Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Morre Irmã Flávia em Uberaba e deixa herança para seu gerente

Edição nº 1408 - 04 Abril 2014

A dominicana, Irmã Maria Flávia Bernardes, mais conhecida por irmã Flávia, morreu na última sexta-feira, 28, no Hospital São Domingos, onde sempre trabalhou como enfermeira, em Uberaba, aos  91 anos. Irmã Flávia foi velada por familiares e amigos na Capela do hospital e, após missa de corpo presente e exéquias celebradas por Mons. Levi Fidelis Marques, foi sepultada no jazigo da congregação, no cemitério São João Batisa, deixando para a cidade, um grande legado, dentre eles o Hospital São domingos, do qual foi  uma das fundadoras.

Para o sobrinho José Alberto Bernardes Borges, que esteve presente nos seus funerais prestando-lhe homenagem, sempre há o sentimento de perda. “Estamos sentidos com a sua morte, mas ao mesmo tempo, sentimo-nos muito felizes, porque ela foi uma grande mulher, muito caridosa, muito alegre, realizou aqui uma grande obra, por isso recebeu o escapulário, o que é uma grande bênção”, destaca, lembrando o dia de sua morte, a véspera do sábado.

Lembra José Alberto o desprendimento de sua tia. “Irmã Flávia era uma mulher desprendida. Foi um anjo da guarda da nossa família. Nos tempos em que foi superiora da Congregação Dominicana e trabalhando no Hospital S Domingos, demonstrou muita atenção para com seus conterrâneos. Muitas pessoas de Sacramento vinham nos agradecer pelo carinho e atenção dela, quando lá estavam internados, embora não fosse sacramentana. Irmã Flávia nasceu em Uberaba. Era uma mulher muito desprendida, com um grande coração. Foi uma alegria tê-la em nossa família”, frisou.

Irmã Flávia, que na pia batismal recebeu o nome de Maria da conceição de Mello Bernardes, em homenagem ao dia de seu nascimento, 8 de dezembro,  dia da Imaculada Conceição, era filha de Amâncio José Bernardes e de Guiomar de Melo Bernardes, pais também de Artur, Bolívar, Benvinda, Carmelita, José (Juquinha Farmacêutico), Durval, Epaminondas (Sabonetão),  Dr. Fábio e  Hélio. 

O sobrinho José Alberto, que mantinha fortes laços de amizade com irmã Flávia, conta como se deu a aproximação entre eles. “Eu perdi um irmão, Gustavo, com um ano e meio de vida. Minha mãe ficou desesperada e teve de ser internada em Belo Horizonte, Irmã Flávia, que já era religiosa,  veio cuidar de mim e a partir daí firmamos uma amizade  muito grande. Eu era uma criança muito levada e ela me contava as travessuras que eu fazia”, relata.

Sobre a vocação  da tia, José Alberto conta uma interessante história.  “Mamãe contava que, logo que ela se formou no Magistério, no Colégio Na. Sra. das Dores, das irmãs dominicanas, em Uberaba, disse que seria freira e meu avô não permitiu. Minha avó, então, fez todo o enxoval dela escondido do vovô e, na Páscoa, eles foram para Uberaba, para o baile da Páscoa no Jóquei Club. Aliás, até então, minha tia teve vários namorados. Tudo preparado, ela dançaria a valsa com seu irmão, Durval. Contava mamãe que, por vola das 4h00 da tarde, Ir. Flávia trocou o vestido e pediu a meus para a meus pais para a levaram para o convento.

Lembra o sobrinho que quando o irmão, Durval, soube, foi ao colégio e sentou o pé na porta. “Dizem que ele gritou, bateu o pé na porta, mas de nada adiantou e contou para o meu avô. Minha avó  ora ria, ora chorava de alegria, porque o pai da minha avó (meu bisavô) ajudou a construir a Igreja de São Domingos. Embora não consentisse naquele primeiro momento, depois concordou. Mesmo sendo um Coronel, meu avô Amâncio era um homem religioso, com missas dominicais. Todo final de semana vinha com a minha avó para a missa das dez, na Matriz, e partia para o carteado, na banca do Tomás Abrate. Ele jogavapôquer”, recorda.

 ‘‘Contam mais – prossegue J. Alberto – que logo depois que Ir. Flávia entrou para o convento,  a superiora mandou chamar meu avô, para discutir o dote, que é uma quantia que ele deveria entregar à congregação. ‘Imaginem só!’ - gritou meu avô. ‘De jeito nenhum. Não dou um tostão. Minha filha sadia e formada, eu quero é que ela saia’, mas de nada adiantou”. 

Irmã Flávia permaneceu no convento, tornou-se freira e depois enfermeira, e com madre Angelina e madre Rosa  fundaram o Hospital São Domingos. “- Antes do hospital, elas tomavam conta da Santa Casa de Uberaba e um  dia meu avô chegou à santa casa e viu irmã Flávia limpando o chão. Chamou a superiora e  falou poucas e boas”, conta mais. 

‘‘- Outra bronca que ele deu com as irmãs dominicanas foi quando elas vieram a Sacramento lhe pedir dinheiro pra construir o Hospital São Domingos, mas acabou arrumando o dinheiro’’, recorda mais.

Afirma mais o sobrinho que a trajetória de irmã Flávia foi uma constante doação, uma vida de trabalho junto aos doentes e aos mais necessitados. “Contam também que ela era a filha que meu avô, Cel. Amâncio mais gostava. Ela cuidou muito dele, aliás, toda a nossa família passou pela caridade dela. E meu avô, quando dividiu as fazendas lhe deixou mais terras, para compensar a qualidade, para a época eram as piores, os campos e serrados, hoje todos agricultáveis’’.

Aberto o testamento de seus bens, Ir. Flávia surpreendeu a todos, quando deixou sua fazenda ao seu procurador e gerente administrativo, Renato Bizinotto, que se sentiu mal quando ficou sabendo do presente recebido da Irmã que ele ajudou na administração de suas terras.