Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Encontro de Ternos e Congadas Comunidade negra mantém viva a cultura e a devoção

Edição nº 1126 - 01 Novembro 2008

 

 

 

 

 

A comunidade negra de Sacramento uniu-se mais uma vez para realizar um grande evento, o Encontro de Ternos de Congado e Moçambiques de Sacramento e Região, no último domingo, 26. Durante todo o dia, a partir das 8h00, as ruas ganharam o colorido das vistosas roupas dos visitantes. A concentração após o almoço na casa dos festeiros aconteceu no Salão de Festas da Igreja Na. Sa. D'Abadia, a partir das 14h00, quando os integrantes dos ternos saudaram os padroeiros, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, e a rainha do congadeiros e moçambiqueiros sacramentanos, Vó Tonha. 

 

Empolgação contagiante

Nem o forte calor do domingo esmoreceu a empolgação dos ternos percorrendo um quilômetro de distância que separa a Igreja de Na. Sa. D'Abadia à Igreja de Na. Sa. do Rosário, padroeira da raça negra, onde foi celebrada a santa Missa.  O dança marcada pelo ritmo forte de cada terno contagiou centenas de pessoas que acorreram às calçadas para prestigiar o evento. Cada um dá o melhor de si e a confraternização é grande.  

Famílias inteiras participam, como por exemplo, a do terno de Congado do Capitão Benedito Manuel da Silva, 75, e sua mulher, a sanfoneira do terno, Irani Antônia da Silva, 72, de Araxá. “Isso é herança dos nossos antepassados. É um Congado de família, que existe há muitos anos. Aqui tem seis filhos, 15 netos e nove bisnetos. Se juntarmos todos, não cabe no ônibus. Mas fazemos de tudo pra preservar aquilo que nossos avós deixaram. A família toda dança, canta, louva pelos nossos padroeiros. Nossa Senhora é a nossa mãe. Nossos avós cantavam na senzala, porque não podiam ir à Igreja. Negro rezava na senzala”, contam e cantam um trechinho da melodia: “No tempo do cativeiro / moço branco é que mandava / o senhor ia pra missa / era o negro que levava (...)”.

Graciete Balbino Ferreira e a família, anualmente, é festeira de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário e trabalham com esmero para agradar os convidados com o almoço e o café. “Recebemos esse ano três ternos, mas mais de 150 pessoas almoçaram aqui, os visitantes, pessoas do bairro e graças a Deus todos saíram satisfeitos”, conta. 

Delcides Thiago, Cid, presidente do Terno de Congado São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, após receber de Vó Tonha, a faixa de presidente do terno, debaixo dos altares de Nossa Senhora e S. Benedito, fez uma avaliação positiva da primeira festa que realizou. “A festa foi boa, participativa, mas não foi fácil. Trabalhamos há muitos anos com outras diretorias e nunca tínhamos estado à frente, mas o apoio da diretoria foi total e atingimos o nosso objetivo e vamos trabalhar para no próximo ano fazermos uma festa bem melhor”, prometeu. 

Para Cid, o fato de esse ser um ano político atrapalhou um pouco tanto para os organizadores como para os visitantes. “O apoio que tivemos nos anos anteriores este ano foi negado, nem mesmo os cavaletes para fechar as ruas conseguimos. A água fornecida também foi pouca. Requisitamos 80 caixas ao SAAE, cederam apenas 20, estamos improvisando com garrafas pet. Está muito quente. Também não conseguimos o som, sem falar da verba que de R$ 10 mil caiu para R$ 3 mil e mais seis viagens, mas só conseguimos cinco. Mas graças a Deus, São Benedito e Nossa Senhora do Rosário conseguimos fazer a festa”. 

É isso aí, enquanto alguns vão destruindo a história da cidade, a história do povo, outros superando sacrifícios e falta de apoio tentam, como podem preservá-la. Autoridades? Nenhuma, nem das constituídas, nem os futuros mandatários, se fizeram presentes. Não precisam mais de voto!! Exceção feita ao pároco, Pe. Levi Fidelis Marques, que celebrou a missa às 17h00, na Igreja do Rosário. 

 

Homenagens aos veteranos

Durante a concentração no Chafariz, além das medalhas entregues aos capitães dos ternos participantes, a diretoria entregou um troféu a algumas pessoas que sempre se mostraram abertas à participação e colaboração e aos mais velhos congadeiros e moçambiqueiros da cidade. 

Os homenageados foram: o ex-presidente Antonio Francisco, que durante sete anos dirigiu o terno, Sebastião Inácio, o capitão de Congada da velha geração, Maria e o esposo Alencar Araújo, os participantes mais idosos e assíduos da Congada, José do Carmo, o veterano capitão de Moçambique, que foi representado pela esposa e a festeira Dalva da Silva, responsável pela decoração, pelos andores e por estar sempre engajada nas festas.