Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Ex-seminaristas promovem encontro na cidade

Edição nº 1673 - 03 de Maio de 2019

Missionários redentoristas e ex-seminaristas, cumprindo o lema, 'Uma vez Redentoristas, sempre Redentoristas', estiveram   em Sacramento  entre os dias 26 e 28 de abril, participando do  II Encontro Regional de Ex-Seminaristas Redentoristas (Ereser). O encontro realizado pela União Nacional dos Ex Seminaristas   Redentoristas  (Uneser), festejou duas datas relevantes: os 60 anos da presença redentorista na cidade e, a outra, os 40 anos da ordenação sacerdotal de Pe. Luiz Rogério Carrilho Cruz, que trabalhou em Sacramento entre os anos de 1981 a 1985 como formador, vigário paroquial e pároco. O Seminário do Santíssimo Redentor já não existe mais, mas sua história permanece viva a partir dos padres que por aqui passaram, dos ex-estudantes que um dia frequentaram a casa de formação e hoje continuada pelo Centro de Assistência Social (CAS) Pe. Antônio Borges de Souza, responsável pela sua construção, iniciada em janeiro de 1959.  A obra social mantida pela Congregação Redentorista guarda a missão dos filhos de Santo Afonso nas terras do Borá. 

 

Provincial e oito missionários participam do encontro

A presença dos ex-seminaristas na Congregação do Santíssimo Redentor foi estabelecida no Capítulo Geral de 1991 que, reconhecendo, oficialmente, a importância da colaboração dos leigos na missão, instituiu a categoria “Missionário Leigo Redentorista” como um dos modos formais de associação entre a congregação e os colaboradores leigos.

Vicente de Paula Alves, diretor social da Uneser e coondernador geral do evento, falou ao ET sobre seu objetivo. “Os encontros regionais têm o objetivo de reunir todos os ex-seminaristas no seminário, independente de terem ou não seguido a vocação, sejam de outras congregações ou mesmo diocesanos”, explicou, ressaltando a importância do segundo encontro.

“- Organizar um encontro desses é muito gostoso pela expectativa que se cria de conseguir reunir pessoas que há muito não se encontravam. E este criou um espírito diferente pelos 60 anos de fundação de seminário. A presença da Congregação Redentorista com o provincial saindo de São Paulo com mais oito padres foi único, muito significativo. Mudamos um pouco a dinâmica e foi muito proveitoso, lúcido, alegre, com momentos intensos de espiritualidade de convivência, de conhecer pessoas novas...”.

Destacando a importância de a Igreja aproveitar a formação humana dos ex-seminaristas, Vicente de Paula, ressalta que a Uneser propõe com os encontros algo mais do que a convivência pura e simples. 

“- Queremos garantir a essas pessoas - que tiveram uma formação sólida e hoje sobressaem-se muito bem noutras áreas como as artes, o direito, administração pública - o fortalecimento de sua espiritualidade para que sejam testemunhas de que ela pode estar presente em qualquer contexto em que estão atuando”. 

Questionado se ao levar aos ex-seminaristas essa espiritualidade, há alguma aproximação com a ideia de ordenação dos casados, o secretário esclarece que a Uneser segue a linha do Vaticano. “Seguimos a linha do Papa Francisco, no sentido de perceber que a Igreja clericalizada tem, por princípio, os seus sacerdotes celibatários para dar conta das atividades pastorais, e nós trabalhamos também nesse sentido. Mas há também dentro da Igreja esse movimento pró ordenação dos casados”.

 Diz Vicente que a própria Uneser manifesta sua vontade para que isso aconteça, ressalvando certas condições. “Antes de mais nada a vocação e a espiritualidade devem estar manifestas nos interessados, advindos de famílias bem estruturadas e constituídas, já caminhando para sua aposentadoria e com filhos todos criados e encaminhados, para que não haja interferência, como já acontece com o diaconato permanente”, explica, lembrando que o assunto estará em pauta no Sínodo da Amazônia.

“- Em outubro próximo, os bispos vão discutir o assunto no Sínodo da Amazônia. Em pauta estão os novos caminhos de evangelização que devem ser elaborados para e com o povo de Deus que habita na região amazônica: habitantes de comunidades e zonas rurais, ribeirinhos, migrantes e deslocados e, especialmente, para e com os povos indígenas”.

