Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Sacramento dá adeus a dois grandes filhos

Edição nº 1433 - 26 Setembro 2014

A cidade viveu a dor da despedida de dois grandes sacramentanos, esta semana. O pracinha da 2ª Grande Guerra Mundial, Sérgio Scalon, e o motorista e almoxarife aposentado, Antônio Florêncio. Veja, em resumo, a história desses dois grandes homens. 

Sérgio  Scalon, 93, morreu na tarde da segunda-feira, 22, na Santa Casa de Misericórdia de Sacramento, onde estava internado. Velado por familiares e amigos no velório municipal, Sérgio foi sepultado às 21h do mesmo dia, após as exéquias proferidas por Pe. Eduardo Ferreira. De acordo com a filha, Cristina, há cerca de cinco anos, Sérgio teve uma isquemia e passou a não ter condições de sair sozinho. Foi ficando debilitado, enfim, aqueles sintomas  característicos da idade. Mas sempre fomos muito presentes na vida dele e papai morreu serenamente”. 

Sacramentano, o quarto filho de Ernesto Scalon e Luzia Jerônimo, que cresceu com os irmãos, de saudosas memórias, Sebastião, Antônio (Tonicão) e Biluca; e a caçula Leia, que esteve presente no velório. Os pais, italianos, se conheceram em Sacramento, casaram-se e constituíram família.  Sérgio e os irmãos nasceram em Sacramento e aqui Sérgio viveu a maior parte de sua vida, junto às lides da família e como motorista. Em 1942, durante a 2ª Grande Guerra Mundial, foi convocado para servir o Exércioto Brasileiro e participou de combates na Itália.

De acordo com a filha Cristina, pode-se dizer que Sérgio trabalhou em muitas frentes. “Antes da Guerra, vovô Ernesto tinha uma máquina de café, ali onde é hoje a Renutre, uma máquina muito boa, grande e, o papai e o tio Tonico eram os caminhoneiros, transportando café para Santos. Foi para a Guerra, e ao retornar ficou por aqui. Tio Macoy e ele montaram uma rádio, depois cinema, até que ele e mamãe se casaram”, conta, recordando sua mudança para o Paraná. 

“- Vovô adquiriu umas terras no Paraná, papai e os irmãos se mudaram então para o sul, com o objetivo de plantar café, mas depois de alguns anos retornaram e papai continuou

 como motorista e empresário rural”, até se aposentar.

Sérgio Scalon era um dos poucos pracinhas brasileiros ainda vivo. Todos se foram e ficaram as lembranças, que Sérgio raramente gostava de recordar. De Sacramento, vários foram os convocados, mas apenas Sérgio e Homilon Corrêa fizeram parte da Força Expedicionária Brasileira, que lutou na Itália, já quase no final da Guerra, ficando na Itália durante nove meses. 

“- Papai não gostava de falar do assunto. Ele só falou de verdade sobre a guerra por ocasião do nascimento da neta dele, a Manuela. Ele tomou umas cervejinhas e botou pra fora muita coisa sobre a guerra, que ele nunca havia relatado. Geralmente, quando ele falava sobre o assunto, falava de coisas boas, alegres, de companheirismo e dizia que nuca teve  medo de morrer. Tudo o que tinha de fazer, ele se apresentava como voluntário... Ele não gostava de falar das coisas tristes da guerra. E o interessante é que  sempre respeitamos, ninguém perguntava e, se ele falava ninguém comentava nada, só ouvíamos”.

Sérgio pautou a sua vida no amor à família, ao trabalho e à amizade. “Papai nunca teve inimigos, nunca vi papai gritar, ele sequer levantava a voz, não discutia. Era muito calmo e de um coração imenso. Não sabia falar, não. Ajudava todos que precisassem, inclusive, na época de fazenda, muita gente passava a perna nele, porque ele não sabia cobrar dívidas. Outra característica de papai é que ele adorava festas, reuniões, era um bom vivant era sempre muito animado, disposto, gostava da boa mesa, da boa bebida. Foi um homem cheio de vida...”, relata Cristina, que destaca também o hobby do pai, a pescaria.

