Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Final da entrevista: O Polaco da Praça de Esportes

Edição nº 1397 - 17 Janeiro 2014

ET - Nosso STC... quem te viu, quem te vê, heim??!!

Polaco - Ali na Praça tivemos anos gloriosos, com grandes eventos. Os Jogos de Inverno, as competições de natação, os torneios de bochas, truco, e o mais esperado deles, todos os anos, o Campeonato dos Veteranos, reunindo equipes de Sacramento, Conquista,Jaguara e até Rifaina... Um torneio que durou 23 anos. Além de muitas outras promoções, como amistosos com ex-jogadores profissionais, grandes times de outras cidades, tínhamos a Escolinha de Futebol dos 5 aos 18 anos e um quadro de sócios com quase 500 associados. A praça era um espaço esportivo ativo, hoje só fazemos rachas. Não ligo nenhum refletor, porque energia tem custo, o dinheiro dos poucos sócios é para manter o campo, a piscina e a sauna.  


ET - Quando começou a crise?

Polaco – Essas praças de esporte pertenciam ao patrimônio do Estado e recebiam até determinadas verbas para sua manutenção e muito material esportivo doado pela Secretaria de Esportes, além de ter um quadro de sócios muito bom, cuja mensalidade, do sócio família, em torno de 5% do salário mínimo, mantinha e ainda sobrava para algumas reformas e ampliações. Em 2006 ou 2007, o Estado decidiu entregar todas essas praças de esporte para as prefeituras. No governo do então prefeito Joaquim, ele falou que os sócios não precisariam mais pagar a mensalidade. Dos quase 500 sócios sobraram 100 que ainda pagam.   


ET - Qual a realidade da Praça de Esportes hoje?

Polaco - De completo abandono. Hoje, estamos brigando na justiça pelo patrimônio. O prefeito Joaquim achava que era só assumir e pronto. Não é bem assim. Muito daquele patrimônio ali construído, como a iluminação das quadras e do campo, o salão de festas, a sauna, a cozinha, foi tudo construído pelos sócios. A escritura diz que o terreno é da prefeitura, mas a maioria do patrimônio édos sócios. Temos sócios que contribuem com o clube há mais de 50 anos. E os seus direitos? Na praça hoje não temos nem telefone, a manutenção é feita graças a alguns apoios que temos, como hoje, ganhei duas lâmpadas. 


ET - Outra grande paixão de sua vida foi o carnaval... Quando você começou a coordenar o carnaval de rua?

Polaco - Também no governo do Dídia. Não apenas o de rua, mas também o carnaval do Marquezinho. Eu sempre me dei por inteiro no carnaval e nunca recebi uma hora extra. Oficializado pelo ex-prefeito José Alberto, em 1971, o carnaval de rua veio melhorando a cada ano e, aos poucos, acontecendo as mudanças, mas sempre coordenado pela Prefeitura, o que acho errado também. Assim como deveria existir a Liga de Esportes, deveria também existir a Liga Independente das Escolas de Samba de Sacramento. A prefeitura entregaria a verba à Liga e esta distribuiria às escolas, mediante o cumprimento de um estatuto ou regulamento votado por todas. Além do que, ao longo do ano a Liga promoveria eventos com essa finalidade.


ET - E por que não criam a Liga?

Polaco - Ah, muito simples porque aí as escolas terão que trabalhar, mas a maioria só fica esperando a verba da prefeitura. Isso já está na hora de mudar...  


ET - Nem tudo foram flores na sua vida, a perda do filho Thiago, por exemplo, foi a maior delas. Quer falar sobre isso?

Polaco - O meu filho Thiago morreu na rua da Praça de Esportes, no cruzamento ali da avenida do Borá, indo para o Seminário, em 1991. Ele estava na garupa da moto com um amigo, o Véio. Eles estavam errados, Thiago na garupa com as mãos soltas, ao bater no Opala de Maurício Bonatti, voou e caiu no jardim da pracinha Paulo Araújo. Eu estava na praça e vi quando eles passaram... Só que,por tudo que é mais sagrado, eu sabia que alguma coisa iria acontecer. Umanoite, eu morava no fundo da casa da minha sogra, escutei uma voz dizendo que eu iria perder o Thiago,  sentei na cama assustado. Saí, encontrei com o Toninho do Açougue e falei: 'Hoje não é meu dia'. Havia alguma coisaestranha. Vi quando ele passou na moto,tive uma sensação ruim e logo houve o acidente... Mas coloco nas mãos de Deus, não adianta revoltar com a vida, com ninguém... Acredito que é o destino das pessoas. 

