Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

“Uma Copa além das regras do jogo’’

Edição nº 1209 - 11 Junho 2010

A contagem regressiva chegou ao fim.  A partir de agora, o calendário está correndo mais rápido para os fãs de futebol. Todas as seleções que conquistaram o direito de participar do maior evento esportivo do planeta estão instaladas e aguardando a estréia no gramado. 

A partir dessa quinta-feira, 32  bandeiras das mais distintas partes do planeta tremularão na África do Sul durante 30 dias. Dentro do gramado, 736 'soldados' lutarão pelo título mais cobiçado da Terra: o Campeão do Mundo no futebol. 

Mas muito mais que isso, a Copa do Mundo na África do Sul é uma oportunidade a mais para o mundo refletir sobre a união dos povos. “A Copa do Mundo da África será importante no processo  de reflexão do mundo”, afirma Mario Jorge Lobo Zagallo, quatro vezes campeão mundial e torcendo para que nos venha  o hexa. 

Para, o mestre em Cultura e Turismo, Vinicius José Ripoli, “o futebol é uma das principais formas de interação social existente em todo o planeta. Dezenas jogam, milhares assistem ao jogo no estádio e milhões o veem pelas televisões. O futebol é o máximo que podemos tomar como exemplo de filho da globalização”. Isso  nos leva a conclusão de que esta Copa do Mundo será vista com outros olhos.  O grito de gol, em uma resposta à fome e ao estado de miséria predominante no continente africano poderá ser ouvido pelas arquibancadas de todo o mundo. Ricos e pobres, negros e brancos, judeus e palestinos, brasileiros e argentinos e tantos outros povos, vão estar juntos durante 30 dias, para o mundo todo ver e ouvir. 

A Copa do Mundo 2010 é uma competição que irá muito além das regras do jogo, pois levará à reflexão sobre as desigualdades sociais e o que o resto do mundo poderá fazer pela África, um país riquíssimo, onde poucos têm muito e muitos têm tão pouco. O mundo deverá ver que por trás das câmeras, atrás das linhas do campo, longe do enorme clima de maquiagem constituído na tentativa de provar a emergência da África do Sul, o fantasma da Aids, da falta de infraestrutura básica, do alto índice de violência,  do alto índice de mortalidade, da baixa escolaridade que tomam conta da vida dos sul-africanos. 

A África do Sul, que a partir de 1948 e por exatos 42 anos  mergulhou num dos períodos mais revoltantes da história mundial. Condenado internacionalmente por ser injusto e racista, o Apartheid implicou uma série de mudanças no comportamento social do país, dividindo a África do Sul em uma nação dividida pela cor de seus filhos.  Três décadas atrás a África do Sul ainda vivia a segregação racial. Dois mundos separados em preto e branco, que devem muito do que é hoje, a homens como Nelson Mandela. Aliás, nenhum outro nome sul-africano é mais conhecido no mundo, que Nelson Mandela. Fiel opositor do regime do Apartheid, preso por 28 anos em uma prisão de segurança máxima dentro da conhecida Robben Island, ilha a 11km da Cidade do Cabo. 

Diriam os mais velhos, “há males que vêm para o bem”, porque  Mandela conquistou outra grande vitória, além do fim do apartheid em 1990: a vitória dentro cenário esportivo. Sua determinação e importância histórica consolidou a África do Sul como sede do mundial de 2010 em um trabalho de bastidores amplamente divulgado. E ele, aos 91 anos estará na abertura da Copa; ele que numa carta de agradecimento à FIFA, escreveu: “A Copa simboliza o poder do futebol de unir pessoas de diversas partes do mundo, sem levar em conta cor, línguas, credo ou posição política”. 

Mandela fez a sua parte. A África do Sul, aliás a  África, como um todo,  o continente esquecido por séculos, é agora o centro do mundo. São dez estádios, nove cidades, oito grupos de seleções, sete campeões mundiais. Cinco continentes, quatro semanas com o que há de melhor no futebol mundial. Esta Copa do Mundo será, sem dúvida, uma oportunidade para a África do Sul, como representante das demais nações do continente africano, mostrar ao mundo a verdadeira realidade daquela que é considerada pelas Nações Unidas a região de maior estado de pobreza do planeta, 

Esperamos que a partir de hoje, todo o mundo esteja unido na construção de um novo país, um novo continente que tem a  honra de receber a sua primeira Copa. Esse será o grande prêmio, a grande vitória. 

 

Maria Elena de Jesus