Conforme o site da Uneser (https://www.uneser.com.br/regional-sacramento/), a Regional em Sacramento conta com aproximadamente 120 membros cadastrados. 


A alegria do encontro e reencontro 

O II Ereser foi enriquecido com a presença do bispo diocesano da diocese de Teófilo Otoni, dom Messias dos Reis Silveira, do padre provincial de São Paulo, Marlos Aurélio da Silva e pelos ex-reitores, formadores e párocos que passaram pelo então Seminário do Santíssimo Redentor e pela Paróquia de Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, os missionários redentoristas: padres Alberto Pasquoto (1970/75, hoje, secretário provincial); José Marques Dias (1975/81); Maurício Brandolise (1979); Éverson de Faria Mello (1970/75); Antônio Carlos Vanim Barreiro (1975/78) e Eugênio Bisinoto (sacramentano, que trabalhou no seminário como formador em 1990), além de familiares, oblatos e ex-professores. 

Padre Marlos comparou o encontro à Páscoa, uma história de vida. “Ouvindo os relatos dos ex-seminaristas podemos associar muito bem o encontro com a Páscoa, passagem de tantas etapas de nossas vidas, mas que permanece sempre a convicção de que que tudo aquilo que fazemos na vida, algo vai acrescentando na nossa experiência e nos tornamos   mais pessoas, e tudo faz parte da nossa história. Ressurreição pressupõe história construída, senão não tem que ressuscitar. Então, a vida de cada um narrada aqui significa também essa Táscoa que vocês celebraram e viveram nas casas de formação redentoristas, e por tudo isto temos motivos para louvar e agradecer”. 

Padre Carrilho agradeceu. “É uma alegria muito grande poder partilhar com vocês estes momentos, porque aqui fizemos história e hoje só tenho a dizer a vocês que foram meus formandos,  obrigado. Aos que foram meus paroquianos, obrigado, que Deus os abençoe a todos. Aos meus companheiros que me apoiaram ao longo dessa caminhada, obrigado e, um agradecimento especial, na pessoa da Cidinha, às nossas cozinheiras.  Quantas nos alimentaram e trabalharam para a formação do nosso seminário, dos nossos jovens seminaristas. Fazemos memoria à dona Adelina, seu Pedro e a todos que aqui trabalharam e foram grandes formadores, a eles nossos preito de gratidão. Obrigado!”

Padre Alberto lembra Pe. Borginho.  Mas antes, ao saudar os ex-seminaristas, destacando o hoje bispo Dom Messias, de formação redentorista, arrancou risos dos presentes ao dizer:  “Meu  primeiro pensamento quando fui diretor aqui é de fracasso, porque  não vingou nenhum padre. O Mário Luiz ordenou e depois deixou o sacerdócio. Eu pedi: meu Deus, perdoe minhas falhas na formação...”, disse, mas reconheceu que tudo passa. “Tudo foi superado, porque hoje ao abrir a janela, vi o efeito do sol aqui, tudo iluminado.  Nós não vimos Jesus ressuscitar, mas vemos o efeito da ressurreição e, hoje, vi mais um efeito de ressurreição escutando o testemunho de vocês como cristãos, inspirados pelo Divino Espírito Santo, vivendo a vida nova”, disse, lembrando o saudoso padre Antonio Borges de Souza. “E quero lembrar o grande testemunho do padre Borginho, testemunho de fé, dedicação, doação em criar esta obra, que completa 60 anos. Ela não foi em vão”. 

Padre Everson, que chegou a Sacramento logo depois da inauguração do Seminário, rememorou a história. “São lembranças do passado. Alberto e eu chegamos aqui logo depois da inauguração, um ano depois, não tinha capela, não tinha refeitório, não tinha cozinha, nem lavanderia. O barranco chegava até um metro dali, era uma 'pedraiada', por isso lido com muita nostalgia. E nostalgia maior é quando eu olho lá pra cima, na direção norte... do bosque que plantamos quando eu ia embora. Chamei vocês para construí-lo e deixar ali um marco de lembrança. Pena que fizeram a estrada no 'Bosque da Despedida'. Por outro lado, me dá uma alegria muito grande por ver os frutos aqui colhidos”, ressaltou, explicando os detalhes simbólicos da Capela, idealizada por Pe. Izidro, e inaugurada em 1972, até então desconhecido por muitos. 