 

ET - Também seu pai havia morrido de acidente...

Polaco – Sim, o mesmo aconteceu com meu pai, em 1983. Tio Dedé bateu com o afilhado dele perto de Ponte Alta. Veja como são as coisas, no carro estavamo tio Dedé,  a tia Léia, a Bel grávida da Miléia e o Murilo. Eles iam pra fazenda do Dr.Homilon, irmão do tio Dedé,  pra matar um porco. O Flávio do Sussu vinhade Brasília e parou pra dormir embaixo do viaduto na entrada de Uberaba. A polícia o acordou e mandou sair de lá. Ele saiue bateu com tio Dedé, logo depois das sete da manhã. Tio Dedé morreu na hora, papai viveu mais dez dias, os outros tiveram ferimentos leves... São lições que a vida nos dá... Como espírita, entendo essas coisas.

 

ET – Você é um espírita meio católico, né... Grande devoto dos Santos Reis, de Na. Sra. da Cabeça, pra onde faz romaria todo ano, não abre mão da celebração no Encontro Regional dos Santos Reis... Como começou a sua participação nos encontros?

Polaco - Não tem nada a ver, o fato de eu ser espírita, Deus é um só e tudo que fala de Deus, de amor, é bom, ruins somos nós. A ideia dos encontros de Folias de Reis começou depois de uma apresentação que vi na TV Manchete, um programa com Toninho e Marieta. Eu nunca havia me interessado por isso, mas achei muito bonito. À noite, fui dormir pensando naquilo, parecia que eles estavam cantando pra mim. Nooutro dia,   encontrei o  Zé Nicolau  e o convidei: 'Vamos fazer um encontro de folias de reis?'. Ele topou na hora e descemos pra falar com o prefeito Dídia. Ele apoiou também a ideia e juntamos mais alguns, o Walter Fonseca, o Jota Ribeiro que era da Casa de Oração e trabalhava na rádio, ele fez a locução, com todo o apoio do Pe. ......................................, que deu a bênção, ainda não era missa, na Casa da Cultura.

 

ET - Um Encontro de Folias de Reis ecumênico...

Polaco - Como eu disse, Deus é um só. Tinha católico, protestante e espírita... (risos) Naquele ano, reunimos as seis folias de Sacramento: Abenides Mariano, Tonho Bizorro, Topete, Os Gangorras, Wilson De Fáveri e José do Carmo. Foi um sucesso e tudo no peito, sem nenhum documento, estatuto, nada... E assim foi durante seis anos.  Um dia vi o Jair Ferreira entre o público assistindo, foi quando o convidei para integrar o grupo. Ele aceitou e deu a ideia de criar a Associação das Folias de Reis de Sacramento, conforme havia visto em um encontro regional na cidade de Campos Altos. Aí foi organizar a papelada. O Luiz Rodrigues fez o Estatuto,botamos todos os capitães de folias como diretores e registramos. Em 1990, iniciamos com o I Encontro Regional, no Marquezinho, que virou sucesso todo ano. Já tivemos encontro com a participação de 67 companhias. 


ET - Em um desses encontros vocês passaram o maior aperto, quando serviram uma comida preparada em tachos de cobre. Lembra?

Polaco – Claro. As folias se apresentavam no Marquezinho, mas o almoço era na Escola Maria Crema, onde hoje é a Prefeitura. Foi muito constrangedor aquilo pra todos nós, os organizadores.  Sem saber do problema, o Jair preparou o almoço pro pessoal em grandes tachos de cobre. Muita gente passou mal. A promotora, Drª Vera Cottini, nos chamou no fórum e nos passou um sermão daqueles. Felizmente, não houve maiores consequências, a situação ficou esclarecida e tudo foi resolvido.  Depois mudamos para o Parque de Exposições, um localaberto, com uma estrutura melhor para acolher o público local e visitantes. (A comida preparada em tachos de cobre foi proibida desde 2077, pela RDC nº 20, de22 de março de 2007, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa – grifo nosso). 

