Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Sacramento comemora os 50 anos de fundação do Seminário do Santíssimo Redentor e os 60 anos de vida sacerdotal do sacramentano, Pe. Antonio Borges de Souza

Edição nº 1178 - 06 Novembro 2009

Sacramento comemora neste sábado, 7, os 50 anos de fundação do Seminário do Santíssimo Redentor (06/01/1959) e os 60 anos de vida sacerdotal do sacramentano, Pe. Antonio Borges de Souza, ordenado em Tietê (SP), no dia 28/12/1947 e, no dia 03/01/48, celebrou em Sacramento sua primeira missa. Mas a história da Congregação do Santíssimo Redentor, não começou há apenas 50 anos. 

 

Pe. Victor Coelho

Antanho, exatamente em 1911, padre Vitor Coelho de Almeida (12/09/1899- 21/07/1987), vai para o Colégio Redentorista de Santo Afonso, em Aparecida e, após professar os votos na Congregação Redentorista foi ordenado sacerdote em Gars An Inn (Alemanha) a 5 de agosto de 1923.

Retornando ao Brasil em setembro de 1924, inicia sua peregrinação pelo Brasil, tornando-se o principal divulgador da Mãe Aparecida, aparecida nas águas do rio Paraíba em 1717. Mais tarde, revelou-se como um dos maiores comunicadores das emissoras brasileiras, ficando conhecido como ‘O grande arauto da Rádio Aparecida'. 

Em 1938, padre Victor, durante visita a Sacramento, leva para Aparecida cinco meninos: Antônio Borges de Souza, Luiz Paixão Flores, Antônio Teixeira, Sérgio Scalon e Jorge Cordeiro. O primeiro deles, Antônio, foi ordenado sacerdote, tornando-se conhecido na Congregação como 'Pe. Borginho'. Se através de padre Victor Sacramento ingressara na vida redentorista, com Pe. Antônio, esse compromisso estava confirmado. 

Muitos outros jovens, alguns por vontade própria, outros pela vontade da família, enveredaram pelos caminhos afonsianos, mas apenas Pe. Luiz Carlos de Oliveira e Eugênio Bizinoto mantiveram-se firmes. Nem por isso o carinho redentorista por Sacramento é menor. E, muitos filhos de Santo Afonso por aqui passaram, padres e irmãos com paróquia e sem paróquia.

 

Papel de Dom Alexandre

Mas a presença redentorista em Sacramento, verdadeiramente se firma graças ao desejo do  arcebispo de Uberaba, dom Alexandre Gonçalves Amaral que, em 1946, na Holanda, pediu ao Provincial Geral da Congregação do Santíssimo Redentor a fundação de uma casa redentorista em sua diocese.

O pedido foi renovado, quatro anos mais tarde em Roma (1950) e obteve então o assentimento da Congregação. Várias cidades com excelentes ofertas entraram na mira de dom Alexandre e dos redentoristas: Uberaba, Uberlândia, Araguari, Monte Alegre, Prata, Tupaciguara e Ituiutaba. A decisão da Congregação foi tomada e a cidade escolhida foi Araguari, ficando até mesmo marcada a entrada oficial naquela cidade, para o dia 2 de agosto de 1958. 

 

Trabalho de Mons. Saul e Pe. Antônio

Filho da terra, Pe. Antonio sabia que Sacramento era um bom lugar para abrigar um seminário-menor e é aí que entra o seu dedinho, ou melhor a mão inteira, pois ele orientou o então vigário da época, Pe. Saul Amaral a oferecer também a cidade de Sacramento. 

“ - Dom Alexandre queria uma casa missionária na sua diocese, que na época abrangia todo o Triângulo Mineiro. Ele abriu as portas da diocese para criar essa casa missionária. (...) Um dia, eu estive aqui e o Pe. Saul me mostrou um jornal, dizendo que os redentoristas iriam para Araguari. Pe Saul me disse: 'Se eu soubesse que os redentoristas viriam pra cá, eu os teria convidado pra vir para Sacramento. Aqui é o lugar deles, é a terra de padre Vitor'”, conta Pe. Antônio.

