Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Rede Brota Cerrado encerra II Festival de Cultura & Agroecologia

Edição nº 1406 - 21 Março 2014

O II Festival de Cultura & Agroecologia encerrou sua semana de grandes atividades na cidade na noite da última sexta-feira, 14, com o baile 'As 100 Primaveras de Carolina', no clube XIII de Maio, em clima de grande animação, alegria e despedida de todos os visitantes que prestigiaram, sem dúvida alguma, o maior evento cultural e de conhecimento agroecológico já ocorrido em Sacramento. 

A professora doutora Maria de Fátima Fajardo Archanjo Sampaio, mentora e coordenadora principal da semana, fez uma avaliação positiva de tudo o que aconteceu no festival.

“- Estamos felizes por termos proporcionado tantos encontros ao longo da semana, momentos de reflexões e de debates. Acredito que conseguimos  habitar a cidade de uma maneira sensível, plantando a  sementinha, haja vista a participação de tantos artistas. Abrimos vários espaços para criação colaborativa, buscando  unir arte e agroecologia. Aos poucos vamos alcançando os objetivos, percebemos que a semente plantada em 2012 germinou, tornou-se uma muda linda e se multiplicou, porque a terra foi muito generosa”, reconheceu . 

 

Para a curadora do evento, ‘‘O novo sempre gera medo nas pessoas...’’

Falando sobre o público presente, Fátima reconheceu que houve uma boa participação. “Vimos isso na abertura do festival com a casa cheia para refletir sobre educação. Isso, num momento em que a cidade está se preparando para ter uma escola técnica federal, que levará o nome de Carolina, é muito bom. Ficamos satisfeitos por podermos inserir Sacramento num projeto de transformação', afirmou, reconhecendo que toda nova ideia assusta.

“- Houve uma boa participação em muitos momentos do Festival. Poderia ter sido maior a participação nas discussões, mas  não atribuo essa falta ao desinteresse, acredito que há um pouco de medo. Chegamos com uma mensagem  de transformação íntima e de atitude muito fortes e o novo gera medo nas pessoas.  Se estamos acostumados a usar agrotóxico a vida inteira, se foi assim que aprendemos, se só sementes transgênicas estão disponíveis, a mudança não vai ser de uma hora para outra. Tudo isso que trazemos é muito novo e o novo gera insegurança, mas ainda assim vejo que houve um avanço muito grande”, explicou, completando: 

 

“- As pessoas têm  que liquidar com esse medo, a fé e o acreditar nos impulsiona e o medo nos arrasta para trás e já estamos vendo aí as consequências, por isso, um dia a sociedade vai ter que mudar a sua postura”. 

Família e organizadores perceberam o uso político da imagem de Carolina
Vera Eunice de Jesus Lima, filha de Carolina Maria de Jesus, era esperada na cidade no dia 14, quando participaria da sétima e última mesa de debates  abordando  o tema, “Mulheres de papéis e palavras”, com o professor Carlos Alberto Cerchi, Raffaela Fernandes, Aline Arruda e Sérgio Barcelos. Vera Eunice não veio a Sacramento, foi para o Rio de Janeiro, para a solenidade de lançamento do acervo digitalizado de Carolina Maria de Jesus pela Biblioteca Nacional, conforme explica a presidente Maria de Fátima.
“- Vera Eunice recebeu vários convites para solenidades pelo centenário de Carolina, que completaria 100 anos nesse dia 14. Nessa data, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro lançou o acervo digitalizado da escritora e Vera optou por participar lá. Mas desde o início eu senti que ela não viria. Vera tem uma boa relação em Sacramento, mas tinha muito medo. Ela nos disse que passou por alguns momentos que não a agradaram”, revelou, lamentando o uso político da imagem da escritora sacramentana.
“- E esse é ainda o grande e verdadeiro desafio que temos que desobstruir, que é a dificuldade de comunicação, na forma como as pessoas conduzem as coisas, para fazer acreditar que Carolina está sendo de fato, de verdade, homenageada. A gente vê um  uso político em cima de Carolina  em diversos lugares e situações, e  isso assusta e desagrada a  família. A gente sente isso e eu entendo que, é fácil falar de uma mulher negra, favelada, coitadinha, que conseguiu escrever alguma coisa. Falar isso é uma coisa; outra coisa bem diferente é considerá-la de verdade na sua magnitude”, frisou.  
Na tarde da sexta-feira, já no final da entrevista de avaliação do Festival, chegaram à Casa da Cultura uma comissão de Uberlândia. Ana Maria Rodrigues, atriz e produtora do Projeto Centenário de Bitita; Carlos Abel, diretor de teatro; Conceição Leal, professora da Universidade Federal de Uberlândia,  presidente do Movimento de Articulação e Integração Popular (MAIPO), e do Conselho Municipal da Comunidade Negra e Joice Divina Ferreira, dirigente  da ONG Mulheres Negras e membro do projeto “Centenário de Bitita”.