 Padre Marques que lançou na cidade o seu livro, 'Leigos e leigas em missão na paroquia', lembrou que a vida no seminário era uma maravilha. “Nosso contato era de apoio aos diretores, formadores e a vocês. Lembro com carinho do Pe. Gil, que era pároco na época em que cheguei. Lembro Pe. Júlio que já morreu... Depois fui estudar catequese na Colômbia, voltei e vim como pároco para Sacramento, trabalhando com Pe. Magalhães, Pe. De Carli, que também não estão mais entre nós. É sempre bom voltar! E aproveitei para lançar meu livro. Não podemos ficar sempre em Sacramento, mas Sacramento sempre fica com a gente”.

Padre Vanin, que celebrou seu aniversário no domingo 28, lembrou que chegou a Sacramento em 1975, ainda como estudante e aqui foi ordenado diácono, no dia 14 de junho. “Foram momentos muito fortes os quatro anos que aqui vivi, que marcaram de certa maneira a minha vida. Até hoje, com mais de 40 anos de padre, Sacramento para mim é um chão sagrado, uma referência. Nós, redentoristas, deixamos a cidade, mas os laços continuam muito fortes. Nós plantamos, mas vocês também plantaram em nossos corações um carinho muito forte”, disse, agradecendo à cidade e aos grandes amigos que até hoje aqui permanecem. “Aqui não foi uma escola onde aprendemos valores, mas um lugar onde vivemos uma experiência profunda de Deus, de amizade e de amor”. E, dirigindo-se aos ex-seminaristas, cutucou: “Eu tenho uma alegria diferente do Alberto, de ter vários padres ordenados, até um bispo que foi formando meu (risos)”. Sinto-me em casa aqui em Sacramento”.

Padre Brandolise ficou apenas um ano em Sacramento, exatamente há 40 anos atrás, em 1979, e guarda boas recordações. “Foi um ano só e guardo no coração duas coisinhas, a minha chegada e a minha partida. No final de janeiro, quando cheguei com 30 anos, fui apresentado na Igreja e sem saber o que dizer, falei brincando: 'Não sei qual pecado cometi, para o então provincial, Dom Carlinhos, me mandar pra Sacramento'. No final da celebração, o pessoal veio me abraçar e eu levei um puxão de orelha de uma senhora, que não vou revelar o nome, a esposa do Zé Caldeira e mãe da Andrea (risos) que me disse: 'Você já desarrumou a mala?' Eu respondi que estava desarrumando e ela respondeu: 'Então, trata de guardar tudo e vai embora, porque aqui não é lugar de castigo'. Um ano depois, no final de janeiro, mês do meu aniversário, eu me redimi dizendo que Deus foi tão bom para mim, que me deixou pelo menos um ano viver em Sacramento. E fui embora para Goiás. A satisfação de estar aqui hoje é grande, porque Sacramento nunca mais saiu de mim”.

O bispo Dom Messias Silveira celebrou a missa de encerramento, destacando na sua mensagem: “Estamos aqui encerrando este encontro, agradecidos pelo que Deus realizou na nossa vida, através da Congregação dos Missionários Redentorista e agradecendo pelos 60 da presença redentorista em Sacramento. Tenho a certeza de que muitos frutos foram produzidos com essa presença, mas não terminaram aqui. Esses frutos continuam espalhados por aí, muita gente dando continuidade a esse carisma, essa experiência bonita que vivemos como redentoristas”.

 

 

Ex-seminaristas falam da alegria do reencontro 

O casal Marcelo Ribeiro e Elvi Cristina, ele cirurgião dentista e ela médica, vieram de Uberaba para o encontro, que Marcelo avalia com algo único. “Foi espetacular, porque pudemos encontrar vários colegas daquele tempo, os padres formadores e nossos professores que nos ensinaram os primeiros passos, com uma paciência tremenda. A idade em que estivemos no seminário era uma idade difícil... Hoje, adultos, compreendemos isso e sabemos o quanto eles foram certos, didáticos e perfeitos na nossa formação. Embora não nos tenhamos tornado padres, nos tornamos pessoas com conhecimento e formação melhores para a vida, independente de nossa profissão”. 

