Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Epifania

Edição n° 1292 - 13 Janeiro 2012

Epifania, palavra significativa para o mundo cristão. No sentido religioso, Epifania expressa um Deus que se manifesta, primeiro aos pastores como representantes do povo Judeu, depois, para o mundo, através dos três Reis Magos. Vindos do Oriente, conhecedores dos mistérios dos céus, os Magos, habituados à arte de interpretar a linguagem dos astros, ao verem a estrela quebrilhava de modo diferente, entenderam que era chegada a hora de partir à procura daquele que os Judeus, baseados nas Escrituras Sagradas, esperavam há tanto tempo: o Messias.  A estrela, quelhes apontava o caminho, pára diante da manjedoura, e os magos se ajoelham frente ao Deus-criança ofertando-lhe preciosos presentes. A estrela realizava, a seu modo, a sua Epifania. O fenômeno celeste se dava a conhecer em sua Epifania, ou seja: deu-se a entender. Comunicou sua linguagem revestindo-se da sua verdadeira intenção. Assim, a Epifania que acontecia no céu, atava definitivamente aquele sinal ao seu significado- qual seja, a manifestação de uma verdade! Desta forma, mais uma vez, conforme nos mostra a tradição cristã, céu e terra se interligavam numa linguagem comum! A partir de então, os personagens históricos conhecidos como os Reis Magos, passam a habitar, para sempre, o imaginário cristão.  

A palavra epifania , no entanto,não esgota o seu significado apenas no conceito cristão. As Epifanias acontecem na literatura, na filosofia, nos processos históricos, na psicologia e no nosso cotidiano. Assim, toda vez que nos surpreendemos autores de um fato inédito, estamos realizando a nossa epifania, ou seja, tirando desse fato comum a veste que o encobria. Mas, sufocados como estamos no cultivo das exterioridades, fica-nos difícil o mergulho no silêncio para o exercício da introspecção, deixando passar, na maioria das vezes, a vivência de preciosos momentos de epifanias. No corre-corre dos dias atuais, há os que nem conseguem desenvolver o hábito de olhar ao seu redor tão ocupados estão com o seu próprio umbigo; se alguma epifania brotar do interior do seu ser, talvez nem cheguem a perceber; os ruídos do mundo e a pressa embotam os seus sentidos e a sua capacidade de comoção.  Outros, embora embutidos em si mesmos, conseguem pequenos lances de sensibilidade frente aos inéditos momentos que a vida nos apresenta, mas, desabituados ao exercício da sensibilidade, na urgência do fazer mecânico, perdem a oportunidade de mergulhar nessa epifania. É comum, encontrarmos pessoas que chegam a nosatropelar no cruzamento de uma esquina, sem sequer lançar um olhar para a pessoa em questão para, pelo menos, lhe pedir desculpas.Ignoram o cenário ao seu redor ainda que, este cenário,  esteja a exibir  a prateada luz de uma noite de luar. Distraídos olham para o céu, constatam a presença das estrelas, mas não decodificam; as interferências externas bloqueiam o aflorar da sensibilidade.

Uma pena, pois se formos capazes de vivenciar momentos de silêncio, meditação e reflexão, compreenderemos como tais vivencias atuam beneficamente em todo o nosso ser.  

As epifanias acontecem a todo momento no nosso existir. Precisamos estar atentos. A humanidade tem se mostrado enfastiada desse viver sem sentido.Mesmo que o caminho seja árduo e cheio de tropeços, vale a pena partir à procura de nossas epifanias.Quem sabe alguma estrela guia nos apontará o caminho? 

 

Mariú Cerchi Borges