Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

II Espaço em Jaguara de Cafés Especiais: Produtores apoiam fábrica da Nestlè

Edição nº 1439 - 07 Novembro 2014

Um dos pontos altos do II Espaço em Jaguara de Cafés Especiais no dia 23 de outubro, além das palestras, foi a adesão dos cafeicultores num documento em favor da instalação de fábrica de cápsulas da multinacional Nestlè no Brasil. 

A empreendimento que deve ser montado em Montes Claros (MG), segundo a Nestlè, vai atender o mercado interno, que possui o consumo de mais de 300 milhões de cápsulas por ano. Outro compromisso da multinacional é também aumentar a quantidade de café brasileiro no blend, até chegar a 100% da composição, além de comprometer-se a colocar a marca Café do Brasil no mercado internacional.

O coordenador do evento, Ivan Sebastião Barbosa Afonso, comemora a adesão das 234 assinaturas colhidas no evento e explica  que,  a iniciativa do evento busca dar voz aos produtores. “Aproveitamos o momento para reunir produtores em torno deste tema. O abaixo-assinado será enviado em nome dos próprios cafeicultores e não de uma única cooperativa ou instituição, ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, com cópia ao Conselho Nacional do Café (CNC). E como há interesse de que a fábrica seja instalada em Montes Claros (MG), o documento será entregue, também, ao governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel”, explicou.

O texto do abaixo-assinado, direcionado ao ministro Miguel Rosseto diz que “Cafeicultores e integrantes da cadeia produtiva do café, reunidos em Jaguara, nesta data (23/10), durante o II Espaço em Jaguara de Cafés Especiais, tomando conhecimento da polêmica que abate a classe produtora brasileira, a respeito da possibilidade da instalação de uma fábrica de cápsulas de cafés finos, a ser implantada pela Nestlé, no país, vem manifestar a Vossa Excelência o seu apoio ao pleito da multinacional, pois veem, esta fábrica, como uma oportunidade de alavancar a produção e a comercialização de cafés especiais brasileiros.”

 

Discordância

O apoio pela instalação na fábrica da Nestlè não é unânime entre os cafeicultores. O engenheiro agrônomo e cafeicultor de Guaxupé (MG), Armando Matielli, em entrevista ao site Notícias Agrícolas disse que “a proposta é um verdadeiro ab surdo perante a situação atual que atravessa o setor produtivo. 

 

Cocapec busca reconhecimento do café da Alta Mogiana

Maurício Miarelli (foto), coordenador do Conselho Nacional do Café (CNC) e presidente da Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas (Cocapec),  o primeiro palestrante do encontro de cafeicultores, falando o ET sobre a importância do evento, destaca o potencial da região.

 

“Isso aqui é muito rico, é uma das regiões importantes pela qualidade do café  que produz, e um encontro desses visa esse aprimoramento, sempre pensando no consumidor. Nosso grande desafio é fazer o consumidor chegar á cafeteria e pedir um café da Alta Mogiana, aí estaremos atingindo o máximo da cafeicultura mundial. Enquanto isso não acontece, todas as iniciativas como este encontro  vão ajudando na consolidação do processo, que visa oferecer ao mundo um café de consistência na  qualidade”, destaca e elogia a iniciativa da Nestlè e dos cafeicultores em apoiar a instalação  da multinacional, que poderá vir para Montes Claros, norte de Minas, bem próximo do pólo cafeicultor da Alta Mogiana. “O produtor não pode se isolar. O café precisa passar por toda a cadeia até chegar ao consumidor”, destacou Miarelli.

 

Apoio do Sebrae para o café da Alta Mogiana

Iroara Arantes, do Sebrae Regional de Franca, falando ao ET sobre o apoio do Sebrae para os cafeicultores,  explica que o café  é uma das cadeias prioritárias dos negócios do Sebrae. 

