O oficial de Justiça, Osnei Sisconeto, do Fórum de Sacramento, sob o apoio de 108 militares do 37º Batalhão de Polícia Militar, de Araxá, requisitado no processo 1577870520178E19, da Vara Agrária do Estado de Minas Gerais, para resguardar a segurança da autoridade, realizou na terça-feira 20, a reintegração de posse da fazenda Chapadão do Zagaia, neste município, ocupada por cerca de 500 famílias do MST (Movimento dos Sem Terra), desde o dia 5 de novembro de 2017.
Os militares chegaram ao local em 26 veículos, comandados pelo Tenente-Coronel Fernando Marcos dos Reis, Major Ademir Vicente Fagundes, Capitão André Luiz de Oliveira,Tenente Belchior dos Reis Carvalho Filho e tenente Josué Muniz das Chagas. Houve também a participação do Corpo de Bombeiros de Araxá; Conselho Tutelar e representante da Secretaria de Assistência Social de Sacramento e, como suporte, foram fornecidos para a operação, ambulância, caminhão pipa, caminhões para as mudanças e funcionários da empresa autora, a Agro Floresta Serra da Canastra.
Conforme relatório da Comunicação Organizacional do 37º BPM, a chamada foi realizada às 2 horas da manhã do dia 20, no auditório do 37º BPM, em Araxá, Em seguida, todos se deslocaram para Sacramento, onde foi realizada a instrução e, após o café da manhã, todos seguiram em comboio para a fazenda, onde chegaram por volta das 7h30.
Segundo o relatório, o local estava ocupado por 120 pessoas, entre homens, mulheres e crianças e havia, aproximadamente 600 barracas, construídas com madeiras de eucalipto e lona plástica.
Ao chegarem ao local, os responsáveis pela reintegração, se depararam com duas barricadas de madeira queimando na rodovia. Após a desobstrução da via, o comandante do 37º BPM, tenente Coronel Fernando, deu início às negociações, com as três advertências de praxe. “Na terceira advertência, os invasores decidiram sair, sendo realizada a entrada dos policiais, pacificamente”, descreve o relatório.
Conforme o auto de reintegração de posse do Oficial de Justiça e o relatório do 37º BPM, não houve nenhum confronto nem ocorrência policial. Foi dado prazo para os acampados retirarem seus pertences e feito o deslocamento, da maioria dos ocupantes em veículos cedidos para a transporte, e todos os que não tinham para onde ir (oriundos de outras cidades), foram encaminhados ao seu destino. Assim que todos saíram, iniciou-se o trabalho de vistoria e demolição dos barracos. A operação encerrou-se, pacificamente, por volta das 17h.
Sede foi destruída pelos invasores
De acordo com o auto de reintegração de posse, “os invasores entraram no escritório, furtaram computadores, quebraram portas, danificaram vários carros, tratores, caminhões, casa sede toda quebrada, seus móveis furtados, furto de madeira, ferramentas e inúmeras outras atrocidades contra o patrimônio dos autores”.
Após efetivada a medida, reintegramos a firma Agroflorestal Serra da Canastra SA, na pessoa de seu representante legal, Ricardo Batista da Silva Oliveira, e também do parceiro, 357 Agricultura Ltda, na pessoa de seu representante, Pedro Henrique Marinceck, que receberam cópias do auto de reintegração e exararam seus cientes”.
O outro lado
Ouvido pelo ET, o coordenador regional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Aguinaldo da Silva Batista, disse que “a luta das pessoas que foram excluídas do direito de ter acesso à terra, quase sempre, tem o desfecho de hoje. Uma reintegração de posse, por si só, já é violenta. Da forma que se apresenta os Sem-Terra, como invasores e não denunciantes, já se expressa a violação do direito à terra. O Estado, com seu braço armado, mesmo que precedido de reuniões preparatórias, não deixa de violentar o sonho E a necessidade de muitos em ter a terra como lugar que jorra leite e Mel, e muito mais vida”.
De acordo com o líder rural, o país vive hoje um estado de exceção. “Neste momento da história de nosso país, vivemos num estado de exceção, uma didática da lei, onde o judiciário também é refém das mais variadas formas de constituir um latifúndio. Seguiremos na luta pra demostrar a sociedade que um assentamento é muito melhor que uma grande propriedade”.
Finalizou, afirmando que “250 famílias ficaram e resistiram denunciando a maneira fraudulenta da constituição do latifúndio batizado de Fazenda Chapadão do Azagaia, ocupada por duas vezes, 2003 e 2017. E vamos continuar a luta para instalar um novo assentamento nesta região. Nossa missão é ocupar definitivamente um território produzindo um novo destino de desenvolvimento sem a presença da grande propriedade e sem o uso de venenos na terra e na produção num gesto solidário com toda humanidade”.