Com o tempo da quaresma iniciamos também a Campanha da Fraternidade, cujo tema de 2014 é: “Fraternidade e Tráfico Humano”. Em outras palavras, entendemos isto como “brincar com a vida”, ou tirar proveito, com exploração, daquilo que temos como dom mais belo da criação, a vida investida de liberdade e dignidade.
A vida humana é fruto da iniciativa amorosa de Deus, que a modelou a partir do barro e do sopro com força geradora do “ser pessoa”. E Ele colocou nas mãos de todos os seres humanos a responsabilidade de construir a história no bem-estar e na alegria. Mas o homem se rebelou contra esse plano divino, originando daí todo tipo de maldade.
Viemos do húmus da mãe terra. Ela é fonte de vida, é mãe da humanidade, muito fértil e capaz de produzir todo tipo de fruto, seja do bem, como também do mal. Pessoas com capacidade de escolha do que causa felicidade ou opressão. Isto faz a gente entender as consequências da realidade social, quando mal conduzidas.
A maldade entrou no mundo trazendo a morte. A marca mais profunda é o egoísmo humano, a falta de solidariedade e de reconhecimento do valor que está presente em cada ser humano. O egoísmo nos incapacita para os gestos de partilha e favorece o acúmulo causador de miséria, de exclusão e sofrimento de muitos.
Não podemos ser rebeldes com a vida, com planos destruidores, seja de cada pessoa, como também das estruturas sociais. Às vezes damos preferência para a lógica do egoísmo privilegiando a dimensão econômica do poder, apoiando-se na “teologia da retribuição”, legitimando a riqueza e o bem-estar físico, identificando isto como bênção divina.
Ser rebelde com a vida é seguir a lógica dos homens, nem sempre a de Deus. É a idolatria do poder, posicionando-se como ser divino, com um agir de forma absoluta, acima das pessoas e dos bens. Mas a felicidade é fruto de atitudes que defendem a vida, que promovem o direito de viver sem exclusão e constrói pessoas com capacidade de se autodefender.
(*) Dom Paulo Mendes Peixoto é
Arcebispo de Uberaba
Do Manual da CF 2014
O tráfico de pessoas é uma prática do crime organizado, com estrutura sofisticada e ramificada nos grandes centros urbanos e em regiões de fronteira. Conforme ilustra o cartaz da Campanha da Fraternidade, o crime é praticado em quatro modalidades, entre o tráfico para a exploração do trabalho, para a exploração sexual, para extração de órgãos e o tráfico de crianças e adolescentes. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a prática movimenta 32 bilhões de dólares por ano em todo o mundo, com 85% do valor vindo do tráfico para fins sexuais.
De acordo dados da ONG (Organização Não-Governamental) Walk Free, são 30 milhões de pessoas no mundo vítimas de tráfico humano. Relatório da entidade em 2013 aponta 200 mil pessoas em situação de mão-de-obra escrava no Brasil, colocando o país na 93ª posição do ranking global de escravidão. Já números da OIT (Organização Internacional do Trabalho) apontam 21 milhões de pessoas exploradas pelo tráfico, sendo 1,8 milhão na América Latina. O perfil das vítimas mostra que 74% são adultos (15,4 milhões) e a maioria – 55% - mulheres. O tráfico para trabalho forçado e para exploração sexual está entre as principais finalidades.