“- Temos o café como o segundo produto mais exportado da região e com a maior quantidade de propriedades rurais que tem o café como atividade principal. E, hoje, a nossa contribuição maior é gerar um mercado melhor para esse café, por isso  todos os participantes deste  encontro  receberam um guia, um mapa de gestão das propriedades e da cultura; inovações e tecnologias através de parcerias”.

 

Após o leilão, Iroara coordenou entre os cafeicultores, o I Encontro de Relacionamento e Negócio. “Esse enontro tem o objetivo de aproximar os elos da cadeia produtiva, compradores e produtores, para que se conheçam e tenham o poder de comercialização”, explicou.

 

Carlos Brando apoia fábrica da Nestlè

O palestrante Carlos Brando (foto) falou aos cafeicultores sobre o preço futuro do café. “Qual será o preço do café amanhã, em dezembro e em janeiro? Como será o mercado no mundo, sem esquecer o consumidor, que é a parte mais importante da nossa cadeia”. Focou os países que estão crescendo com essa cultura e, também outros assuntos como, a interferência da seca na produção brasileira e o que os produtores podem esperar de 2014 e  2015. Como isso poderá influenciar os preços e as tendências  desses preços e, finalmente, destacou as oportunidades que esse café da Mogiana Paulista e Mineira e os cafés especiais têm no mercado.

Questionado pelo ET sobre sua posição em relação à instalação da fábrica da Nestlè, Brando confirmou que é favorável à vinda da Nestlè para a região com investimentos em embalagens de cafés especiais em cápsulas. “Sempre fui favorável ao livre mercado, sempre fui contra restrições, porque os países só se atrasam com as restrições e se queremos que o mercado de cápsulas cresça no Brasil, a Nestlè  é que vai fazê-lo crescer. É uma visão míope  acharmos que  10, 20 ou 30 empresas pequenas  vão fazer o mercado crescer, pelo contrario, elas vão ser beneficiárias do projeto da Nestlè”. 

 

De acordo com Carlos Brando, a fábrica da multinacional em Minas vai ajudar o produtor. “Vamos colocar mais cafés  nas cápsulas. Eles são líderes de mercado e poderemos ter um crescimento a médio e curto prazo, porque vão trazer qualidades que não são produzidas no Brasil e,  esse é um sonho antigo nosso. A Nestlè pretende tomar medidas para melhorar seu relacionamento com a cadeia produtiva nacional. Eles propõem investimento em pesquisas na nossa cafeicultura e, aos poucos, trocar os cafés estrangeiros dos blends, por nacionais”, afirmou.

 

Cafeicultor contra instalação, diz que fábrica prejudica produtores do país

Com esse título, o cafeicultor de Guaxupé, Armando Matielli (foto), em carta ao sítio Notícias Agrícolas, disse que é um absurdo a vinda dessa fábrica da Nestlè para o Brasil. Veja abaixo algumas das justificativas apresentadas pelo cafeicultor.

“Primeiro, os cafeicultores são radicalmente contra a importação de café para atender o Drawback, literalmente, 'arrastar de volta', que se traduz como uma operação pela qual o contribuinte se compromete a importar a mercadoria assumindo o compromisso de exportá-la após o beneficiamento. 

O Brasil é o detentor do desenvolvimento das melhores variedades de café, inclusive, cultivados em outros países. Possuímos mais de 200 tipos / espécies de café para atender a todas as necessidades para compor o proposto. Como o maior produtor mundial de café, temos ainda a possibilidade de ampliar a nossa produção em quantidade e qualidade dado a diversidade climática, edafoecológica e, microclimas especiais encontrados nesse Brasil, que é um verdadeiro continente. 

A abertura da importação trará sérios prejuízos ao setor produtivo e a nação, beneficiando tão somente os grandes Traders e Multinacionais que já nos exploram durante séculos.

