Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dia do professor

Edição nº 1123 - 12 Outubro 2008

Ao longo de meus 25 anos de magistério e após ter-me aposentado há mais de 20 anos, no final do ano de 1987, venho falando constantemente na imprensa falada e escrita, expondo minha opinião sobre o vulnerável ensino brasileiro, porém, sempre procurando defender e valorizar o professor e a escola pública, mesmo diante de todas as suas mazelas e dificuldades.

Atualmente, para muitos pode parecer mais fácil do que ontem, o mister de ser professor, diante da disponibilidade de tantas ferramentas eletrônicas que favorecem o aprendizado. No entanto, ao revés, nunca foi tão difícil ser professor, como hoje e conseguir incutir no aluno um ensino-aprendizagem capaz  de elevar a qualidade do ensino em todos os níveis e melhorar a formação do educando.

Ademais, a expectativa dos pais para a formação de seus filhos, crianças e adolescentes, têm sido delegada estritamente aos professores. No entanto, a bagagem de conhecimentos acadêmicos pelos professores, não são suficientes para que vivenciem a realidade do dia-a-dia em uma sala de aula. 

Pois em muitas escolas, professores sofrem ameaças, são agredidos verbal e fisicamente, sem o menor constrangimento. Os fatos são levados à diretoria da escola, que adverte estes alunos, dão-lhes suspensões, convocam os pais à escola, os quais porém, não tomam nenhuma medida para socializar e educar seus filhos. A maioria, pasmem, dão plena razão aos filhos, criticando a escola, diretoria, especialistas e professores.

Resultado, muitos são os educadores que não suportam tais ameaças, agressões e tratamentos ofensivos à moral e aos bons costumes, requerendo licenças médicas até mesmo para tratamentos psiquiátricos causados pelo medo, transtornos de ansiedade, depressão, estresses, etc.

Em entrevista recentemente, publicada pelo jornal Estado de Minas, a emérita professora Rosiska Darcy de Oliveira, protagonista de belos trabalhos ao lado de  Darcy Ribeiro e Paulo Freire, ao ser perguntada sobre qual o grande problema com a escola brasileira? Embora reconhecendo que são infinitos os problemas, não exitou em responder que o maior de todos “ é a morte da escola pública”. Afirma ainda que: “o programa de combate à pobreza é fundamentalmente um programa de boa educação”.

Lamentavelmente, nós educadores de ontem, temos que concordar... Toda nossa geração oriunda das camadas mais sofridas da população, deve sua posição na escala social, a uma escola pública digna, decente e democrática.

Estudamos ao lado de colegas advindos de classes abastadas, ricas e dada à competência da escola e de nossa inteligência, conseguimos sobrepujar todas as dificuldades sócio-econômicas, conquistando uma bela escalada pela vida, cuja maioria, com muito sucesso!

Qual, portanto, a “causa mortis” da escola pública? Vislumbra-se,lamentavelmente, que é a mesma das ferrovias, da saúde, da previdência, entre outras. E por que? Porque os governos, apesar  de todos os seus discursos de campanha e programas partidários, não lhe dão a menor prioridade.

A maioria das escolas públicas espalhadas por este Brasil, em regiões de maior vulnerabilidade, social, encontram-se com os vidros quebrados, banheiros descuidados, mal equipadas, sem qualquer proteção a assaltos de vândalos. E o pior, com sofridas e mal pagas, heróicas professoras convivendo  com o medo e a garra para manterem a escola em pé.

Destarte, a escola pública fundamental não tem condições dignas, físicas, materiais e pedagógicas de continuar a ensinar e educar, inobstante raras exceções, é claro, no país. Por tudo isto, a educação do brasileiro pobre só está sobrevivendo graças à dedicação de um raro escol, de mestres vocacionados e

inspirados, vítimas de estipêndios.

Logo, professor neste país, tem sido exercer o subemprego ofertado pelo estado ou pelo município. A indignação maior, é que tais fatos somente ocorrem em conseqüência da falta de vergonha de políticos que roubam o erário público, desviando verbas da educação para outros setores. Deixando que os professores, maiores patrimônios de nossas escolas, e que por isto merecem

nosso respeito e justo tratamento, vivam em condições de miserabilidade,deixando-os submetidos a provas de dor, angústia, decepção, revolta, impaciência e sobretudo, pelo sentimento de injustiça. Especialmente, os pobres e excluídos e professores aposentados.

Fica, portanto, o nosso apelo aos governantes do nosso país, para que revejam os fatos aqui elencados, atrelados às informações veiculadas nas TVs, nos jornais e revistas, e proporcionem a todos

estes sofridos professores,  apaixonadamente vocacionados ao magistério, a saudável alegria de viver, melhorando sua qualidade de vida e ajudando a construir uma sociedade melhor, mais justa e fraterna para todos, como verdadeiro mérito pelo DIA DO PROFESSOR.  São meus sonhados votos.

 

Ivone Regina Silva, é advogada 

e Conselheira Seccional da OAB/MG