Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Idosos ganham Hotel Geriátrico

Edição nº 1737 - 24 de julho de 2020

A dupla sertaneja, Teddy Vieira e Lourival dos Santos, compôs em 1954 a toada 'Couro de boi', eternizada por vários cantores do gênero anos a fora. A triste toada comoveu milhões de pessoas que esconjuravam o filho que deixou de dar abrigo aos 'velhos'. Quase 70 anos depois, a moda virou moda, não por desprezo, nem por deixar de amá-los. Os cuidados especiais com a terceira idade, a assistência, o apoio médico, psicolológico, o lazer, a ginástica, sobretudo a convivência e interatividade motivam os idosos a deixar seus entes queridos para morar ou passar o dia em hotéis geriátricos para receber os cuidados de bons profissionais.

Assim, a cena do abandono retratada na canção, hoje, já não é tão dramática pela realidade que nos assiste. O Brasil tem mais de 30 milhões de idosos (14,6% da população) aponta o IBGE, adiantando uma previsão de 30% para o ano de 2050. Como na Europa, seremos um país de velhos, porque diminui-se a natalidade e aumenta-se a longevidade por conta de uma melhor qualidade de vida. Com isso, faz nascer um novo tipo de família, provocado pela correria deste milênio, a família sem tempo de cuidar de seus idosos. Resta-lhe as opções: cuidadores, internação ou semi-internação em um hotel geriátrico. Uma decisão nem sempre fácil, mas que vem se tornando comum até mesmo em pequenas cidades. 

 

Tudo começou com o Lar São Vicente de Paulo

Em Sacramento, a primeira iniciativa para acolher pessoas idosas oriundas de famílias carentes partiu dos vicentinos com o Lar São Vicente de Paulo, na década de 1940. Ainda hoje ativo, é nossa maior entidade de acolhimento da população da 3ª idade, acima de 60 anos. Com capacidade para abrigar até 50 internos, a entidade tem no Governo Municipal seu maior patrocinador. Os recursos para sobrevivência do Lar é completado por doação voluntária de moradores da cidade e da zona rural.

Mas e os outros idosos? Aqueles que vêm de famílias fora da margem da pobreza, onde abrigá-los com o cuidado e amor necessários? Para muitos, ainda é desumano interná-los em uma casa geriátrica mesmo que seja um hotel tocado pela iniciativa privada. Para outros, é uma solução naturalmente humana. Um local dirigido por uma equipe de profissionais, formada por cuidadores, enfermeiros, nutricionistas, educadores físicos, terapeutas, fisioterapeutas e motivadores de atenção. 

Quem defende essa tese é a experiente Jucelaine Maria Borges e sua filha, Luma Borges Martins que assina como proprietária do Hotel Geriátrico Bem Viver, inaugurado em setembro de 2018, no bairro Maria Rosa, com capacidade para atender até 12 idosos dependentes ou não de atendimento especial. 

De acordo com mãe e filha o atendimento especial é voltado para pessoas que têm fraturas, dependentes de ajuda para se locomover, idosos com Alzheimer... “Temos uma senhora aqui há dois anos, que durante três meses era só acamada. Então, tudo era feito no leito, banho, alimentação, fisioterapia, ela tinha muitas escaras, feridas na pele por ficar acamada. Também pessoas diabéticas que têm que ter alimentação especial, entre outras dependências”, enumera, explicando como as mensalidades são cobradas.

 

Mensalidade depende do tipo de assistência

“Não temos um preço fixo. Os contratos são individuais, dependendo do cuidado e atenção devidos e o serviço que vamos oferecer. E atendemos também como creche, aquele idoso que a família traz de manhã e busca à tarde. Enfim, estamos aptos para o atendimento de qualquer tipo de problema, inclusive pessoas com portadores de Alzheimer”, completa Luma, que é psicóloga e presta também seu serviço.

Explica mais a psicóloga, que cada contrato depende das necessidades do hóspede. “Por exemplo, uma pessoa com Alzheimer, que é uma doença progressiva-degenerativa, nosso trabalho é feito de acordo com as orientações médicas, fazendo com que ele ou ela permaneça num quadro estável, por isso o contrato é individual, pois depende das necessidades do idoso.

O Hotel Geriátrico Bem Viver, embora seja uma casa administrada por pessoa jurídica e sem vínculo com o poder público tem suas dificuldades, especialmente neste tempo de pandemia. Tivemos que dispensar pessoas que precisavam de atendimento especial, por exemplo duas pessoas para dar banho, mas não podiam pagar.  As pessoas acham que como aqui é particular, alguns de longa permanência, a casa gera lucros. É bem o contrário, especialmente neste tempo de crise, estamos com dificuldade para fechar no azul”, expõe Jucelaine, revelando que tem usado de sua aposentadoria para socorrer a casa.  

Fazendo um retrospecto desde o início da abertura do hotel, a psicóloga Luma lembrou que foi bem difícil no início. “Mas depois de várias tentativas, de erros e acertos, conseguimos estabilizar uma equipe, fixando a estrutura organizacional da casa, enfim toda a parte burocrática. Para isso, tivemos também um grande apoio do promotor da Comarca, Dr José do Egito. 

“O promotor conhece a casa e nosso trabalho e nos dá suporte para a legalidade, tudo que a legislação exige nos é informado. Nós podemos contar com ele, que vai nos orientando sempre que precisamos e vamos adequando. Ele vem aqui em visita de rotina, tentando fazer com que a casa vá pra frente”, disse, destacando que houve comentários maldosos pelas redes sociais, afirmando que o promotor teria vindo aqui para fechar a casa. Muito pelo contrário, ele veio para uma visita de rotina e dar orientação. “Foi uma visita que nos deixou otimistas e nós sempre procuramos seguir a lei”, justifica Luma, finalizando.

 

“- Minha mãe tem muita experiência de gestão, mas não tinha experiência financeira. Tem experiência de bondade, de amor, filantropia e chegou a abrir algumas vagas sociais, mas a casa não suportava. Por isso a situação ficou meio crítica, especialmente com essa pandemia. Sem ajuda, não dá pra abrir vaga social. Mas agora está tudo bem”.