Prosseguindo, afirma a Pe. Saul que não estava tarde. “Orientei-o a organizar uma comissão e fazer o pedido. E começamos com muita oração. Dona Jandira Cordeiro, desencadeou uma campanha de terço, movimentava a criançada e todo mundo pra rezar. Um dia os redentoristas vieram, gostaram e como o Cônego Saul era muito ligado a Dom Alexandre, conseguiu a mudança dos redentoristas de Araguari pra cá. Padre Saul era um grande padre, trabalhou e apoiou muito para a construção dessa casa, que hoje está com os franciscanos”, afirmou. 

Mais que depressa, Pe. Saul encabeça um abaixo-assinado, que com a anuência de dom Alexandre chegou às mãos do provincial redentorista, padre José Ribola. Em princípio, padre Ribola não deu muita atenção, embora tenha deixado uma leve esperança. 

Enquanto isso Araguari se preparava para a entrada triunfal da Congregação no mês de agosto, mas alguns obstáculos surgiram e a entrada foi adiada para o dia 1º de janeiro de 1959. 


Redentoristas visitam cidade

E esta espera foram meses providenciais, pois um belo dia, meio despercebidos, padre Ribola e padre Alexandre Morais vêm a Sacramento. Os pés da Congregação pisaram a cidade exatamente no dia 20 de agosto de 1958, ano em que o Brasil sagrara-se campeão da Copa do Mundo, no dia 9 de julho. E foi amor à primeira vista. 

Tão logo a população tomou conhecimento da visita foi uma polvorosa. E tudo agradou aos superiores afonsianos: o clima, a altitude, a localização geográfica, a água, a exuberante natureza, a sua gente. Pe. Saul, mais que depressa tratou de agilizar a parte burocrática, que felizmente não era tão complicada como o é hoje. Foram falar com dom Alexandre, exatamente no dia 21 de agosto de 1958. Dom Alexandre com a sua grande sabedoria deu total apoio.

“Emocionou-se com a decisão da Congregação”, registra o cronista, que traduz mais as palavras do arcebispo: “Estou muito alegre com a visita dos senhores padres. Coloco mais uma vez a diocese a disposição dos senhores. Fico muito feliz pela escolha. E aceito a fundação como quiserem, com paróquia, sem paróquia ou dividida. Colocamo-nos aos seus cuidados reverendíssimos padres”, acolheu. 

E ali mesmo ficou decidida a fundação do pré-seminário. Os filhos de Santo Afonso fincariam suas raízes em solo sacramentano.  

Pe. Saul estava exultante não via a hora de voltar a Sacramento para dar a boa nova. Embora as distâncias não fossem tão curtas como hoje, afinal eram os fins dos anos 50, naquele mesmo dia retornam a Sacramento.

 

Sacramento, capital Redentorista do Triângulo

À noite em missa campal no largo da Matriz, na presença de autoridades e todo o povo, o provincial, Pe. Ribola, expõe a decisão da Congregação de fundar aqui o pré-seminário e ali proclama: “Sacramento, capital redentorista do Triângulo”. 

A cidade estava em festa! Naquele mesmo dia Pe. Saul toma a iniciativa de criar a comissão pró-seminário do Santíssimo Redentor. Muitos nomes se ofereceram e a comissão ficou assim constituída: Ângelo Bonatti, Mário Afonso Borges, Ângelo Vicentini, Dozolina Lenza Rezende, Guiomar Afonso Borges e Iralva Afonso de Almeida, irmã de Pe. Antônio e esposa do então prefeito, José Sebastião de Almeida. Várias subcomissões foram criadas para a construção daquela que seria a mais imponente obra da cidade até então. 

 

Início do pré-seminário

Antes, porém do início da construção da casa redentorista, instala-se o pré-seminário, na casa onde é atualmente a casa do Menor Rosa da Matta, cujo nome registra uma homenagem àquela que, embora tenha cobrado inicialmente CR$ 3 mil (cruzeiros) de aluguel, o desprendimento a fez entregar a casa à paróquia. 

O Seminário do Santíssimo Redentor, iniciou as suas atividades em 06/01/1959, com a freqüência de 15 alunos, cinco deles sacramentanos: Olavo Caramori Borges, Hércio Afonso de Almeida, Wanderley Martins Borges, Ivo Januário da Costa e Luiz Carlos de Oliveira, o único da turma ordenado sacerdote. Os demais pré-seminaristas eram das cidades vizinhas, Conquista, Uberaba, etc. 

