Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O Polaco da Praça, do Carnaval, da Folia...

Edição nº 1396 - 11 Janeiro 2014

Antônio Claret Scalon, o Polaco, 62,  é daquelas pessoas que podemos chamar de “pau para todo obra”. Está sempre pronto para ajudar e  não recusa nenhum tipo de trabalho. Já fez um pouco de quase tudo na vida. Hoje, já com uma aposentadoria, Polaco ainda se mantém na ativa como servidor municipal emprestado ao STC (Sacramento Tênis Clube ou Praça de  Esportes) desde 1989.  O ritmo de vida não é mais o mesmo da bela idade dos 20, 30 anos, mas o jeito é o mesmo de sempre e que o fez conhecido por todos em todas as atividades assumidas. Filho de AntônioScalon Sobrinho (Tonicão) e Rita de Oliveria Scalon, Polaco é paranaense de nascimento, de Arapongas. Casado há 40 anos com Valéria Schiffini Scalon, o casal criou três filhos: Thiago, de saudosa memória, Carla e Meg e quatro netos. Polaco  chegou a Sacramento aos sete anos e aqui escreveu e escreve sua história de vida.

 

ET - Por que você nasceu no Paraná e os demais irmãos em Sacramento?

Polaco - Em 1950, meu avô, Ernesto Scalon, fez as malas e se mudou para o Paraná, levando todos os filhos, Sérgio, Léa, Sebastião e papai... para plantar café. Todos pegaram as famílias e mudaram pra lá. Da família toda, só eu sou paranaense, éramos três, os primos, Jorge Luiz e Carlyle faleceram.  Só que a geada atrapalhou tudo. Quando voltamos para Sacramento eu tinha sete anos. Só o tio Xebém ficou em Arapongas. Ele e tia Bila já faleceram. Temos lá, ainda o primo Evaristo, que mora em Maringá. 

 

ET - Uma curiosidade, de onde vem o apelido Polaco?

Polaco -  Uma japonesa, minha págem, naqueles primeiros anos de vida, como eu era muito branco, ela começou a me chamar de Polaco e pegou, por conta dos muitos poloneses no estado.


ET - Com sete anos, morando aqui na rua Major Lima, em frente à escola, foi logo estudar...

Polaco – Sim, fui estudar mas no Grupão. E moramos antes em outros lugares. Primeiro, ali próximo à praça Homilton Wilson, indo para a  bairro Santo Antônio; depois,  mudamos ali pra perto do campo do Atlético, depois na casa do Manuel Moreira, até que chegamos aqui nessa casa da Major Lima. Meu avô  comprou a casa do Pedro Zandonaide e deu pro papai, isso há mais de 50 anos. É o lugar onde venho diariamente. Lembro muito da minha mãe, meu pai no alpendre. Hoje a casa é da Tereza e da Nina. 

 

ET – E a escola? 

Polaco – Como eu disse, comecei no Grupão, Afonso Pena, aluno da dona Sílvia, Agnes, Sidney, a minha sogra, dona Luzia.  Foi um tempo bom... Fiqui no Grupão até o quarto ano, colega do Paulinho, Claret Loyola, Mitzi, Pama, Bel Loyola. Uma coisa que nunca me esqueci foi das excursões que fazíamos na chácara da Japonesa. Todo ano  fazíamos esse passeio e era uma festa, com um lanche predileto da molecada, guaraná maçã e pão com salame. Outra coisa boa eram os teatros que fazíamos, a Pama, Mitzi e eu  nunca faltávamos. Uma festa, um tempo que não voltará jamais.  Mas houve  algumas coisas que marcaram, uma foi a morte do nosso colega de classe, o Donaldo que  morreu afogado na represa do Sr. Leonardo Nye. Outra  coisa que marcou muito, acho que todos os meninos da época, foi a morte do José Carlos, primo do Cinzano. O João Zoiudo também era adolescente e deu uma facada nele, ali no comecinho da rua Cgo. Julião Nunes, onde hoje é a Farmácia Canastra. O Zoiudo morava ali numa casa velha. Dizem que o Zé deu um tapa na cara do João, ele esperou o Zé Carlos voltar da escola e meteu a faca no pescoço dele. Ele andou até a rua Antônio Carlos e morreu em frente a casa do Godó, onde hoje mora a Maria Lina. Éramos   todos colegas, o que matou  e o que morreu. Aí quietou todo mundo, foi uma lição...

 

ET - Lição de violência, de tragédia...  E você , também, tinha fama de levado...  

Polaco - Você disse bem, porque era só fama (risos), mas fiz algumas travessuras. A diretora era dona Corália. A pior travessura que fiz foi numa aula com a professora, Da. Sidney, do Abenides. Aí  ela me deu um tapa no rosto e eu revidei com um murro na cara dela. Vocês imaginam o auê que foi. Chamaram  meu pai, ele reconheceu que eu errei em brigar com ela e revidar, mas  ele disse: “Não criei filho pr'outros baterem, não”. Aí,  foi pôr panos quentes...

