Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Morre Herculano da Fármácia

Edição nº 1435 - 10 Outubro 2014

Herculano Almeida, mais conhecido como Herculano da Farmácia, 85,  morreu nesta quarta-feira por volta das 13h00, no Hospital São Domingos, em Uberaba, onde estava internado há 20 dias. Trasladado para Sacramento, Herculano foi velado por familiares, autoridades e  centenas de amigos e conhecidos e, após as exéquias e orações foi sepultado às 9h da manhã da quinta-feira, 9, no Cemitério S. Francisco de Assis.  No féretro, o corpo de Herculano foi coberto pela bandeira do município e trazia as comendas e medalhas com que foi condecorado em vida.

Herculano Almeida deixa a esposa  Marlene Natal Almeida, os filhos, Lívia, Rodrigo, Sâmia, Clarissa, Suzane, Juarez e Thiago, dez netos e um bisneto.

Por mais de seis décadas, Herculano foi mais que farmacêutico, era o 'doutor' que medicava, receitava e vendia ou doava medicamentos. “Com dinheiro ou sem dinheiro, as pessoas não saiam da farmácia sem o remédio, fazendo jus ao nome do estabelecimento, 'Farmácia da Esperança', recorda, ainda emocionado, o funcionário Wander Gonçalves de Souza, 52, com mais de 30 anos de casa.

  Com quase 70 anos na profissão, Herculano declarou ao ET em entrevista dada no ano de 2011, que a Farmácia da Esperança não lhe pertencia (Edição n° 1268 ): “A Farmácia da Esperança não é um patrimônio meu, ela pertence mais a Sacramento do que a mim. E muito do que ela representa hoje para Sacramento, devo com humildade aos meus ex e atuais funcionários, assim como a grandes amigos que sempre tive”, reconheceu, com humildade.

 Mas, mais que profissional competente, Herculano foi sempre um homem atuante na sociedade, pessoa engajada nos serviços filantrópicos,  sociais, esportivos. Na cidade, era um apaixonado pelo Atlético, por muitos anos fazendo parte da diretoria do CAS. Foi um dos fundadores da Loja Maçônica General Sodré, da qual recebeu homenagens em 2009, sendo agraciado com o Diploma de Honra ao Mérito e a Medalha Manoel dos Reis Correia, pelos relevantes serviços prestados à ordem, com outros irmãos.   Como político, foi vice-prefeito de Hugo Rodrigues da Cunha, na gestão 1973/1976, mas,  mais que isso, era profundo conhecedor  da política local e de grande influência nos meios políticos.

 Para muitos foi o amigo sempre muito educado, simpático e um grande contador de 'causos'. E marcava pela roupa branca que sempre usava. Quem seguia por qualquer via que faz confluência com a esquina da  Major Lima  com a Visconde do Rio Branco, de longe avistava a figurinha branca de um grande homem, postado de pé na porta central da Farmácia. 

Aos poucos a esquina foi ficando vazia... Herculano já não era tão presente, alquebrado pela idade que avançava e as perrenguices, que o acometiam...  Agora, a esquina está totalmente vazia de sua presença, que sempre será lembrada pelas atuais gerações, sempre que passarem pelo imponente prédio da farmácia, que chegou à modernidade, sem perder a  sua identidade. Até os móveis são mantidos o  que muito o orgulhava e à cidade.

 

Herculano se foi, mas fica o legado...

Para os funcionários, Herculano Almeida era exemplo de carinho e respeito. Dos funcionários mais antigos, Wander é o único que permanece, depois da aposentadoria de quase todos os outros. Em entrevista ao ET, fala do saudoso patrão e amigo. “Ele deixa exemplos de carinho, respeito. Ele não era bem um patrão, nos considerava filhos. Gostava muito de cada um de nós, sempre nos ensinando. Ele sempre pensou no melhor para nós: atender corretamente, ter uma boa postura, falar corretamente, até escrever bem ele ensinava. Tinha prazer em ensinar. Ele nos ensinava tudo de farmácia, aplicar todo tipo de injeções,  até a manipular alguns  remédios, que, de primeiro, era permitido. Era um exemplo. Estou aqui há 30 anos e cinco meses, para mim, foi um segundo pai, porque foi um exemplo de vida. Ele me ensinou a ser homem, honesto, dedicado á família, a ter as coisas”, diz. 

Recorda Wander que Herculano o ajudou a adquirir sua casa própria. “Ele esteve comigo na agência, conversando com o gerente para a liberação do financiamento, faltando seis meses para vencer prazo eu quitei tudo e ele sempre achava bom, quando via que conseguíamos alguma coisa. Era um homem de um grande coração, muito desprendido, com todo mundo. Muitas vezes a pessoa vinha com a receita, não tinha o dinheiro e ele dava o remédio. E dava  remédio também como médico. Não havia a facilidade que tem hoje, as pessoas, principalmente da zona rural,  chegavam clamando, ele prescrevia e dava o remédio. Ele tinha o bloco de receituário, com o nome dele...”, afirma. 

Outro destaque de sua grandeza de coração, Wander  recorda que acontecia com os empregados. “Uma vez eu  perguntei porque ele não descontava o INSS no pagamento e ele respondeu: “Não vou descontar, não, vocês já ganham pouco...”. Era um homem muito bom”. Um detalhe que Wander lembra é que quando havia o Restaurante Cinelândia, do saudoso Expedito, era ali que Herculano jantava. “Todos os dias ele levava um funcionário para jantar com ele, todo santo dia. Passeava de carro”. Outro fato era que Herculano era muito religioso. “Ele era espírita, mas era muito devoto de Nossa Senhora Aparecida. Muitas vezes, a gente saia de carro, ele entrava na Igreja Matriz e ia rezar pra ela. Vi isso muitas vezes”, conta. 

E os funcionário vão sentir falta, porque Herculano passava várias horas do dia na Farmácia, onde começou com empregado em 1947 e mais tarde proprietário e até o seu falecimento era presença diária. “É um homem que vai deixar saudade... Ele conhecia todo mundo, era um contador de causos, principalmente de política, quando ele foi vice-prefeito do Hugo, sem remuneração nenhuma”, diz mais Wander.

Para o amigo, o ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, a morte de Herculano Almeida representa uma grande perda. “Herculano me norteou muito na vida pública. Porque eu sempre busquei experiência em pessoas mais velhas e ele me ensinava coisas simples, mas de uma profundidade e de valor muito grande. Foi um homem que me ajudou muito quando prefeito, até com dinheiro, quando emprestou dinheiro à Prefeitura para levar um doente até Curitiba para fazer um transplante.  Este é apenas um dos exemplos das ajudas que Herculano  me deu”, recorda.

 

José Alberto destaca  ainda o dom de Herculano para a medicina e sua atuação na sociedade. “Ele foi um grande político, um diplomata, um conselheiro, homem muito bem relacionado.  Eu tinha muito carinho por ele. O interessante é que nos últimos tempos, eu ia à farmácia, ele me pegava pela mão e ficava segurando, contando coisas e eu sentia que ele buscava segurança em mim. No início, ele me dava muita segurança, eu sabia onde encontrar ajuda e resposta e agora no final, eu lhe dava segurança”, relata e finaliza expressando a sua solidariedade à família.