Na casa cedida por Dona Rosa da Matta, moravam também o superior, Pe. Antonio e Pe. João Pereira Gomes. Os serviços ficavam a cargo do cozinheiro, 'Pirigoso' e sua mulher. O casal tinha uma filhinha, o xodó da casa. Sobre ela diz padre Luiz Carlos: “Ela era vítima dos nossos aleluias”, ou seja, pegavam-na no colo e jogavam para cima e 'aleluia!'

Os redentoristas, aqui, representados pelos padres Antonio e João Gomes, ganharam de Pe. Saul, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, para exercerem o apostolado. A respeito, registrou Pe. Antonio na época: “Às 19 horas várias pessoas, previamente convida­das, reuniram-se na igreja do Rosário, considerada nossa, para a reza do terço, ladainha e pequena pregação, confor­me o espírito de nossa Regra. Ficou avisado que semelhante reza e pregação se farão todos os sábados em louvor a Nos­sa Senhora”.

 

Início da grande obra

Padre Antônio assumira a direção do pré-seminário, mas obra maior viria para as suas mãos. É ele que entra em cena na construção do seminário e não mediu esforços. Ganhou 30 mil metros quadrados de terreno, do empresário Leônidas Afonso Primo e sua esposa, Da. Glória. 

Realizou festas e mais festas, uma delas muito famosa: a da coração do rei e rainha dos tijolinhos. E a disputa era grande. O hoje Prof. João Bosco Martins, Peroba se viu coroado inúmeras vezes, mas uma vez deixou a coroa para o pequeno Cacildo Manzan, além de outros. A coroa de rainha era disputadíssima por entre as meninas da sociedade. Mas, muita gente contribuiu, independente de coroa, a criançada disputava quem vendia mais tijolinhos para as obras. 

Com toda a humildade que sempre lhe norteou a vida, Pe. Antônio soube convencer as pessoas a colaborarem. Rodolfo Rezende, hoje oblato redentorista, que chegara à cidade há pouco, perdeu a conta de quantos caminhões de cascalho levou para a obra. 

A terraplenagem foi feita a troco de óleo, com um trator cedido pelo José Afonso Borges, o Zé do Pandó, outros tratores vieram depois cedidos pelos Bizinotos, enfim, cada um contribuía como podia, não só para a construção da casa, como para a manutenção do pré-seminário.  

A obra e o seminário estavam abertos à população. Muita criança do Rosário, naquela época, levou boas chineladas por brincar na rampa de terra do seminário, quando os operário findavam as lides. 

Elza Nicodemos, Zulena Ferreira, Eulices Gobbo e Maria Antonia Borges de Souza professoras da então Escola Normal, foram cedidas como voluntárias para ministrar aulas no seminário. “Da. Aracy fez uma troca, cedeu as professora pra lá e o padre Marcos Mozer ia dar aula no então Ginásio da Escola Normal de Sacramento. “Eu dava aula de caligrafia”, recorda Maria Antonia. Depois vieram outros professores e profissionais da comunidade, até os últimos dias de funcionamento do seminário, em dezembro de 1998. 

Entre 1959 a 1964, Pe.Antonio esteve na direção do pré-seminário. A partir de então fica incumbido apenas das obras do seminário, obra benemérita do Pe. Borges, que não deixou de apelar também para políticos mineiros, dos quais ganhou todos os vitrais.

Padre Antônio, nesses 60 anos, não deixou um dia sequer de ser sacerdote  construtor de almas. Paralelamente, continuava com o seu trabalho pastoral, catequizando, pre­gando e celebrando nos bairros. Nunca o dinheiro, de que tanto necessitava, se antepôs ao bem do povo missionado. 

 

Pedra Fundamental 

 

Em 14 de maio de 1960, Nossa Senhora Aparecida chega para o lançamento da pedra fundamental. A missa foi celebrada no canteiro de obras. 

“E durante anos, Sacramento se viu voltada às obras do Seminário do Santíssimo Redentor. Bastava olhar para o alto da colina, na direção norte do bairro do Rosário, que lá se via um gigante despertando. Foram anos de muito trabalho, anos de muito amor para esse missionário, Antonio Borges de Souza”, escreve em peça que conta a história da congregação, outro oblato redentorista, o Prof. Walmor Júlio da Silva, que também ali lecionou desde os anos 70. 