O hoje professor universitário, José Carlos de Oliveira, casado há 25 anos com Cirlene, dois filhos, Isabela e Matheus, ambos falecidos ainda bebês, chegou ao Seminário no ano da inauguração, em 1969. “Era o início do seminário novo, e ingressei conforme o estabelecido, no curso de admissão ao ginásio e aqui conclui o ginásio, a oitava série, em 1973. Fui para Aparecida e fiz o colegial e fui para a PUC de Campinas. Foram dez anos de seminário, que deixei no final do segundo ano de Filosofia”, explica e fala da volta a Sacramento. 

“São extremamente importantes esses encontros, por podermos voltar às origens e poder rever nossos colegas e nossa vida. Estamos num processo de vida cristã, mas passando por esse experiência é gratificante. Já fiz uma experiência no encontro nacional em Aparecida”. 

José Carlos, que tem uma atuação muito grande na Igreja, sobre a ordenação dos padres casados, dá sua opinião: “No nossos trabalho evangelizador, engajado, percebemos que é algo que precisa ser pensado, trabalhado, rezado, porque a carência de padres é grande, inclusive para assistência espiritual. O povo aumenta, as necessidades aumentam e o clero diminui. 

José Donizete Gonçalves, Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores há 25 anos,  atualmente na Bolívia, esteve no encontro, acompanhado da esposa Benildes e um casal de filhos, Ângela e Lucas.  “Esses encontros são uma reinvenção de vida, a busca de velhos amigos e os padres que nos deixam muito felizes.  Fiquei felicíssimo por rever padre Vanin, que foi meu diretor. Eu já havia estado com padre Alberto e outros, mas Vanin era uma pendência. É muito bom reencontrar os padres colegas e conhecer outros. Além dessa revisão das amizades, a gente revisa a vida espiritual. É um momento de congraçamento raríssimo que a gente tem na vida. Acredito que, em qualquer outro segmento da sociedade, mesmo religiosa, não há esse tipo de experiência. Eu, minha família, especialmente os filhos que não tínhamos a noção do que era o encontro vamos embora muito felizes”. 

 

Oralda Manzan era considerada a 'mãezona', dos seminaristas, mas um deles tem ainda um carinho todo especial por ela, o bispo Dom Messias, que quando vem a Sacramento fica hospedado em sua casa. “Temos um quarto e uma cama para ele, que chega como se estivesse chegando na casa de sua mãe. Eu o tenho como filho, uma pessoa maravilhosa e me sinto feliz por ter feito parte de sua vocação, na pastoral rural, que ele participou conosco. Nós conseguimos cinco bispos e um padre, por isso somos agradecidos a Deus, pelo trabalho que pudemos realizar”.  

 

 

“Os redentoristas nunca saíram de Sacramento ...

O pároco Pe. Ricardo Fidelis (foto) ressaltou na sua mensagem o carinho da cidade para com os missionários. “É uma alegria recebê-los em nossa paróquia. Sejam sempre bem-vindos. Os redentoristas nunca saíram de Sacramento, na verdade, porque podemos sentir que estão muito presentes no coração do povo. Nesses dez meses que estou aqui, pude sentir isto de uma forma muito latente, de como os redentoristas marcaram a vida do povo desta cidade, tanto na Paróquia do Santíssimo Sacramento, quanto na Paróquia da Abadia”, disse, revelando que por pouco não se tornou redentorista. 

“Eu não sou ex-seminarista redentorista, mas sou ex-vocacionado redentorista. No ano de 1992, aqui neste seminário, participei de um encontro vocacional, me correspondi com o irmão Manuel por muito tempo, no acompanhamento vocacional e isso me ajudou muito no meu discernimento. Depois, fui religioso de uma congregação da Terceira Ordem Franciscana e hoje estou há 18 anos como sacerdote desta que é a arquidiocese da minha família, já que sou de Santa Juliana”. 

 

Falando dos preparativos para as Missões de 2020, Pe. Ricardo destacou os 200 anos de Sacramento a serem comemorados em agosto do próximo ano. “A data coincide com os 200 anos da Igreja em Sacramento, porque foi um padre que fundou a Igreja para ser um lugar de adoração e de amor ao Santíssimo Sacramento. E tivemos a alegria de receber dos missionários a concordância em virem pregar as Missões. Já começamos os preparativos e no primeiro semestre do próximo ano, com a graça de Deus, estaremos aqui com  a presença forte dos missionários redentoristas, nos ajudando na preparação desse grande jubileu”, disse, agradecendo pelo fato de a cidade ter vivido “dias redentoristas”, com o II Ereser e os 60 anos de presença redentorista na cidade.