‘‘- E não era só final de semana, não. Era todo dia, ele vivia programando pescaria no rio Grande e até no Pantanal, onde foi várias vezes. Infelizmente, não pudemos realizar um sonho dele, que era conhecer o encontro dos rios Negro e Solimões. Estávamos programando, mas ele adoeceu, ficou muito debilitado... Desde mocinho, pescaria era uma paixão dele. Aqui no Cipó, quando eles, papai, Sérjão, vovô Ernesto, tio Macoy, Jorginho Castanheira, Filinho... Não tinham barco a motor e remavam até debaixo da ponte, fizeram isso muitas vezes, depois veio o barco a motor. Eles contavas as histórias das pescaria e a gente dava boas risadas”, recorda emocionada, lembrando ainda da fundação do Rancho dos Treze. 

“Eram 13 amigos e resolveram fazer um rancho pra pescar. Era uma época  em que o rio Grande tinha peixes. Eles iam comer um dourado, desciam, não levavam tralha, nem comida, porque sabiam que encontrariam o dourado. Era uma turma boa a do Rancho dos Treze da Boa Amizade. E agora, partiu o papai... Do grupo estão aí os seus granedes amigos,  Ronaldo da Tia Orieta e o Antônio Loyola. Que pena, estão acabando, os Treze da Boa Amizade!!...”

Do casamento, em1950,  com Maria Leda Ribeiro, filha de Juca Ribeiro, nasceram os filhos, Sérgio (falecido), Maria Izabel, Maria Cristina, Maria Leda (falecida), Marcos e Túlio. 

 

O ADEUS A SÉERGIO SCALON

Um peregrino sacramentano, Sérgio

nascido em 1921, trazendo um grande

legado de exemplos de sua infância 

e juventude laboriosa, sofrida e humilde.


Que assimilou ao longo de sua formação,

qualidades e virtudes, dentre elas,

as da simplicidade, coerência, lealdade

e da persistência. 


Sobrepondo-se a inúmeros empecilhos, 

acreditando na criatividade como ferramenta

para abrir-lhe novos caminhos de esperança.


Com apenas 19 anos, alistado no Tiro de Guerra, 

foi convocado para a Segunda Guerra Mundial, 

servindo na Itália, onde permaneceu por mais de um ano.


Ao retornar ao Brasil, casou-se com

sua querida Lêda, com quem teve

os filhos Sérginho, Bela, Cristina, 

Marcos, Túlio e Marco Túlio.

Pai exemplar, amoroso e amigo,

dedicado inteiramente à família.


Para ele o importante era o absoluto.

Tudo o mais era secundário, efêmero e perecível.

Uma só coisa era necessária: o bem estar e amor

à sua esposa, o carinho aos seus filhos e netos

e a unidade entre todos eles.


Assim Sérgio viveu: sempre amoroso, vigilante, 

amigo, feliz, alegre, despojado.

E sobretudo, jamais existiu em seu vocabulário

a palavra “NÃO”.

Procurando sempre ser amigo de todos

que o rodeavam, ajudando-os a vencer

todas as batalhas com muito amor e sabedoria.


Durante toda a sua vida, Sérgio foi um 

grande pescador, amante da natureza, 

sobretudo, no Rio Grande onde passou 

seus melhores momentos, bem como 

nas pescarias no Araguaia,

no Pantanal e em outros locais do Brasil. 


Assim, o seu carinho a você, querida Lêda

e o seu amor pelos seus filhos e netos

representarão para vocês, doravante, 

a presença de Cristo que há de lhes dar

a força necessária para continuarem

sua messe nessa difícil jornada que os espera.


De seus amigos, o amparo do aconchego, 

das lágrimas choradas juntos e da força

para buscar a paz merecida e continuarem

sua caminhada na lembrança imorredoura

de seu querido e saudoso esposo, 

pai abnegado e carinhoso.


Reconhecendo que há um horizonte infinito

povoando seu olhar.

Pois, somos cidadãos de duas pátrias:

peregrinos, caminhamos para a Casa do Pai.


Por tudo isto, saudoso Sérgio, doravante 

há uma semente de eternidade

morando dentro do seu coração, 

na certeza de que a sua jornada fraterna

nesta terra, recobrou o sentido novo

e Deus se fez tão presente

que pode sentir a sua mão 

 

E o seu olhar vislumbrou tão longe

que penetrou o infinito.

