Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Carta aberta ao novo técnico da seleção

Edição n° 1214 - 16 Julho 2010

Hoje, enquanto tomava café da manhã no Bar da Preta, Mário, o escriturário, sentou-se ao meu lado. Mário é um sujeito calado, que nunca entra em nenhuma discussão. Não fala de política, não debate sobre religiões e nem sabemos qual é o seu time. Até quando a Preta lhe pergunta se quer o café com leite claro ou escuro, ele responde: “O que a senhora achar melhor, dona Preta.”

Por isso fiquei surpreso quando ele entregou-me um papel e disse: “Você podia pedir para publicar isso aqui no  jornal? É uma carta para o novo técnico da seleção. Não pude resistir ao pedido de publicar a opinião de quem eu nem pensei que a tivesse, por isso, eis a carta de Mário, o escriturário:

 

“Caro senhor,

Não sei qual é o seu nome, mas tenho certeza que o senhor deve ser muito bom no que faz, senão não teria sido escolhido para um cargo tão importante. 

Eu sou um torcedor comum e nem entendo muito de futebol, mas se tem uma coisa que me deixa feliz é ver os jogos da seleção. Por isso eu queria lhe pedir umas coisas:

Convocar os melhores: Acho que se a seleção se chama de seleção, ela tem que ser uma seleção. Não importa a religião, a idade, o clube em que joga ou o corte de cabelo do jogador. Quem é melhor, é melhor. E dessa vez tinha uns caras que não eram os melhores. Pelo menos é o que todo mundo diz. E há um tempão. 

Atacar: Pelos jogos que eu vejo no Bar da senhora Preta, percebo que todo mundo gosta de ver o Brasil atacando. A gente se acostumou com isso, sabe? E

 agora fica difícil pensar diferente. Parece que faz parte da seleção. Quando ela não ataca, a coisa fica meio estranha. É que nem se ela jogasse de camisa listrada, não combina. 

Honestidade: De vez em quando convocam uns sujeitos estranhos para a seleção. Principalmente nos jogos sem importância. Dizem que são os empresários que dão um dinheirinho por fora para que chamem os jogadores deles. Desta vez acho que não teve isso. O senhor Dunga pareceu sempre chamar os caras que ele gostava mais. Mesmo quando convocou o Afonso. Tomara que o senhor também seja honesto e não apareçam uns cheques estranhos na sua conta. 

Não ser teimoso. Quando a gente diz uma coisa e todo mundo diz o contrário, às vezes os outros é que estão certos. Por exemplo, dessa vez todo mundo dizia que a gente precisava de mais um meio campista criativo (até a minha mãe), mas o senhor Dunga foi meio teimoso e só levou o senhor Kaká. Uma pena.

Educação. Muita gente reclama que o senhor Dunga foi durão com a imprensa, mas eu não ligo nem um pouco para isso. Só não precisa ficar falando palavrão no microfone, que eu assisto aos jogos com a senhora minha mãe e ela não gosta dessas coisas. Eu mesmo, quando o Brasil toma um gol, tenho que falar “Caramba!” em vez daquela outra palavra parecida (se bem que no primeiro gol da Holanda eu não aguentei e soltei a tal palavra, mas desta vez a minha mãe nem reclamou). 

Bem, acho que é só isso, senhor. Espero que não sejam pedidos difíceis. 

Despeço-me desejando-lhe boa sorte e renovando protestos de estima e consideração.

Mário, o escriturário.”