 

ET - Depois do quarto ano...

Polaco - Vim pra Escola Coronel pra fazer o Admissão. Um curso preparatório de dois meses, que era feito nas férias de final de ano, para em março, se fosse aprovado, ingressar na 1ª série ginasial. Se tomasse bomba tinha que fazer o Admissão em um ano. Era um curso puxado, acho que a matéria que estudávamos no Admissão o pessoal estuda hoje no Colegial. Mas eu passei nesse curso das férias e fui pro Ginásio...

 

ET- Os professores...

Polaco - No Coronel estudei com muitos professores, dona Zezé, dona Salete, dona Aracy, Lindolfo, Prof. Antônio, Alzira Bessa, a Marli do Zé Batista, a Irene do Godó, dona Irene Mendes, Leida do Walder... Eu falei do Lindolfo e me lembrei que a gente nunca deu certo. Um  dia, ele estava brigando com a dona Aracy, quis agredi-la  e aí, eu  e mais uns oito fomos defendê-la. Ele saiu correndo e nós atrás, até que ele entrou em sua casa, ali pra baixo do Zandonaide (risos). Terminei a 4ª série ginasial com uma bomba, na 2ª série, hoje eles falam 6ª série...


ET - 7º ano. E depois?

Polaco - Pois é, já mudou tanto que nem sei...  Mas depois da 8ª série fui para o curso de Contabilidade, no prédio construído no meio da praça da Gameleira, Idalides Milan, no ano em que foi inaugurado. Era um curso noturno. Comecei depois Administração de Empresas, mas parei no meio do caminho, porque trabalhava no Laticínios Scala e não dava tempo. 

 

ET - E na Escola Coronel o que mais o marcou foi sem dúvida a Fanfarra. Concorda? 

Polaco – Sim, com todas as letras. Quando comecei eram 27 instrumentos. Lembro bem do Afonso, Márcio Tadeu, o Vanderley Martins, Didião, José Ricardo, Mozart, Waltinho, Cinzano... Comecei tocando corneta, tendo como instrutor o Marinho, do Banco do Brasil. Ensaiávamos sozinhos durante a semana e, aos sábados e domingos ele vinha. Eu toquei de tudo, corneta fá, si, tuba, tarol, bumbo, fuzileiro. Depois que saí da escola, para minha alegria, fui convidado pela Da. Aracy para ser instrutor. E foram 21 anos à frente da fanfarra. No tempo da Dra. Ivone eu cheguei a ser funcionário do Estado, foi a única diretora que fez isso por mim. Quando ela saiu, estávamos preparando uma grande festa, os '50 Anos do Coronel'. Os fuzileiros já estavam com a marca dos 50 Anos do Coronel, no couro, mas aí houve a exoneração dela. Naquele tempo os diretores não eram eleitos pelos alunos e pais, era indicação política. Mudava o prefeito, mudava o diretor. Foi o 'ano da virada', quando PMDB ganhou no Brasil todo. E o presidente do partido em Sacramento, Clanther Scalon, tirou a Ivone. Foi uma revolta na cidade. Nós descemos com a fanfarra e fomos tocar em protesto, na porta da casa dele. Mas a fanfarra brilhou muitos anos...


ET - Fale um pouco de sua vida profissional. Começou a trabalhar cedo?

Polaco - Ih, comecei cedo. Eu era menino, fui trabalhar como engraxate, mas meu primeiro emprego foi na Cinelândia, ainda no tempo do Tomate, do Nelo Orlando. Eu era garçom. Saí, fiquei um tempo parado, só vagabundando... Fui depois para a Sorveteria Jussara, do Mário Borges. Depois fui para a Pinusplan, reflorestadora que chegou a Sacramento no final dos anos 60, e lá fiquei durante seis anos. Terminamos de plantar os pinus, fui transferido para Monte Carmelo, depois para Uberlândia...

 

ET - Foi na Pinusplan, trabalhando como auxiliar de topografia, que você adquiriu esse problema de  permanecer com um olho fechado?

Polaco - Foi. Naquele tempo não tinha GPS, não. Era tudo no 'olhômetro'. Eu trabalhava ajudando o japonês, Akio Adachi, no balizamento das ruas. Os cabos de vassoura eram pintados de branco e vermelho, a gente pegava um feixe de balizas  e saia com o topógrafo. Cada rua tinha dez metros, ele fincava dez balizas e tirava o aparelho, aí a gente continuava sozinho, tirando a medida no olho e a margem de erro poderia ser de no máximo dez centímetros.  A gente fechava um olho e ia fazendo o balizamento, o dia inteiro, o mês inteiro, cinco anos. Depois que medimos tudo, fui para o escritório, mas já estava 'caolho' (risos).