E a luz brilhou, dissipando a escuridão,

Mostrando-lhe a eternidade!

Descanse em paz, Sérgio!


Dr. Ivone Regina

 

Antônio Florêncio

Antônio Florênciomorreu na Santa Casa de Misericórdia de Sacramento, às 13h45 do dessa quinta-feira,18, onde estava internado desde a tarde anterior. Viúvo de Geralda Rosa Florêncio, deixou os filhos, Creusa, Andrelina Luísa (Gilberto) e Nelcíria D'Arc; e Lívia Célia, falecida. 

Sacramentano, nascido na Santa Maria, filho de João Antonio Florêncio e de Maria Magdalena, Antonio Florêncio sempre viveu na terra onde nasceu, na Santa Maria. Estudou até o terceiro ano primário e, logo partiu para o trabalho como lavrador, porém, homem inteligente que era, sempre buscou informações e boas leituras, que passaram a ser a marca de seu perfil. 

Já na cidade  tornou-se motorista da prefeitura municipal, onde se aposentou, ocupando cargo de almoxarife. Mas  mesmo aposentado não parou, continuou trabalhando até seus 88 anos, para a firma CISAC de Conquista. 

Nas palavras da filha, Nelcíria D'Arc, Antônio Florêncio foi exemplo para a família, os amigos e a sociedade como um todo. Viveu seus 98 anos com altivez e porte, transmitindo  vitalidade  e alegria, uma genuína alegria que refletia na aparência e na alma. Na sua caminhada terrena, sempre foi fiel ao seu grande amigo, companheiro de todos os seus sonhos, seu compadre Sinhô Mariano, e das lições do Prpf. Eurípedes Barsanulfo, na evangelização de seu espírito. E foi assim até a morte”, diz a filha, recordando suas últimas palavras: “Orem por mim, mas não peçam milagre, peçam milagre, peçam força  sustentação e coragem; e não se esqueçam da palavra do Mestre, 'Amai-vos uns aos outros como eu vos amei'”.. 

Além do amor á família e ao trabalho, Antônio Florêncio fez a diferença como maçom da Loja General Sodré, onde  seu corpo foi velado pelos companheiros e um grande número de amigos e autoridades. Na casa que ajudou a construir recebeu as últimas homenagens dos irmãos. A Abner Ferreira Gomide coube a mensagem de despedida, presidindo a sessão magna especial fúnebre, devido à ausência do venerável, Edmo Borges. 

De acordo com Abner, pelo reconhecimento a Antônio, todos os irmãos, familiares e amigos compareceram à reunião, às 22h, da noite de sua morte. “Antônio Florêncio foi uma criatura humilde, um homem inteligentíssimo, estudioso, que superou os poucos estudos que teve, era um auto-didata, um grande conhecedor, principalmente,  da doutrina espírita, e seguidor de Eurípedes. Para nós da Loja, ele era um paizão, era uma pessoa querida, era só alegria, uma conversa sempre muito agradável, bom papo, contador de histórias e de 'causos' e cativava a todos que estavam ao seu redor”, afirma.

Falando da vida maçônica de Florêncio, Abner destaca o título de remido que recebeu da Loja Gal. Sodré. “Ele recebeu o título de remido pela idade e, apesar de não ter obrigatoriedade mais de frequência, de vez em quando vinha às reuniões. Depois, por problemas de saúde, teve de se afastar. Apesar de já estar numa cadeira de rodas, tinha a mente muito boa. Um dia, antes de seu falecimento, estive na casa dele na hora do almoço e ele me reconheceu, apertou minha mão,  sempre falante, falou do espiritismo”. 

 

Ainda, de acordo com Abner, embora fosse o mais longevo dos irmãos maçons, Antônio Florêncio, não ingressou na irmandade sacramentana, no seu início. “Temos dois fundadores ainda vivos, Herculano Almeida que está afastado por problemas de saúde, e o Edson Pícolo, que é frequente até os dias de hoje, mais de 60 anos de Loja. Florêncio pertencia à loja de Conquista, depois transferiu para a General Sodré, mas é uma pessoa que foi muito querida da nossa Loja e somos gratos por tê-lo tido junto conosco”.