 

ET - Em nossas entrevistas, a gente cutuca o entrevistado... Mas respeitamos também se ele não quiser responder. Então, a perguntinha que não quer calar. Piadista, contador de 'causos', mas de 'estopim curto'. Você abre o verbo quando fica nervoso... esbravece, xinga... De repente, está numa boa... Explique esse temperamento.

Polaco - Sou assim, mesmo. Não aguento ver certas coisas, certas atitudes, mas não guardo mágoa de ninguém, descarrego ali na hora, falo o que tenho vontade e pronto. Guardar raiva pra quê?   A gente que lida com as pessoas tem que saber perdoar, entender, meu negócio é na hora e quando vi já desabafei, mas acabou, acabou. A gente tem que estar de bem com todo mundo...


ET - Então, nem Freud explica, né!!(risos) Como é o Polaco da Valéria, 40 anos de vida conjugal, filhos criados, avô... Qual o segredo de bem viver?

Polaco - O meu jeito de ser com as pessoas e em casa é o mesmo. Tenhomeus repentes, mas sou feliz com a família. Minhas filhas moram comigo, pais são para cuidar dos filhos sempre que precisar. E vou dizer uma coisa: a vida de casado se fosse só flores, tudo certinho seria muito ruim. Tem que ter as arrelias e depois fazer as pazes. Mente quem diz o contrário.. Arrelio com a mulher, osnetos, as filhas e a gente vai levando e é isso que faz a nossa convivência de 40 anos. Em 40 anos, nunca dormimos separados ou emburrados um com o outro.  Dia desses, Valéria e eu estávamos lembrando   de quando nos casamos. Não tínhamos nada, só uma cama. Fomosmorar com meu sogro, não deu certo, fomos pra casa dos meus pais, aí botei a cama no porão e dormíamos no sofá.  Depois aluguei uma casa no bairro de Lourdes e nos mudamos. Peguei uns caixotes no Scala fiz banco, prateleira... e aí fomos trabalhando e comprando as coisas. Valéria toda vida foi muito trabalhadeira, nós dois agarramos e a vida foi melhorando. Thiago não pegou essa época, mas as meninas já não passaram dificuldades... Graças a Deus, vivemos uma vida boa. Não somos ricos em bens materiais, mas milionários no bem viver, temos nossa casa e temos no que pegar. Trabalhamos muito para isso. Agradeço muito a Deus, a Seu Eurípedes, aos Três Reis Santos, todos os dias, pela esposa que tenho, pelos filhos, pela família e por tudo o que construímos. 


ET – Bate bola, rapidinho... 

O que te falta na vida? – Hoje, só saúde.

Sonho irrealizado? - Gostaria de ter sido presidente do XIII de Maio. Mas sou feliz do mesmo jeito. 

Uma grande desilusão? - A perda de meu filho, Thiago. 

Mesmo com este regime brabo, umacomida preferida? -Dobradinha. 

As noites e os jantares na praça? - Um encontro com os amigos todos os dias pra comer uma galinha com arroz, jogar conversa fora... 

Os 'disse-me-disse' da galera sobre o Polaco? - Entra num ouvido e sai no outro. Tenho consciência tranquila. No Esporte, na Praça, nos encontros de Folias de Reis, no Carnaval, posso ter errado, mas agi sempre com honestidade.

Uma personalidade? - Hoje, cito Mandela. Se os políticos fossem como Mandela o mundo seria bem melhor. No Brasil, Roberto Jefferson, pela coragem de denunciar o 'mensalão', mesmo sabendo que sobraria pra ele. 

Uma coisa que você detesta. - Politicalha. 

A Copa do Mundo. - Não acredito, e não estou nem um pouco animado...

Uma escola de samba? - Salgueiro. 

Alguém que você não queria que vivesse em Sacramento? - 'Vichi'!!!(risos).