Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Cineasta quer rodar filme no Desemboque

Edição n° 1273 - 02 Setembro 2011

 

A vila histórica do Desemboque pode ser cenário do filme Vila dos Confins, baseado no romance homônimo de Mário Palmério. A iniciativa é do cineasta,  João Batista Andrade, que acompanhado da secretária de Estado de Cultura, Eliane Parreiras e do secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Nárcio Rodrigues, apresentou, ao governador Antonio Anastasia (5 de julho),  o projeto do filme, 'Vila dos Confins', que será inteiramente rodado na região, já com o aval da Secretaria de Estado de Cultura, através do Minas Film Comission.

E se depender do aval da Prefeitura de Sacramento, este foi dado pelo prefeito Wesley De Santi de Melo, ao receber o cineasta João Batista Andrade em seu gabinete, por ocasião de uma primeira visita que fez aos povoados do município, em agosto ultimo, procurando locações para o longa, que espera filmar a partir de abril do ano que vem.  

“- Sacramento recebeu com muita alegria a notícia, primeiramente veiculada pelo nosso ET e, agora, recebendo a honrosa visita do cineasta João Batista de Andrade, que nos passou a sinopse do projeto. Eu disse a ele que o município se coloca a sua disposição para rodar esse filme aqui, aproveitando em especial a vila histórica do Desemboque, os demais povoados, assim como as estações históricas de Jaguara e do Cipó e também a própria cidade.  Naquilo que nos for possível contribuir, prometi a ele, que nos colocaremos inteiramente a sua disposição”, disse o prefeito Wesley ao ET, logo após falar com o cineasta, que o visitou em seu gabinete, na companhia do advogado Paulo de Tarso Natal Fonseca. “A pedido do deputado Nárcio, hoje Secretário de Estado, estou acompanhando João Batista nessa visita e, também torcendo para que as filmagens aconteçam em nosso município”, disse o advogado. 

Veja, a seguir, a entrevista que João Batista de Andrade concedeu ao ET.

 

ET – Qual o objetivo de sua visita a Sacramento e ao prefeito Wesley?

João Batista - Estou com um projeto do 18º filme da minha carreira, o 'Vila dos Confins'. Sou mineiro de Ituiutaba, fiz carreira em São Paulo, mas a convite de Nárcio Rodrigues voltei a Minas. Essa visita aqui hoje, não é técnica, vim conhecer a cidade, sentir as possibilidades, pra depois tomar uma decisão. Espero filmar no ano que vem, se as empresas mineiras me derem os recursos previstos por lei. Em caso positivo, a partir de abril, vamos estar por aqui nos preparando, para iniciar as filmagens em agosto. Eu quero o tempo da seca. Sou cineasta e não fotógrafo de paisagem. A seca é mais dramática e muito mais bonita no cerrado, a poeira, tudo.

 

ET – Qual o orçamento do filme e a contribuição que o Sr. busca junto à Prefeitura da cidade?

João Batista - O filme está orçado em R$ 4,5 milhões, com recursos oriundos de empresas através das leis de incentivo fiscal. Digo para vocês que não vim buscar dinheiro nem do governo do Estado e nem da Prefeitura. O projeto tem que ser feito através das leis de incentivo fiscal (Lei Rouanet). É bastante dinheiro para esse filme e é importante que as leis funcionem. As empresas é que devem financiar o filme e descontar no imposto de renda.

 

ET – Qual o benefício para a região ao rodar um filme como Vila dos Confins?

João Batista - Os benefícios locais está no fato de a produção do filme criar um momento especial para a região, atraindo o interesse turístico e empresarial, além de gerar mídia espontânea e, o mais importante, é que a maior parte do orçamento do filme será gasta na região, gerando empregos e movimentação comercial.

 

ET – A Vila dos Confins já está definida, será no Desemboque?

João Batista - É importante a definição de uma cidade cenário. Eu gostaria que fosse Sacramento, por várias razões: a história se passa na região do Triângulo Mineiro; convidei Lima Duarte para fazer o Coronel Chico Belo, ele nasceu no Desemboque e de fato aquele povoado tem muito a ver com a história, o cenário. Então, pretendo filmar em Sacramento. Há algumas dificuldades, por exemplo, as mudanças. A história se passa nos anos 1950 e as cidades mudam, mas eu já fiz uma vila inteira para a filmagem de O Tronco (1999), baseado no livro de Bernardo Élis e estrelado por Ângelo Antônio, Letícia Sabatella, Chico Diaz, Rolando Boldrin e Antônio Fagundes. Não é o caso aqui, porque há muitas casas parecidas, é só fazer as adequações. Não precisaremos construir a vila toda. 

 

ET – O Desemboque não tem tantas casas...

João Batista - Eu vim pra cá para achar uma vila, que não seja o Desemboque, quero deixar o Desemboque  para reduto do coronel Chico Belo. Quero uma vila que esteja despontando para o progresso, onde eu possa ajudar com alguns cenários, construções tipo armazém, loja de tecido, borracharia, aquilo que caracteriza uma cidade que quer despontar. Já andei algumas cidades, mas não encontrei o que preciso. Vou voltar aqui, com o diretor de arte pra bater o martelo e adequar o local à história. É um trabalho grande, que tem que contar com o apoio da Prefeitura e da população, porque vamos ter que adequar residências para as filmagens. É claro que depois a gente arruma tudo. Sem mexer na paisagem urbana não conseguimos filmar.

