos.  O povo de Sacramento e das regiões vizinhas cooperou no empreendimento e, dentro em pouco, erguia-se o novo prédio, onde passaram a ser amparadas as suas crianças e onde Corina passou a ser conhecida como, a "Mãe Corina".Ali as crianças passam sua infância, recebem formação integral, religiosa e intelectual e dali saem boas profissionais, donas de casa, esposas e mães de família.

A criação é a gênese da participação. E Corina não participou apenas do Lar de Eurípedes, fez mais: participou da vida sócio econômica, religiosaa e cultural da nossa cidade. 

Como escritora nata, smepre colaborou com os jornais edidatados em Sacramento, desde Homilton Wilson, com 'A Tribuna', até o atual, 'O Estado do Triângulo'. Publicou  livros, dentre eles 'Escuta meu filho', e 'Eurípedes, O homem e a Missão', lançado por ocasião do centenário de Eurípedes, em 1979.

E deixou uma geração de pupilos que degustaram seu saber, carinho e exemplos de humildade como professora da Escola Estadual Coronel José Afonso de Almeida, desde 1944 até os anos 70.