ET - E depois de Uberlândia?

Polaco - Retornei pra Sacramento em 1973, ano em que me casei  e logo fui trabalhar no Laticínio Scala. Lá eu queimava latão. Havia um cano a vapor, o pessoal lavava os latões, me passava e eu ligava o vapor, queimava e empilhava. Os caminhões chegavam e pegavam tudo limpinho. Foram quase sete anos ali no laticínio  Dali fui para o escritório da Noélia, depois com o Mário Eugênio, na máquina e com Dr. Ivan Barbosa, também na máquina e dali para  a Prefeitura.


ET - No governo do Dídia? 

Polaco – Sim, mas devo isso ao Dr. Ivan Barbosa, do Parque Náutico. Ele era um dos secretários do governo de Minas, muito ligado ao Itamar Franco... Um dia, ele me perguntou onde eu gostaria de trabalhar: No Bemge? Na Cemig? Ou na Prefeitura? Aí, eu falei da minha vontade de fazer alguma coisa pelo esporte local. Dias depois o prefeito Luiz Magnabosco, o Dídia, me chamou e lá estou até hoje, como servidor municipal, estável, no cargo de Auxiliar Administrativo II. Nesses 30 anos estive  envolvido com o esporte. Aliás, eu reconheço que o Dídia foi um dos melhores prefeitos que Sacramento já teve. Até hoje foi ele quem mais investiu no setor de Esportes. Nós reativamos a Liga Desportiva Sacramentana (LDS), que tinha um quadro de árbitros; criamos a Rua de Lazer;  os Jogos Estudantis de Sacramento  (JES), reativamos os campeonatos de futebol, urbano e rural. No governo do Dídia, a Prefeitura encampou o Copão de Futsal,  criado por Jair Valdo e César Donizete de Oliveira.

 

ET - Você acha que, se o esporte da cidade fosse ainda coordenado pela LDS não existiriam problemas?

Polaco - Poderiam até existir, mas com certeza, em muito menor proporção. E o principal é que a política desapareceria dos campos e das quadras... É qualquer campeonatozinho, lá está o político entregando troféu num sei das quantas e entrando em tudo quanto é foto de time. Com a liga acabaria essa lereia. A liga é muito importante para o esporte local, mas infelizmente, depois do Dídia, ela desapareceu por falta de apoio. Naquela época, o futebol  era bem estruturado, havia umas pessoas que se doavam pelo esporte: o seu Deda,  do Atlético; o Curtume, do XIII de Maio e o  Ademaro, dos Marianos. Era fácil trabalhar  com eles, as pessoas tinham respeito. 

 

ET - Que diferenças você apontaria?

Polaco – São gritantes. Hoje, infelizmente, eu diria que o esporte de Sacramento não existe. Cada clube com seus atletas, seus treinos semanais, seus jogos... Isso tudo acabou. Hoje ainda há muita gente boa, mas a maioria só faz as coisas por dinheiro. Naquela época, o pessoal subia num caminhão e ia jogar amistosos na zona rural e ninguém cobrava nada. Hoje, se não der chuteira, dinheiro o pessoal não joga. Hoje, vem jogador de fora recebendo até R$ 200,00 por jogo. 

 

ET - Mas qual o problema em se cobrar para jogar?

Polaco - Nenhum. Não é pelo valor. Vocês me pediram para citar as diferenças, estou mostrando que os atletas jogam nos copões e nos campeonatos em equipes arranjadas na última hora. Ninguém treina, porque sabe que na hora da competição virão jogadores de fora.  No campeonato rural veio gente de Franca, Araxá pra jogar. Atleta de fora ganha R$ 200,00 e daqui da cidade, R$ 50,00 por jogo. Onde já se viu isso!.. Campeonato rural é para dar oportunidade para atletas da zona rural. Tem gente de Sacramento que não disputa o municipal pra jogar pelo rural ganhando dinheiro. Esporte virou comércio. Só jogam mediante pagamento. E o engraçado é que ninguém daqui é contratado pra jogar fora, porque lá eles têm seus atletas. Isso desestimula os atletas a treinar, preparar...

 

ET - Como foi trabalhar com diversos prefeitos nesses últimos 30 anos... 'Te' suportaram ou você os suportou?

 

Polaco - De um modo geral, foi legal com todos. Reciprocamente, nos suportamos (risos). Uns mais outros menos. Comecei com o Dídia e foram os anos em que ele provocou uma revolução no esporte. Depois passei pelo José Alberto, Joaquim e Biro, com oito anos cada um, o  Baguá e agora o Bruno. No governo do José Alberto, em 89, fui transferido para a Praça de Esportes, através de uma parceria com o Estado, e lá estou até hoje...