Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Crônicas

Edição nº 1181 - 27 de Novembro de 2009

Honrando os que já se foram

 

Nas tradições indígenas, os espíritos dos antepassados são constantemente lembrados e honrados. A sabedoria deles exige rituais, noites de cantorias na mata, momentos nos quais os mundos se encontrem para além do tempo e do espaço. Os xamãs se utilizam dos sonhos para se comunicar com os espíritos e receber deles instruções para a resolução de problemas difíceis. Para os orientais, passado, presente e futuro estão ligados, o destino vai depender de nossas escolhas e cada decisão tomada vai afetar nossas vidas e as das próximas sete gerações. 

Hoje vou prestar uma homenagem a meu avô materno, Manoel Soares, um homem muito respeitado, que me deixou uma incrível herança de fé. Ele viveu naquela região do Triângulo Mineiro, onde o espiritualismo de Allan Kardec encontrou um solo fértil. Muito antes de Chico Xavier, meu avô e sua turma de amigos, que inclui Eurípedes Barsanulfo, entre outros, já dedicavam suas vidas a amenizar dores alheias, lutando contra as doenças e a miséria de seus conterrâneos. 

Ouço desde pequena a incrível passagem em que detalhes físicos de minha mãe foram anunciados bem antes de ela nascer... A lenda é mais ou menos assim: quando minha avó Augusta engravidou de minha mãe, ela já havia dado à luz 10 crianças, todas batizadas com nomes exóticos, tais como Labieno, Camilo Flamarion, Demóstenes, Ayres, Rolando e por aí vai... Meu avô, que era médium, afirmava serem esses os nomes espirituais deles e minha avó nunca ousou contestar. No entanto, meu avô voltou de uma pescaria muito doente. Trataram-no como se fosse malária, mas na verdade, ele estava com tifo e acabou falecendo e deixando minha avó com aquela barriga enorme e mais 10 filhos desamparados. Ela pensou então que teria, ao menos a chance de escolher o nome daquele bebê, mas a ilusão durou pouco. 

Alguns meses antes da data prevista para o parto, um amigo (também médium) foi procurá-la com uma mensagem enviada por meu avô... do além! Nela, ele dizia que o bebê era uma menina, cujo nome espiritual era Gilka, que seria saudável e nasceria com uma mancha oval bastante escura na canela esquerda. Quando chegou a hora do parto, juntou gente na porta da casa de minha avó para saber se era mesmo menina (naquela época não existia ultrassom) e se teria a tal marca de nascença. 

Não deu outra. Minha mãe tem até hoje aquela mancha escura na perna esquerda...

E eu, sempre que preciso, recorro ao vô Manoel em orações. Hoje quero apenas agradecer a ele por ter nos deixado uma história tão bonita. 

Salve, Manoel Soares!

* Maria Paula Fidalgo é brasiliense, nascida em 29/09/1970. Embora formada em Psicologia, Maria Paula é atriz e apresentadora de televisão brasileira. Desde 1993 é contratada da Rede Globo, primeiramente para apresentar o game-show Radical Chic,  programa que não durou muito e logo foi deslocada para a apresentação do humorístico "Casseta & Planeta, Urgente!". Maria Paula que tem parentes em Sacramento, (Paula Virginia esposa de Rolando Soares,  de saudosa memória, Ecila Soares e outros), é casada com o músico João Suplicy, com quem tem um casal de filhos, Maria Luísa e Felipe.

N.R.: A crônica foi enviada ao ET pela tia Paula Viregínia, a pedido de Maria Paula.