De acordo com a companheira de todas as horas, a esposa Margareth (Meg) Santos Maluf, apesar do intenso tratamento e duas cirurgias, o problema veio se agravando. “José Armando fez a primeira cirurgia há 22 anos em Belo Horizonte e a última há oito anos. É uma doença congênita e rara, que forma várias bolhas nos pulmões, e que vão ocupando os espaços. Nos últimos quatro anos, associado ao cigarro que só deixou há um ano, o quadro se agravou, obrigando-o a usar oxigênio 24 horas por dia. Mas chegou a um ponto que ele não conseguia mais respirar. Nos 81 dias de internação na UTI, apenas por 48 horas, foi para o quarto, mas foi obrigado a retornar”, conta.
Meg conta que José Armando esteve sempre lúcido na UTI. “Ele não conseguiu conversar apenas nos últimos dois dias. Suportou todo esse tempo com muita paciência e tranquilidade. Não ficou sedado, nem entrou em coma, mas os médicos falaram que não precisávamos esperar uma resposta, que o tratamento feito era apenas paliativo. José Armando não tinha falta de ar, quer dizer, ele não estava sofrendo. Continuamos as visitas e esperamos a sua hora, que chegou para ele, tranquila e serena”, disse mais, emocionada.
Apesar da doença, José Armando sempre se manteve ativo, cativando a todos pela simpatia ímpar, conforme relata a esposa Meg. “Ele convivia bem com a doença, era muito ativo, era muito família, caseiro e gostava de receber amigos em casa, oferecer o melhor. Muito vaidoso, sempre muito bem vestido ... deixou lições de vida”, afirma, recordando, saudosa, como tudo começou. “Ele sempre foi muito galante, um homem fino, lembro-me de quando nos conhecemos há 23 anos. Eu tinha 21 anos e a primeira vez que ele foi em casa foi de terno e gravata...”, recorda com emoção.
Para Meg, hoje fica o vazio e também a serenidade pelo companheirismo que sempre lhe devotou carinho e amor. “Estou em paz, porque sempre fui muito presente na vida de José Armando, éramos eu e ele, ele e eu, participando juntos do dia a dia. Por vezes ele foi meu pai e, depois meu filho, sobretudo nos últimos anos. Foram 23 anos juntos e uma mistura de sentimentos: fui amiga, fui amante, fui filha, fui companheira, fui cúmplice, fui esposa e fui mãe. Um cuidava do outro..., mas sempre imperou um amor recíproco muito grande, sempre um querendo estar perto do outro. Enfrentamos juntos a doença e fomos muito, muito felizes...”
Meg destaca ainda a presença de Gustavo, o filho caçula de José Armando. “Todos os filhos sempre se deram muito bem com ele, mas Gustavo era muito ligado ao pai, pois morou conosco durante muitos anos, dos dez anos de idade até dois anos atrás. Ele é uma pessoa muito amorosa, então era uma ligação muito grande e afetuosa entre os dois...”
José Armando Maluf é sacramentano, filho caçula dos saudosos Fozo Rachid Maluf e Corália Venites Maluf. Estudou na escola estadual Afonso Pena Jr., no colégio Marista Diocesano e formou-se em Direito, na Fiube (atual Uniube), em 1965. Desde cedo, trabalhou com pai, Fozo, no Cartório do 2º Ofício Judicial, do qual tornou-se Oficial em 1982, com a morte do pai. Sempre muito engajado, política e socialmente, como todos os jovens de sua época. Foi um dos fundadores do extinto jornal 'O Passa Perto', da década de 1960; presidente da extinta escola de samba Mocidade Alegre; presidente do Sacramento Clube nos seus áureos tempos Foi membro fundador do Lions Clube, no final dos anos 1960 e início de 1970 e foi presidente do Rotary Clube de Sacramento no ano rotário 2007/2008. No dia 6/12/2013, foi condecorado com a Medalha Desembargador Hélio Costa pelos relevantes serviços prestados ao Poder Judiciário local.