Agregar valor, poderemos e devemos implementar  utilizando a nossa própria produção. Na necessidade de produzir algo totalmente diferenciado, temos todas as condições técnicas para tal. Para pontuarmos uma política coerente, com nossas necessidades precisamos passar por diversos pontos no encalço de melhorarmos a política cafeeira que encontra-se banalizada e sem nenhum direcionamento, como por exemplo:

Necessidade de rotulagem - Todos os produtos alimentícios são rotulados, inclusive, a água. O café passa por um desleixo proposital colocando acima da segurança alimentar a ganância financeira e, a nossa indústria no encalço de lucros, tem omitido a rotulagem especificando os componentes, principalmente, no que se refere a porcentagem de café arábica e robusta. O consumidor tem o direito de escolher e conhecer o que está ingerindo. 

Preço mínimo - A política de preço mínimo é estabelecida como lei pelo estatuto da terra onde é definido nos artigos 73 e 85, do referido estatuto, Lei nº 4504 de 30 de novembro de 1964,  que estão em plena vigência. O Preço Mínimo tem que passar por crivos de entidades renomadas na cafeicultura como a UFLA, USP/FEALQ ou outra entidade de credibilidade. 

Após a determinação do custo de produção embutindo todos os aspectos, deverá ser acrescido uma margem de 30% ao produtor rural / cafeicultor. Tal lei, não tem sido respeitada, deixando os cafeicultores a mercê de um comércio sanguinário e o setor governamental tem sido omisso e leniente, deixando a critério do comércio internacional e nacional aproveitarem dessa irresponsabilidade com a classe produtora.

Importação - Na necessidade da importação de café, se necessário, pela baixa produção brasileira, decorrente a severíssima seca que estamos atravessando, deverá ser realizada dentro dos preceitos do preço mínimo acima descrito e, corrigido mensalmente pelos índices convencionais de correção.

Controle fitossanitário - Por lei, é proibido a importação de qualquer matéria prima oriunda do setor agropecuário, sem passar por um rigoroso controle fitosanitário, para não colocar em risco a produção nacional decorrente a contaminação de agentes fitopatológicos e pragas. 

Aspecto Social e Ambiental - O Brasil produz café dentro dos processos socioambientais de alto rigor perante nossos concorrentes, em geral, que utilizam mão de obra escrava e sub-escrava desrespeitando as convenções da OIT. No Aspecto ambiental, atualmente, somos extremamente criteriosos e existem leis , normas e a própria formação cultural de nossos agricultores, voltados a preservação do meio ambiente. Portanto, NÃO poderemos importar café de países que não cumprem com os critérios socioambientais.

6 – ZPE (Zonas de Processamento de Exportação) - Para eventual implantação do Drawback, faz-se necessário a designação clara e límpida da Zona de processamento de exportação. Importar café sem o mínimo critério dentro desse aspecto será um suicídio para a cafeicultura nacional. O profissionalismo, a normatização e a legalização através de leis rigorosas, deverão ser implantados e praticados.

A Nestlé ou outra empresa que se propõe a agregar valor ao nosso café será muito bem vinda, mas, utilizando os nossos cafés e, caso queira algo totalmente diferenciado, seremos capazes de produzir. 


Uma multinacional não tem corpo nem alma. A Alma é o dinheiro e os lucros exorbitantes. Uma fábrica com investimento de 180 milhões de dólares é ínfima perto do Agronegócio Café no Brasil. Uma fábrica dessas será totalmente tecnificada utilizando o mínimo de mão de obra (talvez algumas dezenas), em detrimento ao grande desemprego dos trabalhadores rurais e, a ruína dos cafeicultores, pois, não existirá uma lei única para a Nestlè e, sim, abrirão o mercado para centenas de outras empresas do ramo e, adeus à cafeicultura nacional. Não podemos abrir uma exceção, pois, seguindo o dito popular “POR ONDE PASSA UM BOI, PASSA UMA BOIADA”.

 

Dentro dessa exposição e argumentação, esperamos dos nossos governantes uma responsabilidade e discernimento, impedindo tal.