Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Gente, só fiz uma crônica

Edição nº 1350 - 22 Fevereiro 2013

Enfureci a egrégia Câmara de Vereadores, à exceção de nenhuma alma, por emitir minha opinião, em crônica publicada na última edição deste jornal, com o título, 'Que nem o papa, vou me aposentar', criticando o gasto de R$ 600 mil do poder público com o carnaval, quando há outras prioridades na cidade. Alguns defenderam meu direito de escrever, mas não lamentaram o gasto.

Como me xingaram muito na reunião dessa segunda, e ao vivo, pela Rádio Sacramento, devo algumas palavras esclarecedoras aos caros leitores do ET. Não pensem que faço isso com raiva ou vingança ou que guarde ressentimentos. Lembro aqui o governador do RS, Tarso Genro, do PT. Quando ministro da Justiça, de Lula, sendo preterido como candidato ao Palácio do Planalto, na sucessão que elegeu a presidenta Dilma, afirmou: “Sou maduro demais na política para ficar magoado".

O primeiro esclarecimento, e quero crer que todos assim entendam, diz respeito a não confundir o editor do jornal, com o cidadão, homem político e vereador suplente, embora sejam representados pela mesma pessoa. 

O primeiro é jornalista, representando uma das mais sagradas instituições deste país, a imprensa, denominada por muitos de 'o 4º poder'. Na edição em que o artigo foi publicado, o ET mostrou toda a cobertura do evento carnavalesco. Com uma pequena equipe de repórteres, com textos e fotos, expôs toda a programação oficial do carnaval, desde a sexta-feira, com a 'Noite das Marchinhas', à premiação final da terça-feira, incluindo várias opiniões de foliões que participaram do desfile, presidentes das escolas, e também de pessoas que assistiram à festa.  

O outro é cidadão, político filiado ao PSB e vereador suplente, com diploma expedido pela Justiça Eleitoral, que manifestou livremente o seu pensamento, entendendo que, por meio da imprensa, que deseja igualmente livre e autônoma, qualquer pessoa pode exercer sua cidadania expressar sua opinião sobre as ações e atitudes dos seus dirigentes e autoridades, tanto locais quanto estaduais e federais.

Ora, tanto a notícia gerada, crua, com as várias opiniões das pessoas envolvidas, como essas manifestações individuais têm a sua máxima importância. Sem imprensa livre não há liberdade e sem liberdade o pensamento da nação não chega aos governantes. 

Para esclarecer melhor essa manifestação pessoal, recordo com os leitores minha campanha política, quando expus minhas palavras, meus princípios e minhas metas. Não logrei êxito, mas me senti imensamente grato aos 341 eleitores que compartilharam comigo meus desejos e ideais. Agradecendo-lhes, afirmei que: 

'Como político de oposição, lutaria com os canais possíveis, por um governo digno em todos os sentidos. Frisei que continuaria acompanhando, propondo e fiscalizando ações que envolvam a gestão do patrimônio e dos bens públicos, de modo a contribuir com a construção de uma cidade mais justa, solidária, democrática e socialmente inclusiva.'

Devo isso aos eleitores que confiaram em mim e à minha consciência. Não é “dor de cotovelo”, caro vereador Mateus Pereira. É honra, dignidade, compromisso. Nunca fui 'traíra', como alguns que usaram o nome, o apoio político e publicitário do Baguá e traíram o seu grupo político. Fossem sérios os partidos políticos neste país,  estariam todos expulsos.

Por outro lado, toda oposição é salutar. Toda crítica verdadeira deve ser levada em consideração. A vontade exclusivista de um governo não logra existência prolongada e sadia. Em outras palavras, como dizia nosso grande Nelson Rodrigues, ‘‘toda unanimidade é burra!”. Traduzindo: A unanimidade leva à apatia, à acomodação. O dirigente acha que tudo está às mil maravilhas e, na verdade, não está. A unanimidade deveria ser riscada da agenda do governante, também dos parlamentos. 

Peço licença aos leitores, para algumas considerações a dois vereadores, Leandro Desemboque e Mateus Pereira. 

