Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O que está acontecendo com o ensino?

Edição n° 1321 - 03 Agosto 2012

Há pouco mais de vinte anos, quando ainda ministrava aulas nas Licenciaturas na UFU, observava que, a cada ano, os alunos que chegavam às salas de aula estavam menos preparados que os que acabavam de sair. Cometiam erros imperdoáveis de concordância, de ortografia, de gramática e, o que é pior, de raciocínio mesmo! Nas avaliações que fazíamos, além das respostas lacônicas do tipo, não, sim, às vezes, quando recebiam as notas, os alunosvinham até o professor discordando das mesmas argumentando que a questão estava respondida adequadamente.  Mas não era só nas Licenciaturas que isso acontecia. Estudos feitos por pesquisadores comprovavam que essa carência acontecia em outras áreas do conhecimento, tais como: nasexatas, nas biomédicas, no direito, na informática. 

 

Era preciso, então, descobrir os culpados por esse baixo desempenho dos alunos. As primeiras acusações recaíram sobre o ensino fundamental. Diziam: se o ensino fundamental não oferece os alicerces básicos da língua falada e escrita, o pensamento lógico da criança fica com lacunas, cujos desdobramentos desembocariam no ensino médio e superior. A conclusão parecia lógica: se o aluno não detém os conhecimentos básicos da escrita e da fala, é claro que carregarão tais deficiências daí para frente!Mas, se o ensino fundamental for verdadeiramente o culpado o que dizer das instituições de ensino superior que atuam na formação dos professores do ensino fundamental e do médio? Bola de neve, não é?

 

  Ninguém ignora os descalabros mostrados nas avaliações feitas pelo ENEM conhecidas como: “As Pérolas do Enem”. O tema é complexo, mas, como educadora, vejo uma exagerada complacênciada escola para com o aluno: não poder reprovar, por exemplo, é passar a mão demais na cabeça do aluno. Nenhum de nós morreu por repetirmos o ano escolar, ou ficar de segunda época. As avaliações com a marcação de “x” concorrem também para isso. O cuidado que os cursinhos tem em resumir livros (chatérimos de ler- no linguajar dos jovens), suprime, no meu modo de ver, o esforço do aluno em aprofundar o pensamento do escritor além de “jogar fora” partes importantes dos livros; quase uma mutilação. 

 

O que se percebe hoje é que além do terror das físicas, matemáticas e químicas, o bicho de sete cabeças passou a ser a prova de redação. Redigir um texto com clareza, discernimento, criatividade é quase um parto! É demais para a organização cognitiva do alunoa construção do  pensar, questionar, refletir. Os chavões para ajudar na memorização, e o corre-corre em busca do vestibular (como se apenas isso bastasse e compensasse o esforço),tornam-se um desrespeito para com o desenvolvimento do  pensamento lógico do aluno.  O que não entendo, é a multiplicação de escolas por esse Brasil afora. Lembro-me, que há pouco tempo, para o MEC reconhecer um curso, era um Deus nos acuda! 

 

Hoje, até Faculdades de Medicina funcionam sem que haja um hospital para a prática dos alunos. Então, onde encontrar os culpados? 

 

Como educadora, o que me preocupa, de fato, é que (salvo excelentes escolas que se destacam com honrosas exceções), os alunos se profissionalizam pensando que detém o conhecimento: aprenderam mal e pouco ese lançam no mercado de trabalho seguros de terem atingido o topo do saber: pobres de nossos netos e bisnetos que estarão nas mãos desses profissionais preparados inescrupulosa e irresponsavelmente. 

 

Mariú Cerchi