Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Fotógrafo sacramentano ganha prêmio nacional

Edição nº 1202 - 23 Abril 2010

Um momento raro e, talvez, único, aliado ao profissionalismo conquistado com anos de experiência junto à natureza, valeu ao fotógrafo e designer sacramentano, Alessandro Abdala Santana, o 1º lugar na categoria Prêmio Especial – “Vox Populi”, do 4º Concurso Avistar Itaú BBA de fotografia "Aves Brasileiras", divulgado na última semana. Entre 10.400 fotos inscritas, Alessandro levou o troféu com a foto de um 'fura-barreira', um lindo pássaro avermelhado, de nosso cerrado, no momento em que estava com um inseto no bico para alimentar o filhote, na fazenda Mumbuca, neste município. 

Segundo o organizador, Guto Carvalho, o concurso teve um recorde de inscrições. “Foram 10,4 mil cliques enviados. Os jurados tiveram um trabalho exaustivo para chegar ao resultado final. Além disso, tivemos 3,7 milhões de votos de internautas, quantidade que acabou levando o juri a premiar três fotos para o Prêmio Especial "Vox Populi", tal a força do voto pela Internet", disse. 

As fotos vencedoras serão exibidas durante o Avistar 2010, 5º Encontro de Observação de Aves, feira e congresso que vão acontecer de 14 a 16 de maio próximo no Parque Villa-Lobos, em São Paulo. Além da exposição, o Encontro contará com uma série de outras atividades para os apaixonados por pássaros, como palestras e mini-cursos sobre a observação de aves para iniciantes.

O júri para o 4º Concurso Avistar Itaú BBA de Fotografias "Aves Brasileiras" é formado, entre outros, pelo brasileiro Roberto Linsker, publisher da editora Terra Virgem, especializada em natureza, e o editor espanhol Josep Del Hoyo, publisher da "Handbooks of the Birds of the World", enciclopédia de aves do mundo da Lynx Edicions, de Barcelona, além do norte-americano Arthur Morris, mundialmente reconhecido como um dos mais importantes fotógrafos de aves. 

A fotografia vencedora foi também escolhida como a favorita por 3,7 milhões de votos de internautas. 

 

Veja as fotos vencedoras no site do Avistar:

www.avistarbrasil.com.br/concurso/2010/voxpopuli


‘‘Lembro que ela ainda olhou para trás...’’

 

ET - Quando e como nasceu esse interesse pela fotografia da natureza?

Alessandro - Sempre gostei do contato com a natureza. Os animais, as plantas, as belas paisagens naturais sempre me cativaram... quando comecei a fotografar, ainda na época das câmeras analógicas, o primeiro tema escolhido foi a fotografia de natureza.

 

ET -A partir daí, fotografando a natureza é que nasceu o interesse específico pelos pássaros, ou tudo começou junto?

Alessandro - O interesse pelos pássaros é antigo. Desde a infância sempre me interessei pelas aves. Aprendi com meu pai a admirá-las, a descobrir os nomes, os hábitos específicos de cada espécie. Durante um tempo, na infância, fui caçador. Gostava das aves, de vê-las de perto, e a cultura que havia na época era a de se caçar passarinho, era uma coisa normal, a meninada toda caçava, eu, meu irmão e um primo, o Marcelo, sempre caçávamos juntos... mas naquela época a gente já sentia que o ato de caçar era na verdade uma desculpa para se estar junto à natureza, para poder observar as aves, os animais.

 

ET – E pela fotografia?

Alessandro - De certa forma, a fotografia também é uma caçada. Mas uma caçada sem morte, cujos troféus ficam registrados pra sempre num arquivo eletrônico... Depois a gente foi crescendo, amadurecendo... o nosso país já vinha consolidando essa ideia de preservação, a questão da consciência ecológica foi ganhando força no mundo, daí passamos a trabalhar no sentido de preservar, de valorizar a natureza como um todo.  Foi então que encontrei na fotografia uma forma de estar junto a natureza, uma motivação para continuar estudando as aves e também uma maneira de colaborar com a conscientização ecológica, através da divulgação das imagens dos pássaros que vivem em nossa região. Mas essa questão sempre me lembra um trecho de um poema do Tom Jobim, que acredito traduzir bem esse sentimento:

“Ofereço estas mal traçadas rinhas

Estas mal traçadas vinhas aos ex-caçadores

Que tiveram compaixão de suas vítimas

E por amar tanto o mato e os bichos

Conheceram o mato e os bichos

E porque existe uma maneira de

Amar sem matar

Como fazem os fotógrafos

A quem dedico estas mal-traçadas,

Caprichadas linhas”

(...)

 

ET - Quando e como você encontrou aquele flagrante da foto premiada? Estava de campana, a espera, ou foi um clic ocasional?

Alessandro - O fura-barreira (Hylocryptus rectirostris) é uma das aves mais difíceis de fotografar. Além de ser uma ave rara é muito arisca, vive constantemente na parte mais baixa da floresta, e sempre que a encontramos está na sombra, e parcialmente escondida entre galhos e folhas. Encontrei a espécie em outubro de 2009, na fazenda Mumbuca, onde mora meu irmão Leandro. Havia um casal de fura-barreias, estava alimentando um único filhote, recém saído do ninho. As aves perscrutavam o chão absortas, revirando folhas em busca de pequenos insetos, alimento para o filhote. Aproveitando que estavam ocupadas com essa atividade, pude me aproximar sem ser percebido. Quando uma das aves notou minha presença, ela havia acabado de capturar um inseto sob as folhas, voou com ele no bico e por um breve momento pousou em um galhinho, a pouca atura do solo... Lembro que ela ainda olhou para trás para ver a que distância eu estava... e foi nesse momento que fiz a foto, questão de segundos, no instante seguinte a ave já havia desaparecido... Foi o tempo de compor instintivamente a cena e disparar a câmera, era um final de tarde, num daqueles raros dias em que a luz está suave, indireta, da maneira ideal para se fotografar... e como a luz estava boa... o resultado ficou bom! 

 

ET - Qual o seu interesse em fazer esse registro da natureza. Tem algo a ver com a depredação existente ou é puro profissionalismo?

Alessandro - É um aprendizado e, também, uma forma de estar mais próximo a natureza, uma fonte de prazer.  Poder sintonizar-se com as criaturas e com a natureza, integrar-se ao mundo das aves, o prêmio de observá-las, se aproximar, deixar de ser um intruso e passar a fazer parte daquele ambiente... Tenho, também, como um dos objetivos concretos, catalogar as aves do município de Sacramento. Pois acredito que é preciso conhecer para valorizar e preservar. Não damos importância àquilo que não sabemos que existe. Dessa forma, ao trazer o tema para perto das pessoas, elas se interessam, querem saber mais a respeito... É o primeiro passo para formar uma consciência preservacionista.


ET - Como as pessoas interessadas podem ver o seu trabalho. Há em vista algum livro, algum site, como pretende divulgar esse registro.

Alessandro - Mantenho um site: www.alessandroabdala.com onde publico os registros que faço.  Também contribuo com um projeto na internet, o WikiAves, uma enciclopédia das aves do Brasil, feito com a contribuição de voluntários de todo o país. Até o momento temos cerca de 200 espécies fotografadas no município. Estimo que Sacramento, que é muito rica em espécies, deve alcançar entre 450 / 500 espécies de aves. O Brasil, segundo maior país em número de espécies, possui cerca de 1800 espécies.