Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Festa de N. Sra. da Abadia

Edição n° 1218 - 13 Agosto 2010

Eu poderia começar essa crônica parodiando o poeta: “Ai que saudades eu tenho da aurora de minha vida...”

Sim, quantas saudades eu tenho nessa data de 15 de agosto!!!

Quantas!!!

Festa de Nossa Senhora, aniversário do meu saudoso pai, roupa nova, missa das dez, macarronada com frango e guaraná, procissão das cinco e meia... 

Minha avó contava que quando papai nasceu, em 1912, os sinos da Matriz estavam repicando o toque da procissão. Há muito que os sinos repicam mais durante a piedosa procissão! Quando moleque, coroinha na Matriz, repiquei muitas vezes o sino de procissão: compassadamente dois toques no sino de som mais leve e um toque no sino pesado, assim: téim...téim...tãoooo! Para não perder o ritmo os coroinhas cantavam: Quem...qué...pãooo? Quem...qué...pãooo?... 

E assim os sinos repicavam por horas a fio enquanto a Virgem Imaculada, na sua imagem, abençoava a cidade, o povo, os seus devotos. Laços eternos de minha infância feliz!

Minha mãe, que nasceu ao lado do Santuário de Água Suja, ainda menina coroou a imagem veneranda de Nossa Senhora d´Abadia  no seu altar prodigioso.

O “primeiro passeio” que fiz em minha vida, após o “resguardo” de minha mãe foi para ser levado à Matriz. Fui batizado e consagrado à Nossa Senhora d´Abadia. Sou imensamente feliz por isso!!!

Nossa Senhora d´Abadia é o bálsamo que minha alma encontra nas dificuldades da vida. A Ela recorro e sou feliz. Ela sempre me conduz a Deus.  “Quem ama a Mãe ama o Filho. Quem despreza a Mãe, despreza o Filho”. Quem busca a Mãe, necessariamente, encontra o Filho. Maria é como a lua, só ilumina a nossa escuridão porque o sol lhe dá brilho. Jesus é o Sol e a Lua é linda...

Há algum tempo visitei seu santuário original em Muquém, no norte goiano. Tive a feliz ventura de, no meio de centena de milhares de pessoas ser um dos que carregaram seu andor. Lá não cantam a Maria o hino que cantamos aqui, o “Ó Filha do Eterno Pai...” O canto goiano é: “ Louvor a Virgem Nossa Senhora que no Muquém tem o seu altar. Ó Virgem Mãe da Abadia reina amorosa sobre Goiás”.

Em Sacramento fui o encarregado dos festejos do centenário da festa em 1977.

Então essa data é muito valorosa para mim que, por natureza sou um saudosista. Historiador é isso, vive de remoer lembranças.

“Festa de Agosto”, banda de música do Maestro João Triste, o dobrado “Dois Corações” quando a Imagem de Nossa Senhora saía porta afora de sua Igreja...o movimento na igreja, as barraquinhas coloridas, algodão doce, cartuchos de amêndoas, o frango assado, a leitoa, o leilão de gado, a praça cheia, o povo feliz!

E, como escreveu a historiadora Corália Maluf: “A procissão segue compassada, silenciosa... promessas cumpridas...graças alcançadas.”

Eu poderia escrever um livro sobre essas lembranças, mas aqui é só para ilustrar a data.

Essa semana passei pelas estradas e eu me impressionei com o número de romeiros a pé. Centenas, milhares e milhares...buscando a Casa da Mãe, porque  encontram o Filho, único Senhor, único Salvador, o Caminho, a Verdade e a Vida... Lindo demais... Não consigo ver os romeiros sem me comover... são pessoas felizes, porque têm fé.

Salve Nossa Senhora d´Abadia, mil vezes salve...! “Todas as gerações me proclamarão bendita!” (Lc 1,48) Sou feliz por ver cumprir e por participar dessa profecia.

Neste 15 de agosto, quando eu, no meio da imensa leva de fiéis, acompanhar a Mãe Imaculada na sua procissão vou estar cumprindo a minha mais doce e veneranda tradição. Vou descalço como milhares de outros devotos, vela na mão, feliz louvando Aquela que primeiramente foi louvada por Deus: “O Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres”. A “Mãe do Meu Senhor” (Lc 1, 43)

Abadia quer dizer: “Casa do Pai”, então Maria aqui é, por excelência, a “Senhora da Casa do Pai”.

Compartilho esse momento de fé com meus amigos, em especial os que estão longe de Sacramento e que não podem participar, pessoalmente, desse momento de glória da Mãe de Deus. Rezo por todos os presentes, os ausentes, todos. Rezo por meus pais e meus avós que já vivem com Deus e tantos outros devotos de Nossa Senhora que já partiram, mas que enquanto aqui estiveram lá estavam fiéis ao amor a Maria.

E, para todos, deixo a oração primitiva que nossos avós, nossos pais, rezavam diante da Imagem querida de Nossa Senhora:

“Salve ó Senhora d´Abadia! Rainha do Céu e da terra. 

Salve ó Imagem preciosa, esboço material dAquela excelsa e Soberana Imperatriz, que lá do seu trono de glória assiste e ampara os destinos do povo cristão.

A Vós bradamos e suplicaremos sempre em nossas aflições.

Olhai que somos os degredados filhos de Eva, sentenciados a viver no meio de espinhos e abrolhos durante a nossa peregrinação sobre a terra. Por isso gemendo e chorando aos vossos pés imploramos a vossa compaixão, como o filho pródigo ao seu bom pai. E, deste Vale de Lágrimas, com muita fé vos pedimos que, como Mãe de todos, vos digneis de nos consolar sempre, enxugando benigna os nossos olhos. E, depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, o bendito fruto do Vosso Ventre. 

Ó Clemente, ó piedosa Imperatriz, ó Santa Mãe de Deus, concebida sem pecado, ó Senhora d´Abadia. Amém” 

 

Amir Salomão Jacob