José Armando deixa a esposa Margareth Santos Maluf, os filhos José Armando Maluf II, José Eduardo Maia Maluf, Juliana Gabriela Maia Maluf, do casamento com Julieta Maia e Gustavo Portella Maluf, do casamento com Jane Portela, mas deixa sobretudo, um grande legado à família e amigos e uma profunda saudade nos corações de todos.
Amigo é coisa pra se guardar...
José Armando sempre manteve uma estreita relação com os advogados da cidade como titular do Cartório do 2º Oficio, embora não tenha exercido a profissão de advogado, por exigência legal pela titularidade como cartorário, conforme lembra o presidente da 116ª Subseção da OAB/Sacramento, José Rosa Camilo.
“- José Armando, desde que se formou, em 1965, passou a trabalhar no Cartório com o seu Fozo, como oficial substituto e , assumiu como titular após a morte do pai, em 1982. Isso quer dizer cerca de 49 anos no Cartório, mas o que mais importa para mim neste momento é dizer que fomos grandes amigos”.
José Rosa destaca a amizade mantida com José Armando por longos anos. “Fomos muito amigos e amigos muito próximos, tivemos sociedade numa fazenda como plantadores de feijão. Na época, nós chegamos a fazer a maior lavoura de feijão em área contínua do país, que foi objeto de reportagem no Globo Rural. Eram 120 alqueires mineiros de plantação, ou seja, mais de 600 hectares de lavoura. Fizemos um trabalho extraordinário, em um ano. Desmatamos o cerrado, preparamos a terra, destocamos, calcariamos e plantamos, isso em um ano. Tínhamos 70 trabalhadores, quatro tratores de pneus, dois tratores de esteira, enfim, todos os equipamentos e o José Armando era quem cuidava da distribuição do serviço e das máquinas. Ele era um entusiasmo só. Tínhamos comprado feijão pra semente de todo canto do país. A lavoura ficou magnífica. Os pés de feijão chegaram a medir entre 60 a 80 cm, carregadinhos de vagens. Uma maravilha! Um belo dia, o encarregado da fazenda me liga, dizendo: “Doutor, a lavoura pegou 'mau olhado'. 'Tem' umas manchas roxas nos caules e as folhas murchando”. Na hora não acreditei, mas era a antracnose, uma doença que dá no feijão e que devastou com tudo. Aquele foi um ano muito chuvoso e quanto mais chove, mais ela ataca. Compramos herbicida, um investimento altíssimo, isso numa época em que quase não se usava tratamento para lavoura. Quando fomos fazer o levantamento, o combate da praga havia ficado mais caro que a lavoura. Tínhamos um seguro ProAgro, mas era um seguro, que não segurava ninguém, só fantasia, perdemos tudo. Plantamos 586 sacas de 60 kg de feijão e colhemos 28”, conta, hoje, entre riso, lembrando que na época foram lágrimas.
“- Hoje dou risadas, mas na época foi muito triste. Mas o mais cruel disso tudo, é que antes de a fazenda ser atacada pela praga, o José Armando havia arrancado um pé carregado de vagem, ele contou quantos grãos havia em cada vagem, multiplicou-os pelo número de vagem, calculou quantos pés de feijão cabia num metro quadrado, multiplicou 48.400 m² que tem um alqueire e calculou quantos sacos de feijão iríamos colher: mais de 10.800 sacas, quase 700 mil quilos de feijão e só colhemos 28 sacas. Só que isso o Globo Rural não mostrou...”, recordou entre risos.
E definindo o amigo, José Rosa conclui: “José Armando foi uma pessoa extraordinária, profissional competentíssimo, que tinha uma fidelidade muito grande com a classe dos advogados. Ele, embora fosse oficial da Justiça, dispensável de manter inscrição na OAB, manteve-se inscrito desde a sua formatura até o falecimento. José Armando era uma pessoa ágil de raciocínio, de conclusões rápidas e, embora o seu raciocínio fosse mais matemático que filosófico, isso é que lhe dava uma capacidade de discernimento muito grande e isso era a razão da sua competência profissional”.