Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Aos céus o camarada Beta

Edição n° 1228 - 22 Outubro 2010

 

A cidade perdeu um grande homem. Perdeu é modo de falar. Me ensinou outro dia, o grande Zé do Carmo, da Baixada, que “quem vai para os braços do Pai nunca está perdido”. Casado com Da. Air Loyola, deixa dois filhos, Bel e Paulinho.

Mas o Beta, Edilberto Afonso de Souza, empreendeu sua última viagem, a liberdade verdadeira. No dizer do comunista francês, Roger Garaudy, uma das mentes mais lúcidas do século XX, em sua 'Jornada solitária pelo século': “Há as belas mortes. As belas mortes daqueles que viveram, criaram, amaram, respeitaram o sentido da vida (...) Assim começa a ressurreição”. Beta teve uma linda morte.

Adorava o Beta. Aprendi desde jovem, nas minhas lides socialistas, a admirá-lo. Era um leitor assíduo. Eu me lembro que, no início do Golpe Militar de 64, estudante de Filosofia, na Faculdade de Filosofia Sto. Tomás de Aquino, em Uberaba, eu o  presenteei com um livro sobre a Doutrina da Segurança Nacional, do Gal. Golbery do Couto e Silva, da linha inteligente dos milicos que controlavam aqueles 'Anos de Chumbo'. Entre uma prosa e outra, me ficou devendo uma entrevista, sempre prometida, mas não realizada. Que pena!!

Aluno brilhante de História, no Colégio Diocesano, em Uberaba, não estudou muito. Foi só até à 4ª série ginasial, mas detinha a sabedoria do mundo. 

Seu grande amigo, Deda, José Antônio de Faria, com quem um dia aprendeu o ofício de tapeceiro, falou com ternura do inesquecível amigo:

“Muito sincero, muito puro. Um moço de peso e medida. Quem vive em Sacramento como eu vivo há mais de 60 anos, o Beta faz diferença na cidade inteira. Era uma pessoa espetacular, especial mesmo. Deus o tenha!

Eu ensinei o ofício prá ele, quando iniciou também nossa amizade. Muito sincero, muito franco. Era muito simpático ao Partido Comunista, então nos aproximamos muito. E com isso mantivemos amizade sempre. Gostava muito de leitura, especialmente esquerdista. Tanto que era filho de milionário e defensor incondicional do PC.

Mas uma pessoa inatacável, de uma qualidade incomparável. Em Sacramento, é preciso procurar muito prá achar alguém igual a ele. O sacramentano deve ter inveja e sentimento por ter perdido tão grande filho da terra. Morreu jovem, 85 anos... Muito sincero, muito puro, muito franco.

Por sinal, a franqueza faz parte da grosseria. Ele era considerado meio mal-criado pela sua sinceridade, franqueza. Mas era muito bom, muito educado, muito distinto. Perdemos uma grande personalidade. A cidade perdeu muito com a morte do Beta. Estamos de luto. Todos nós”.

Essas palavras do amigo Deda bastam para dizer da grandiosidade do Beta. 

                                                   (WJS)