 

ET – De que forma a população poderá ajudar?

João Batista – Aceitando, por exemplo, essas adequações e, nas filmagens, vamos precisar de figurantes. Vamos ter muitos figurantes. É uma campanha eleitoral. Haverá comício, churrasco, festa. Vamos precisar de muita gente. Já tive 500 pessoas como figurantes em filmes. 

 

ET – O cineasta João Batista de Andrade vai produzir e dirigir o filme também?

João Batista - Tradicionalmente no cinema moderno, o cineasta é o diretor, mas eu sou um tipo de diretor muito comum hoje. Sou diretor-produtor, é o que chamamos de produtor independente. O cineasta hoje, no mundo, está muito ligado à produção independente. Tem uma empresa e produz os seus filmes, como é o meu caso com a Oeste Filmes. Uma pequena empresa que fica imensa na época da produção. Já tive 500 figurantes. O produtor independente no mundo, hoje, trabalha com know how. Hoje não se trabalha mais com estúdios, eles são parte  antiga do cinema. A parte nova do cinema são os independentes, que têm uma pastinha, um computador, um celular e um parceiro em Xangai, outro em Los Angeles, outro em Berlim e viaja  por aí. Ele é o produtor. Acabou a filmagem desmonta tudo e pronto, ao contrário do estúdio, aquela coisa imensa e cara que fica lá.

 

ET -  Que avaliação o Sr. faz das visitas feitas em alguns povoados do município?

João Batista - Eu gosto de sair sozinho pela estrada. Fui para o Desemboque, andei por lá, conversei com os moradores e voltei passando pelas  vilas de Sete Voltas, Quenta Sol, aí me perdi e não consegui chegar na Jaguarinha. Como é uma visita só de olhar – não se trata de vista técnica – gostei muito do Desemboque, lugar que terá um papel mais importante no filme. A decisão eu não sei ainda. Voltarei aqui com o pessoal de arte, fotógrafo, pra analisarmos tecnicamente. Já construímos  uma vila com a casa do coronel, delegacia, casa de moradores, praça, mas não é esse o caso aqui. A primeira idéia que tenho é de que dá pra construir algumas coisas, mudar um pouco a fachada de algumas casas, as janelas e telhas, por exemplo, para dar aquele ar dos anos 1950, mas isso é um trabalho para o diretor de arte. Trata-se de um trabalho rápido com algumas alterações e, depois, volta tudo como estava. As pessoas não precisam sair das casas, ficam morando lá.

 

 

‘Vila dos Confins’ o filme 

 

 

 

De acordo com a sinopse “nas primeiras eleições do novo município Vila dos Confins, na metade dos anos 1950, defrontam-se um velho coronel, Chico Belo (Lima Duarte), matreiro, violento; e um deputado com idéias urbanas e progressistas, Paulo Santos (sem ator definido). 

A disputa entre  os dois revela as traições, as manobras, as compras de apoios e votos, as pressões políticas e até militares. E as dificuldades culturais daquele povo do sertão brasileiro, quando o Brasil ensaia a passagem de um país rural, dominado pelas oligarquias, para um país urbano, progressista, com a  eleição de JK. 

Em meio à campanha, Paulo é atraído pela bela e provocante, Maria da Penha (Letícia Sabatela), filha de seu maior apoiador, o fazendeiro Sebastião (sem ator definido) e que tendo se separado do marido, volta da capital e está saudosa da vida urbana. Dividido, Paulo tenta se livrar da tentação que ela representa, temeroso de que uma aventura amorosa destruísse sua campanha e sua carreira”. 

Além dos três protagonistas, Chico Belo Paulo Santos e Maria da Penha, outros personagens terão destaque:  o andarilho Xixi Piriá, que nutre uma paixão silenciosa por Maria da Penha; Filipão, jagunço de confiança de Chico Belo, etc.  

 João Batista Andrade já tem em mente os nomes, mas nada adiantou. “Tenho os nome sem mente, mas não falei com eles, estou deixando pra falar mais perto da data, porque é um risco antecipar  muito e chegar na hora dar em nada, o ator recusar por causa de outra proposta e estar comprometido com outra filmagem”, ponderou. 

De acordo com Andrade, ele fez um primeiro roteiro e, agora, a versão definitiva  está a cargo do  roteirista, Nilton Canique. “Já fizemos e refizemos várias vezes para bater martelo com a versão definitiva. Deve ter umas dez versões pra chegar à definitiva, é um trabalho árduo. E, a vantagem de ter um roteirista está no fato de ele não ser da região, não ter envolvimento com a história. Eu li o Vila dos Confins no Colégio Triângulo, em Uberaba, quando ele foi lançado em 1956. Ele faz parte da minha formação cultural, afetiva e histórica.  Nilton  é neutro”, finalizou João Batista de Andrade.