Caro Leandro, você tem todo o direito de afirmar que “a juventude quer é isso aí”. Com todo respeito, como educador que sempre fui, com 42 anos dedicados à educação, grande parte da juventude é ávida por muito mais. Ela está muito acima do conceito que você lhe atribui, Leandro. Ela é amante dos livros, do teatro, da poesia, da boa música, como curte também toda essa verborreia gravada hoje. Assim como nós, velhos, curtimos um carnaval mais eclético, com marchinhas, sambas, sambas-enredos, até o axé... 

E quanto ao vice-prefeito adentrar à Igreja de bicicleta e de ter criticado nosso pároco, longe disso. O vice-prefeito é um cara excepcional, exemplar. Só achei o ato, político. Há jovens bem mais jovens. Quanto ao pároco, outra pessoa maravilhosa, novato no cargo, sequer deveria estar sabendo quem participaria da cerimônia. 

Ao justificar, Mateus, que vocês explodiram de alegria em cima de trio elétrico, cantando o hino da campanha, porque: “somos todos brasileiros, somos sacramentanos e somos pessoas dignas e cidadãos, e como todos, temos os mesmos direitos”, concordo plenamente. Só que devem fazer toda essa estripulia, como qualquer mortal, lá na passarela, sem fazer uso da máquina. 

Justificou mais: “Não é porque somos vereadores que não devemos pular carnaval, nos descontrair”. É exatamente por serem vereadores que não podem usar a 'coisa pública em benefício pessoal'. O fato de eu apontar a presença de políticos eleitos no trio elétrico, cantando o hino da campanha eleitoral, ficou evidente o uso da máquina administrativa - no meu entender - para sua promoção pessoal. Eu acho que isso é bem mais sério do que parece. 

Mateus, você me pergunta, depois de tecer várias críticas aos erros cometidos por este jornal, como errar o seu nome, a sua profissão, o número de votos que obteve, o seguinte: “Fica aqui a pergunta: por que, nos quatro últimos anos, você não criticou o governo e logo agora vem criticando, sendo que em tão pouco tempo o governo está ai mostrando ações sérias e de comprometimento com a população? Seja oposição,  sim, mas seja uma oposição justa e com todos”.  

Pois bem, nobre vereador, a resposta é simples: Porque o governo anterior não gastou R$ 600 mil com carnavais. Esse foi o cerne da questão, que você, nem Leandro, discutiu. Você achou melhor me chamar de “irracional”.  

Dei uma opinião, repito, que 'eu' não gastaria mais de meio milhão de reais com o carnaval, quando há muitas outras prioridades, como o término da Creche, já quase concluída, ou levar água ao Alto da Santa Cruz. Com esse dinheiro poderiam furar seis ou sei lá quantos poços artesianos para servir aquele povo que clama há muito tempo por falta d'água; iluminação da avenida do ribeirão Borá... E até um poste na rua da minha casa... O que critiquei, caro Mateus, foi o fato de se darem ao luxo de gastar todo esse dinheiro quando há tantas outras obras absolutamente necessárias ao bem-estar da população.  Só isso.

E, se quer saber, fizemos, sim, muitas críticas ao governo do ex-prefeito Wesley. Não vou enumerá-las, pois basta que você folheie as edições do jornal Et para comprovar. 

Meu Deus, eu não posso emitir uma opinião, a ponto de magoar meia cidade? Devemos voltar, então, à política de Vespasiano, na Roma antiga, “Panen e Circences”? Eu apenas manifestei um pensamento, que nosso carnaval não seja transformado num Coliseu, quando há prioridades mais prementes. 

Por fim, ao me recomendar: “Ele tem que aposentar mesmo, e já passou da hora (...) com um jornal cada vez mais precário”. Quanto à primeira assertiva, usei uma metáfora, Mateus. Já quanto à segunda, respeito sua opinião, pois trata-se de uma avaliação pessoal. 

Gente, só fiz escrever uma crônica! Por que esse estardalhaço todo? 

(WJS)