Representantes de vários segmentos ambientais, públicos e filantrópicos de Sacramento, Conquista e Rifaina reuniram-se no clube do Parque Náutico de Jaguara para num seminário receber informações através de palestras, sobre a operação da hidrelétrica de Jaguara, serviços de meteorologia e climatologia, o projeto Peixe Vivo e os problemas causados pelo mexilhão dourado que vem invadindo o rio Grande. O encontro que iniciou pela manhã, encerrou com a visita à usina, às 15h.
De acordo com Marina Souza Duarte, do setor de Comunicação com a Comunidade, da Cemig, o plano integrado existe desde 2005, nas comunidades no entorno das usinas, que apresentam problemas com cheias ou secas intensas, além de outros problemas. “Nosso objetivo é passar para a comunidade como é o funcionamento do reservatório, da usina em si, mostrar os projetos ambientais desenvolvidos, além de esclarecer dúvidas relativas aos projetos, hoje especialmente, falando também sobre o mexilhão dourado”, disse.
Cemig tem previsão de quatro meses
Geraldo Paixão, técnico de planejamento energético, falando ao ET, disse que a meteorologia é uma das ferramentas que a Cemig usa para apoiar a operação dos reservatórios. “Esse é um evento muito importante, porque vem mostrar como a Cemig opera as usinas, mostrar as preocupações que a empresa tem e as ferramentas de que dispõe para tomar medidas em cada caso”, explicou.
Na sua palestra, Paixão frisou que a meteorologia é de extrema importância no planejamento da operação das usinas, em casos de tempestades ou chuvas prolongadas e fortes. “A chuva intensa na bacia hidrográfica, ou na região da usina, aumenta a quantidade de água, então é o serviço de meteorologia que vem nos ajudar no controle da operação de forma preventiva”, afirmou.
Segundo ainda o técnico, a Cemig tem condições de fazer uma previsão do tempo para sete dias. “Com uma antecedência de sete dias já temos os dados e essa previsão funciona sincronizada com a previsão dos principais institutos do país e, essas dados servem não só para a parte de operação como para a área de distribuição, equipes de campo e aí vem a vigilância e o alerta. Além disso, temos uma previsão climática de quatro meses o que permite saber como será o comportamento das águas nesse período e a partir disso, medidas preventivas são tomadas em todos os aspectos”, esclarecu.
Avaliando a eficácia do peixamento
A bióloga, analista de meio ambiente Fernanda de Oliveira Silva, abordou o programa Peixe Vivo,implantado pela Cemig desde 2007. “Esse programa nasceu devido a um acidente na usina Três Maria, no Rio São Francisco, quando morreram sete toneladas de peixes. O programa busca formas de reduzir esses acidentes com a ictiofauna. A partir de então diversas atividades estão sendo desenvolvidas como a contratação de biólogos e outras especialidades para acompanhar as usinas”, ressaltou.
Em Jaguara, a Cemig desenvolve o programa através de um estudo de avaliação da eficácia do peixamento. “A soltura de peixes nos lagos é feita há bastante tempo, mas não há dados ainda sobre a sua eficácia e agora vamos fazer essa avaliação. A usina-modelo, usina-sede é Jaguara, pelas características do reservatório, que favorece a recaptura dos peixes. Todos os peixes estão sendo identificados, além da análise física e genética, além de uma análise da migração dos peixes no completo Igarapava-Volta Grande e Jaguara, através da implantação de transmissores. Através deles estamos avaliando os hábitos, preferências e outros aspetos de cada espécie”, explicou.
Outra atividade desenvolvida pelo projeto coordenado por Fernanda é fazer o monitoramento periódico da ictiofauna do lago. “Avaliamos a diminuição e aumento dos peixes e das espécies, a distribuição, a espécie em cada reservatório e a espécie predominante”, concluiu.
Como entender a operação da usina
Marcelo de Deus Melo, Gerente de Planejamento Energético, falou sobre a política de operação dos reservatórios. “Isso é para que as pessoas tenham uma noção da demanda que existe num reservatório e compreendam melhor como ele é operado. A política de operação do reservatório envolve vários aspectos ou demandas, como chamamos: demanda de meio ambiente, demanda de abastecimento humanos, de geração de energia, de distribuição, além de outras. É importante que as pessoas tenham esse conhecimento, isso ajuda a compreender o dia a dia da operação e as medidas que são tomadas”, informou.
Mexilhão dourado é o grande vilão
Helen Regina Mota, bióloga e analista de meio ambiente, falando sobre o mexilhão dourado, afirmou que o molusco já está nas águas do rio Grande. “A Cemig detectou, numa parada de máquinas em Volta Grande, a presença do mexilhão, felizmente uma infestação baixa na máquina , mas medidas já estão sendo tomadas”, disse, acrescentando que a partir da próxima semana vai iniciar uma expedição para detectar a sua presença a montante da usina de Volta Grande, isto é na direção de Jaguara.
subindo o rio Grande “não temos informações ainda do mexilhão a montante de Volta Segundo a biólogo, o mexilhão não migra sozinho, ele precisa de ajuda de embarcações, migração de peixes e até de aves, ele pode estar nas usinas a montante de Volta Grande”, disse mais, ressaltando que não há como combater o mexilhão. “É uma espécie exótica aquática é de difícil controle, como é o caso do tucunaré nos reservatórios, que tem um único benefício, incrementar o turismo. Agora, o mexilhão não traz nenhum benefício econômico, muito pelo contrário. Ele afeta não só as usinas e populações ribeirinhas como a beleza paisagística, porque ele incrusta em tudo que tem contato com água bruta e reproduz cada vez mais. Nos três primeiros anos, o pico reprodutivo dele será enorme até ele conseguir estabelecer e até alguns peixes adotá-lo na sua alimentação”, afirmou, informando que o controle do mexilhão não existe. “Não podemos introduzir uma nova espécie para tentar o controle dele, porque as conseqüências poderão ser drásticas”.
O mexilhão-dourado é um pequeno molusco bivalve (possui duas conchas) originário da China, que chegou à América do Sul nas águas de lastro dos navios mercantes, invadiu a bacia Paraná-Paraguai e põe em risco os usos múltiplos dos recursos hídricos. Esse pequeno molusco se fixa em qualquer substrato duro, tem hábito gregário e se reproduz rapidamente. A ausência de predadores e parasitas que controlem sua população faz com que se alastre pelas bacias hidrográficas brasileiras e hoje está presente até no Pantanal.
Nas usinas hidrelétricas, o acúmulo de mexilhões pode afundar equipamentos flutuantes, prejudicar a operação de equipamentos submersos e obstruir tubulações. Os sistemas de refrigeração das turbinas ficam sujeitos a entupimentos. Quando isso ocorre a geração é interrompida.
Para os usuários dos recursos hídricos, o mexilhão poderá provocar uma série de problemas: invasão de tubulações de abastecimento de água, de drenagem pluvial e de captação para a agricultura irrigada; obstrução de sistemas de resfriamento de indústrias; perda de estruturas flutuantes destinadas ao lazer por excesso de peso; prejuízo do funcionamento de motores dos barcos; perda de tanques-rede, etc.