Em fins de 1967, escreve Pe. Antônio em suas crônicas: "O novo prédio caminha altaneiro para o termo de seu acabamento. Foram realizados importantes serviços como o revestimento externo, quase que completo, boa parte do piso. Não fosse o tamanho respeitável da área de construção, o exagerado custo do material necessário, o preço ca­ro da mão-de-obra, já estaríamos bem mais adiantados. 0 que pagávamos para 12 operários no fim do ano passado, estamos pagando para oito este ano! Contudo, o balancete final acusa uma receita de Cr$ 28.772.235,00 com um débito pago de Cr$ 23.865.000,00. Do total arrecadado figuram apenas Cr$ 2.630.000,00 vindos da Alemanha, através do Instituto Adveniat. 0 restante en­contrarmos no coração generoso do povo, abençoado pela Divina Providência”. 

 

Inauguração 

do novo prédio 

 

E, finalmente, após oito anos, Sacramento prepara-se para a festa da inauguração do Pre-Seminario do Santíssimo Redentor, no dia 23 de fevereiro de 1969.  Houve um tríduo de pregações e missa nos dias que antecederam a data.

 Como na solenidade do lançamento da pedra fundamental, também na inauguração, Pe. Antonio Borges desejou a presença da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, que foi conduzida em solene procissão da igreja do Rosário ate o prédio do Seminário, onde o Superior Provincial, Pe. Jose Ribolla, concelebra a eucaristia com mais 12 pa­dres. A pregação do evangelho fica a cargo de Dom Alexandre Gonçalves Amaral. 

Como no dia 21 de agosto de 1958, para o anúncio da decisão da Congregação por Sacramento, também nessa solenidade de inauguração, todo o povo reunido, líderes comunitários, autoridades do município e região, vêem após as cerimônias litúrgicas, as portas do Seminário abertas para acolher o grande público que desejava conhecê-lo. No dia 10 de março, os seminaristas iniciaram o ano letivo em novo prédio do Seminário. 

 

CSSR assume paróquia

 

Três anos após a inauguração do Seminário, a Congregação assume a Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento (06/06/1971), tomando posse nesse dia o primeiro vigário redentorista na cidade, o recém ordenado, Pe. Gil Barreto Ribeiro (1969/1975). Sucederam-no Pe. Júlio Negrizzolo (1970/1979), o idealizador da Rádio Sacramento; Pe. José Marques Dias, (1978/1981) Pe. Luiz Rogério Carrilho, (1980/1985), que comprou para a Paróquia a Rádio Sacramento; Pe. José Augusto Costa, (1985/1988), Pe. Vicente de Paulo Andrade, (1988/1990) e, finalmente, Pe. José Inácio de Medeiros (1990/1996), que devolveu a Paróquia aos padres diocesanos. 

De janeiro de 1959, com os pioneiros padres Antônio e João Gomes, passaram por Sacramento cerca de 50 padres redentoristas, 15 irmãos e 9 diáconos. 

Além de padre Antonio, primeiro diretor do Seminários, sucederam-no na direção os padres Arthur Bonotti (falecido), Nazareth Magalhães, Alberto Pasquoto, Antonio Carlos Vanin Barreiro, Dionísio de Foltran Zamuner, Elias Guimarães, Agenor Mathias Pessoa (falecido), Antônio Mauricio Brandolize, José Luiz Majella Delgado, Edvaldo Manoel Araujo, Hélcio Vicente Testa, e finalmente, José Milton Goulart.

 

Educandário

 do Santíssimo Redentor

 

O seminário encerrou suas atividades na cidade em 1998, até que a casa passou para a Fraternidade São Francisco de Assis na Providência Divina, que mantém na cidade uma obra social, o Educandário do Santíssimo Redentor, assistindo atualmente 160 menores, com manutenção econômica da Congregação do Santíssimo Redentor e subvenção anual da Prefeitura. 

 

 

 

 

 

(Fontes: Arquivo Província de São Paulo, Província de Goiás, A Matriz da Vila de Amir Salomão Jacob, Jornal ´O Estado do Triângulo, edição 1.082, de 6/1/08 e outras)